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Tamo vivo!

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"A esperança vive e revive na construção da sociedade do Bem Viver, no cuidado com a Casa Comum, unindo mãos, almas, corpos e corações" - Foto: divulgação
São tempos de coragem: coragem de fazer, coragem de agir, de fazer do hoje o amanhã sem dor

Estamos em dezembro, último mês do difícil 2023. Muitas e muitos não podem dizer tamo vivo. Quantas crianças foram assassinadas nas guerras absurdas pelo mundo e nas periferias das grandes cidades do Brasil? Quantas e quantos jovens, especialmente negras e negros, sofreram violência, quando não foram brutalmente assassinadas-os nas ruas das comunidades pobres? Quantas mulheres foram vítimas de feminicídios? Quantas e quantos não sobreviveram às tempestades, aos ciclones, às enchentes nos últimos meses, antes nunca vistas, fruto das mudanças climáticas que, principalmente, matam pobres? Quantas lideranças camponesas continuam sendo vitimadas? Quantas e quantos indígenas são assassinadas-os? Quantas e quantos quilombolas, além de perseguidas-os, sofrem a violência secular dos poderosos do latifúndio e das elites escravocratas? Quantas e quantos da população LGBTQIA+ são perseguidas-os por preconceito, ou até mortas-os? Quantas pessoas com deficiência são desrespeitadas-os, ou sofrem violência?

Como enfrentar e preparar 2024 neste contexto e realidade? Estamos todas e todos muito cansadas, cansados, exaustas, exaustos, esperando o final de 2023, torcendo pelo amanhecer de 2024, e um novo tempo, ´um outro mundo possível´, cada vez mais urgente e necessário.

É preciso estar atento e forte, diz a canção. Mais que nunca, é preciso estar cada vez mais atento e forte. É preciso resistir. E fortalecer o diálogo, a paz, a resistência, a vida em comunidade, a solidariedade, a amorosidade, a esperança. Com muita coragem e fé.

O diálogo está bloqueado como nunca se viu antes, mesmo em tempos de ditadura: até mesmo nas famílias, nas comunidades, entre países. É hora de conversar, apesar das diferenças, das visões divergentes de mundo, das ideologias que não se compreendem ou respeitam. Ouvir, respeitar a outra, o outro, superar o ódio, a intolerância é fundamental neste momento histórico.

A paz é, antes de tudo, fruto do diálogo e de algum nível de compreensão e respeito. Sem diálogo, sem a palavra dita e aceita, sem o olhar aberto com algum grau de confiança, não há paz possível. Sem paz, só há violência e morte, sem futuro.

A resistência ajuda e torna visível e cotidiana a possibilidade da paz. É resistência nas ruas, resistência no coração, resistência de mãos dadas e luta comum: preparar o amanhã, dizer e proclamar que ninguém solta a mão de ninguém, fazendo acontecer os Comitês Populares de Luta, os Núcleos de Vivência, Estudo e Luta, dizendo e gritando, com toda força e unidade, que uma Nova Primavera pode e está acontecendo.

É tempo de recuperar e fortalecer a vida em comunidade, repartindo os bens e a Boa Nova, visitando vizinhas e vizinhos, encontrando-se em suas casas nos Grupos de Família, para conversar sobre a realidade e a vida, construindo as Comunidades de Base, as Associações de Bairro e de Moradores, abraçando juntos, unidos, as boas e melhores causas.

A solidariedade fez-se presente nos Sopões Comunitários dos Comitês Populares contra a Fome e a Sede, nas Cozinhas Solidárias e Comunitárias nos últimos anos. A solidariedade precisa estar ainda mais presente, cada uma e cada um dando e distribuindo um pouco do que tem, tomando café, almoçando e jantando juntos, na mesa comum. Assim, mata-se a fome de pão e, ao mesmo tempo, sacia-se a sede de beleza.

A amorosidade é o gesto de quem reparte o que tem, a amorosidade de quem se abraça e faz a troca irmã de dignidade e direitos, de quem reparte as dores e as alegrias, de quem atua junto, abraçado, de quem age com amor, de quem luta com firmeza, de quem torna a caridade sonho, de quem constrói amorosamente a utopia.

São tempos de coragem: coragem de fazer, coragem de agir, uma coragem que, coletiva e solidariamente, faz do hoje o amanhã sem dor, sem sofrimento, sem mortes, sem calamidades, sem destruição da natureza e do meio ambiente, agroecologicamente.

A esperança vive e revive na construção da sociedade do Bem Viver, no cuidado com a Casa Comum, unindo mãos, almas, corpos e corações.

A fé liga, une espíritos em oração, aproxima pessoas e comunidades em prece, almas em uma única alma, revigora pensamentos e compromissos, denuncia mentiras, desigualdades e injustiças, conscientiza e profetiza. E anuncia um novo tempo, uma nova História, um novo sonho e utopia, freireanamente.

TAMO VIVO!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Katia Marko