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"A desigualdade econômica e social, historicamente presente no Brasil, aumentou drasticamente nos últimos anos" - Divulgação/MBRAS
A elite brasileira, eternamente escravocrata, continua não tendo vergonha na cara

Algumas manchetes e notícias do final de 2023 não mentem.

Manchete do jornal Valor Econômico no Caderno EU& em 10.11.23: “Luxo em cima de luxo. Imóveis – Incorporadoras de São Paulo e Rio lançam empreendimentos de alto padrão com apartamentos de até R$ 29 milhões – e compradores não faltam, entre eles agentes do mercado financeiro e um bom número de estrangeiros” (Daniel Salles, para o Valor, de São Paulo).

Diz a matéria: “Com duas torres, uma delas com 35 andares e a outra com 16, um empreendimento imobiliário em construção no Itaim, em São Paulo, está roubando a cena apesar dos dois anos e meio de obra pela frente. O motivo é o preço do metro quadrado dos apartamentos de 250 ou 500 metros quadrados: ultrapassa os R$ 57 mil, o que faz com que as unidades mais caras custem perto de R$ 29 milhões. ´Restam poucos apartamentos à venda`, diz o sócio-fundador da Idea!Zarvos, a incorporadora responsável pelo empreendimento.

Os preços do lançamento no Itaim espelham a espantosa valorização do bairro. Que se explicam pelos laços inquebrantáveis do topo da pirâmide social paulistana com algumas regiões da cidade. “A turma que paga mais de R$ 45 mil pelo metro quadrado se restringe ao Itaim, à Vila Nova Conceição e aos Jardins. Esse público não se dispõe a mudar nem para o Alto Pinheiros. A maioria dos compradores é do mercado financeiro e 80% fecharam negócio para morar e não para investir”, diz o incorporador.

Enquanto isso acontece, o Brasil voltou ao Mapa da Fome, de onde tinha saído em 2014. E as famílias moradoras de favelas e periferias alimentam-se através de políticas públicas que, felizmente, retornaram, como o Bolsa Família. E comem via a solidariedade de pessoas, comunidades, ONGs, movimentos sociais e populares, Pastorais, que organizaram os Comitês Populares contra a Fome, os Sopões, as Cozinhas Solidárias e Comunitárias.

A desigualdade econômica e social, historicamente presente no Brasil, aumentou drasticamente nos últimos anos, à luz da falta ou extinção de políticas públicas, da ganância e insensibilidade social dos poucos super-ricos.

No Rio Grande do Sul explodem manchetes como essa, para indignação geral: “Juízes do Rio Grande do Sul voltarão a receber adicionais por tempo de serviço e terão direito a pagamento retroativo. Retorno dos quinquênios foi aprovado por unanimidade em sessão do Tribunal de Justiça nesta segunda-feira, 13 de novembro. Aumento automático de 5% a cada 5 anos de trabalho.”

Outra manchete e notícia absurda do Poder Judiciário: “Conselho Nacional aprova folga para juízes federais que acumulam funções extraordinárias a cada 3 dias, e que têm férias anuais de 60 dias” (Resolução nº 847, de 07.11.2023, retroativo a 03.10.2023). Os valores envolvidos são altos, altíssimos, quase astronômicos.   

A manchete do Caderno Imóveis de Valor, do jornal Valor Econômico, de 27.10.2023, é: “Cinco tendências do mercado para 2024. Parcerias com marcas de luxo, edifícios mais altos, localizações exclusivas, residenciais abertos para a cidade e um jeito de morar mais moderno. O que vem por aí no segmento de alto padrão. O ano ainda não acabou, mas o mercado imobiliário de alto padrão já sabe para onde apontar seus próximos lançamentos a partir de 2024. Pelo menos cinco macrotendências consolidaram-se nos últimos 12 meses, servindo de bússola para orientar estratégias e o desenvolvimento de novos produtos.”

As cinco tendências, segundo a matéria: 1. A localização única do terreno continua sendo fundamental. Mas já não basta apenas posicionar empreendimento em um bairro desejado: é preciso estar na melhor rua e no quarteirão mais cobiçado. 2. A configuração do terreno também importa. A companhia tem priorizado adquirir áreas em esquinas, por exemplo. 3. Outra tendência é a altura cada vez mais elevada dos projetos. Viver acima dos 100 metros de altura virou objeto de desejo do paulistano de alta renda. 4. Outro fator é a maneira mais amigável com a qual eles se relacionarão com o entorno, o que significa ter menos muros e grades separando o prédio da rua e mais áreas comuns e lojas no térreo abertas ao público em geral. 5. Por fim, a experiência de morar no alto padrão também deverá se tornar mais acessível à medida que o modelo ‘multifamily’- apartamentos para locação por temporada, repletos de serviços e comodidades – ganha adeptos em São Paulo.

Diz a CEO da JFL Living: “Cada vez mais as pessoas buscarão morar melhor e de maneira mais flexível e prática, seja porque preferem não investir na aquisição de um imóvel ou não querem se preocupar com nada no dia a dia, o que dispensa a necessidade de decorar ambientes, arrumar a casa e pensar no que vão comer no café da manhã.”

A elite brasileira, eternamente escravocrata, continua não tendo vergonha na cara. A fome ao redor, a pobreza e a miséria aumentando muito nos últimos anos, a absurda e histórica desigualdade: a elite não olha ao redor, não tem um pingo de solidariedade, cuidado com a Casa Comum e com uma sociedade do Bem Viver.

Só a mobilização da sociedade, de baixo para cima, com a reconstrução de políticas públicas com participação social e popular, como sempre aconteceu na história brasileira, a realização de Conferências como a de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em dezembro, a de Saúde, que já aconteceu, a do SUAS, Sistema Único de Assistência Social, a de Saúde Mental, entre muitas outras, a luta por direitos, democracia e soberania haverão de salvar o Brasil e a grande maioria de brasileiras e brasileiras que não podem comprar casas e apartamentos de R$ 29 milhões ou mais.

Na boa luta, ESPERANÇAR.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Katia Marko