Rio Grande do Sul

Coluna

Que o mundo não nos seja indiferente

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Paulo Kageyama também afirmava que devemos fortalecer (e aprender com) as relações e conexões naturais - Foto: MST
Queremos uma cidade, um estado, um país e um planeta mais humanos, mais respeitosos

Este é um texto a várias mãos, sob responsabilidade compartilhada com Renato Barcelos e deste colunista.

Nesta semana em que perdemos o Zé da Terreira, ocorreu na Feira do Livro de Porto Alegre uma atividade que nos trouxe sua presença. Atividade esta que nos fez lembrar a participação daquela pessoa cativante em reuniões iniciais do Coletivo A Cidade que Queremos (CCQQ), lá por meados de 2016. Naquela ocasião o Zé queria ajudar na expansão de hortas comunitárias, e estava com ideia de instalação de uma ação de natureza prática/demonstrativa, na Casa do Artista, onde ele morava.  

Ele comentava a respeito da necessidade de aproveitarmos as hortas, a luta em defesa dos coletores recicladores e carroceiros, do teatro de rua, entre outras relacionadas às necessidades e oportunidades emergentes, para exercer esforços de aglutinação e, a partir disso, criar espaços de conversa e ações de natureza crítica construtiva com vistas à cidade (e porque não, à vida/ao Mundo) que queremos.


Foto: Divulgação

Pois bem, acredito que aquela perspectiva, se somou a outras que deram existência, nesta semana, ao instituto Nhande Reko, em atividade que também homenageou outra figura irrequieta e cativante, o professor Paulo Kageyama. Kageyama também sustentava que devemos fortalecer (e aprender com) as relações e conexões naturais para conter movimentos de degradação da vida em todas suas dimensões.

Para isso, ele afirmava, precisamos criar coletivos e por isso, teve participação decisiva na criação do Movimento Ciência Cidadã na Jornada Universitária da Reforma Agrária – JURA e do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (NACE-PTECA), que produziu (e lançou durante a atividade a que nos referimos) o livro Paulo Kageyama – Cientista do Povo e da Floresta (na foto abaixo sendo entregue ao presidente da CTNBio, em reunião plenária daquela comissão onde Kageyama vivenciou tantos debates).


Leandro Astarita, presidente da CTNBIo recebe livro sobre a vida de Paulo Kageyama. Nove de novembro de 2023, 266ª Reunião Ordinária da CTNBio / Foto: Arquivo Pessoal

Pois bem, dar continuidade àquele espírito, aqueles exemplos de dignidade e àquelas iniciativas é o compromisso assumido pelo Instituto Nhande Reko. 

Conscientes de que na modernidade avançam mecanismos de homogeneização degradadora de todos os territórios (na ciência, na arte, na cultura, na espiritualidade e nos meios de comunicação de massa), um grupo de pessoas inicialmente ligadas ao CCQQ, e em fase de expansão, lançou no dia 9 de novembro de 2023 o Instituto Nhande Reko

Esta expressão (Nhande Reko), na língua Guarani “nosso modo de ser/estar”, transborda aqui de seu sentido literal para (re)significar, compromisso de enfrentamento ao colapso ecológico humanitário relacionado ao “nosso modo de ser/estar na Natureza”.

Trata-se de enfrentar mecanismo alienador e construir argumentos para sustentar debates em todas as instâncias, em defesa de valores essenciais à vida, à ética na ciência, com respeito a todas as espiritualidades e suas expressões no mundo físico.

Para tanto, todos estarão convocados a participar, de forma associada às iniciativas em que atuam, para a construção do futuro que queremos. E queremos uma cidade, um estado, um país e um planeta mais humanos, mais respeitosos e mais afeitos aos direitos de todas as espécies e coletividades, com suas culturas e modos de vida. 

Para finalizar, e também como exemplo de iniciativa associada à pessoas tão diversas e ao mesmo tempo tão siamesas, como Zé e Paulo Kageyama, recomendamos todo apoio ao Cine Bancários e ao Cine Capitólio, que em seus espaços de atuação vêm desenvolvendo esforço quase solitário, neste mesmo sentido.

A este respeito, veja a entrevista com a curadora do CineBancários, Bia Barcellos, no Programa Arte, Ciência e Ética em um Brasil de Fato.

 

E para não esquecermos jamais nossa humanidade, deixo a música de Leon Gieco.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Katia Marko