O pequeno município de Hulha Negra, na região da Campanha, amanheceu agitado nesta segunda-feira (4). Cerca de 400 agricultores, entre assentados da reforma agrária e pequenos produtores rurais, realizaram uma ação de protesto junto à prefeitura municipal. A pauta de reivindicações voltava-se prioritariamente às más condições de trafegabilidade que as estradas rurais se encontram, especialmente depois das recentes chuvas que, segundo os participantes do protesto, estavam intrafegáveis.
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Maquinários agrícolas como tratores e caminhões também foram utilizados no ato. Na parte da manhã houve momentos de tensão, mobilização de tropa de choque da Brigada Militar e dificuldade em ser efetivada negociação com a prefeitura.
À tarde, com os ânimos serenados, a conversa entre a comissão dos agricultores e a prefeitura municipal foi realizada, com o poder Executivo cedendo a parte das reivindicações da comissão. Por volta das 15h, em assembleia, os participantes do protesto deliberaram pela desmobilização do ato. O município, em contrapartida, designou maquinário para já acompanhar de imediato os agricultores e iniciar ações de melhorias nas estradas, bem como garantir a destinação de 300 cargas de cascalho para melhorias nas vias.
Assentado que participou da negociação junto à prefeitura, Marino Antônio de Bortoli explicou auinda que foi deliberado um acordo entre os municípios de Hulha Negra e Aceguá para melhorias nas estradas próximas à divisa entre os municípios. Foi ainda retirada uma comissão conjunta, com representantes dos agricultores e da prefeitura, que vão pleitear junto ao governador Eduardo Leite (PSDB), ações emergenciais junto aos assentamentos constituídos pelo estado, que configuram cerca de 60% do território da reforma agrária em Hulha Negra.
“Foi uma conquista do povo organizado, essa foi uma manifestação auto-convocada, com forte e rápida adesão tanto dos assentados e assentadas, quanto dos demais agricultores e agricultoras”, explicou.
Hulha Negra conta com cerca de 1.420 km de estradas rurais. Recentemente o município estave no centro de outra polêmica no que tange a infraestrutura viária. Vias rurais do município estavam sendo utilizadas para desviar transito pesado enquanto a BR 293 estava interditada, causando danos severos às vias. As recentes chuvas registradas e a dificuldade de ações de manutenção nas demais vias agravou ainda mais a situação, levando à manifestação do grupo de assentados e demais produtores.
Contraponto da Prefeitura Municipal
A reportagem do Brasil de Fato conversou com o prefeito Renato Machado (Progressistas) que afirmou compreender a reivindicação dos assentados e pequenos agricultores: "A manifestação foi justa e o movimento é assim, nossas estradas não estão boas, o inverno foi chuvoso, nosso terreno é ruim para estradas mas muito bom pra produzir alimentos".
Lembrou ainda os transtornos causados pelo desvio da Br 293 que atravessou por dentro do município por 44 dias, citando um fluxo de trânsito que chegou a atingir mais de 500 caminhões e carretas bitrem com até 80 mil quilos por dia atravessando o território, bem como cerca de1200 veículos leves por dia. "Isso nos deixou sem poder atender nossas estradas". Os danos ao parque de máquinas, segundo Machado, foram severos, não apenas pela questão da dificuldade da conservação das estradas, mas pela constante necessidade de socorrer carretas e bitrens que ficavam comprometidas nas estradas.
"Chegou safra agrícola, os insumos, (a produção de) leite, as aulas, a saude, ficou muito complicado", enumerou o prefeito. "De tudo isso minha reclamação é que o movimento bateu na porta errada, porque a caminhada tem que ser no governo do Estado e Federal", explicou, afirmando que "Faz 10 anos que não chega no município de Hulha Negra nem um centavo de recurso Estadual e Federal para estradas".
"Mas tenho respeito pelo nossos produtores e sei sacrifícios que é produzir. Vou fazer todo esforço pra atender esse povo do campo. Eles me enxergam como oposição eu enxergo eles como produtores. No final nós acertamos!", finalizou o prefeito de Hulha Negra.
(Texto atualizado pelo autor, em 06/12/23, as 06h30)
Edição: Marcelo Ferreira