Rio Grande do Sul

CINEMA

Premiação do Festival da Fronteira destaca regionalidades e potências do mercado

A 14ª edição do evento encerrou-se na madrugada de segunda-feira (4) em Bagé (RS)

Brasil de Fato | Bagé |
Alessandro Engroff (Mercado Sur Frontera), homenageada Carla Esmeralda e diretor Zeca Brito (E) com equipe de “As anfitriãs” - Foto: Isidoro Guggiana

Foram cinco dias intensos de imersão na sétima arte, vendo muitos filmes e participando de muitos debates sobre o cinema e seu papel. Movimentando a comunidade cultural de Bagé e com muitos convidados do Brasil, Argentina e Uruguai, o 14° Festival Internacional de Cinema da Fronteira encerrou-se na madrugada de segunda-feira (4), com a cerimônia de premiação.

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Entre os anúncios dos vencedores de diversas categorias, o show com canções expressando o tema da edição, “Profundo Brasil Profundo”, foi conduzido pela cantora porto-alegrense Rita Zart (também tutora dos pitchings do evento) e pela musicista baiana Lulu da Sanfona (jurada da Mostra Regional de Curtas), acompanhadas por músicos locais. A apresentação contou ainda com o diretor artístico Zeca Brito e Giana Cunha, além de Martina Una e Alana Portella nos vídeos produzidos pelos estudantes de Jornalismo da Urcamp, orientados pelo professor Glauber Pereira.

As exibições gratuitas dos filmes ocorreram no Cine7 e no Centro Histórico Vila de Santa Thereza, que também sediou as atividades paralelas como homenagens e atrações musicais. Pela primeira vez com financiamento via LIC/RS, o festival teve patrocínio master da Claro, que anunciou a manutenção do apoio para 2024.

Natural de Rosário do Sul (RS), Leona Cavalli veio à Rainha da Fronteira para ser reconhecida pela carreira de atriz e receber o troféu São Sebastião, na véspera do encerramento do evento. Ela fez uma fala muito interessante sobre o valor da cultura: “Tenho aprendido que a arte é a troca de diversidades, e essa troca é que gera a força, a beleza e a criatividade”.

A inspiradora Carla Esmeralda, cocriadora do RioContentMarket (hoje Rio2C), maior mercado de conteúdo audiovisual da América Latina, outra homenageada da edição, marcou suas mãos para a Calçada da Fama de Bagé e subiu ao palco na cerimônia de encerramento. Presença em vários dias do evento, ela já havia dado show na Casa de Cultura Pedro Wayne de Bagé no meio da semana, em um bate-papo com realizadores. Os realizadores selecionados para os pitchings do festival eram só elogios à sua generosidade para com seus projetos e ao seu exemplo de trajetória no setor.

As tônicas desta edição

Os grandes destaques da Mostra Competitiva de Longas-metragens foram "El Cine Ha Muerto" (Argentina/Peru), de Juan Benitez Allassia, que conquistou melhor filme e direção de arte; e "Baracoa" (Cuba/Suíça/EUA), de Pablo Briones, que levou os prêmios de direção e fotografia. Inevitavelmente relacionado a “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, por remontar a uma época áurea do cinema e resgatar uma história familiar e pessoal, o belo, nostálgico e contemplativo título de Allassia trabalha os lugares de memória com uma perspectiva interessante da poética visual. O diretor argentino comentou, no debate após a exibição, que algumas de suas referências vêm das leituras do autor brasileiro Arlindo Machado.

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O Prêmio do Júri da Crítica (com três mulheres jornalistas representantes da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul) elegeu uma produção com uma equipe igualmente protagonizada por mulheres: “Céu Aberto”, de Elisa Pessoa, por "trazer à tona um Brasil Profundo, a partir do tempo peculiar da região da Campanha, e por retratar uma personagem feminina, em uma certa fase da vida, que busca o seu próprio horizonte”.

Na competição de curtas, os vencedores das categorias principais foram produções brasileiras dirigidas por mulheres: "Dependências", de Luisa Arraes (RJ), melhor filme, e o gaúcho "NAU”, de Renata de Lélis, agraciado com melhor direção. O curta "Um Tempo para Mim”, de São Miguel das Missões (RS), foi o vencedor da Mostra Regional, na qual somou melhor filme, direção (para Paola Mallmann) e montagem (para Tyrell Spencer). 


De montador pra montador: Lufe Bollini com Tyrell Spencer e a filha Alice, estrela da edição / Foto: Isidoro Guggiana

O futuro do evento e do cinema gaúcho

Os júris foram coesos e enfáticos em relatar a dificuldade de decidir as produções mais exitosas em suas categorias, dada a qualidade das obras selecionadas, em termos de temáticas e linguagens.

Também foram distribuídos prêmios para a inédita Mostra de Animação e para projetos inacabados ou em desenvolvimento do II Mercado Sur Frontera WIP LAB - laboratório voltado a filmes em produção que recebeu 90 inscrições e selecionou 10 potências para receber as mentorias e concorrer às láureas.

Já premiada na Mostra Internacional de Curtas, Renata de Lélis subiu ainda mais duas vezes ao palco com a roteirista venezuelana Maria Elena Morán (de “Levante”) e o fotógrafo e produtor Edu Rabin (de “Raia 4”): para receber o Prêmio Destaque do Pitching e ainda um ano de consultoria da Esmeralda Produções (da homenageada do Sur Frontera) para “As Anfitriãs”. As distinções ao projeto de longa impulsionam a carreira da atriz de Porto Alegre na direção audiovisual, que até então tinha lançado dois curtas, e criam grandes expectativas para os seus próximos passos atrás das câmeras.

Outro que também trabalhou bastante durante a noite foi Tyrell Spencer. Igualmente agraciado no laboratório, mas em Work In Progress, com "O Maior Espetáculo da Pampa" (projeto em parceria com Clarissa Virmond), o montador representou o curta “Um Tempo para Mim”, de Paola Mallmann (diretora reconhecida por trabalhar com temáticas indígenas), e subiu, ao todo, quatro vezes no palco. Com ele, a graciosa Alice (filha do casal produtor do longa sobre o Carnaval de Uruguaiana), que sempre rouba a cena em todos os eventos de cinema.

Para a 15° edição, o papel de astro deverá ser do menino Frederico, filho da apresentadora Martina, que agora tem apenas 3 meses e no ano passado estava na barriga. Este é o espírito do Festival Internacional de Cinema da Fronteira: integrar todos os convidados em uma grande família local que é apaixonada por arte e cultura.

Porém, para esse futuro ser ainda mais belo, as autoridades locais precisam prezar por uma melhor conservação da Vila de Santa Thereza, pensando na preservação deste patrimônio tão importante para a região e sua história. Um projeto de restauração da casa ao lado do cinema, que abriga a organização e os participantes do festival, é urgente. O espaço sofreu muito com a chuva e demanda uma estrutura mais adequada para a realização dos eventos, que a Associação que gere o local heroicamente insiste em produzir.

O festival realizado em Bagé já cresceu muito e chama bastante atenção dos realizadores de todo o país e dos vizinhos mais próximos. Como Gramado optou por não exibir mais longas estrangeiros, a Rainha da Fronteira tem tudo para tomar essa referência do intercâmbio latino-americano da sétima arte não somente no estado, mas no país.


Elisa Pessoa, realizadora de “Céu aberto”, entre as representantes do Júri da Crítica, Adriana Androvandi e Carol Zatt / Foto: Isidoro Guggiana

Confira a lista geral de premiados do XIV Festival da Fronteira:

Mostra de Longas-metragens

Melhor Filme: "El Cine Ha Muerto" (Argentina/Peru), de Juan Benitez Allassia

Melhor Direção: "Baracoa" (Cuba/Suíça/EUA), de Pablo Briones

Melhor Atuação: Carlos Francisco por "Estranho Caminho" (CE), de Guto Parente

Melhor Fotografia: "Baracoa" (Cuba/Suíça/EUA)

Melhor Montagem:  para Lufe Bollini, por "Anhangabaú" (SP)

Melhor Roteiro: para a argentina Paula Markovitch, por "El Actor Principal” (México)

Melhor Direção de Arte: "El Cine Ha Muerto" (Peru/Argentina)

Prêmio Especial do Júri: "Rumo" (DF, SP), de Bruno Victor e Marcos Azevedo

Prêmio do Júri Popular: "El Filo de Las Tijeras" (Argentina), de David Marcial Valverdi

Prêmio da Crítica: "Céu Aberto" (RS), de Elisa Pessoa

Menção Honrosa: narração de Agustin Urrutia em “El Nadador” (Uruguai), de Gabriela Guillermo

Mostra Internacional de Curtas-metragens

Melhor Filme: "Dependências", de Luisa Arraes (Brasil/RJ)

Melhor Direção: "NAU” (Brasil/RS), de Renata de Lélis

Melhor Atuação: Sydney Kuhne, por "Adore”, de Beth Warrian (Canadá)

Menção Honrosa: "Messi” (Brasil/RS e Argentina), de Henrique Lahude e Camila Acosta

Júri Popular: "O Tempo" (Brasil/RS), de Ellen Corrêa

Mostra Regional

Melhor Filme: "Um Tempo para Mim” (São Miguel das Missões), de Paola Mallmann

Melhor Direção: "Um Tempo para Mim"

Melhor Atuação: Paula Souza por "Florêncio Guerra e seu Cavalo" (Porto Alegre)

Melhor Fotografia: "Para Joana" (Porto Alegre)

Melhor Montagem: "Um Tempo Para Mim"

Melhor Roteiro: "Apagados da História" (Pinheiro Machado/Candiota)

Melhor Direção de Arte: "Baseado em Fatos" (Pelotas)

Júri Popular: "Apagados da História"

Mostra de Animação

Melhor Animação: "Ana Morphose" (Portugal), de João Rodrigues

II Mercado Sur Frontera WIP LAB

Júri Pitching

Categoria Work In Progress (WIP): "O Maior Espetáculo da Pampa", de Tyrell Spencer e Clarissa Virmond

Prêmio Destaque - Categoria Desenvolvimento: "As Anfitriãs" (RS), de Maria Elena Morán, Renata de Lélis e Edu Rabin

Prêmio Destaque pelos Tutores

Categoria Work in Progress (WIP): "Memória de Elefante" (MS), de Severino Neto

Categoria Desenvolvimento: "Como Você fez para me Amar Tanto?” (Uruguai), de Gabriela Guillermo

Prêmio Projeto Convidado para o Mercado Cinema Negro em Ação: "Caribe, qual é o seu sonho?" (RS), de Ellen Corrêa

Prêmio de Um Ano de Consultoria da Esmeralda Produções: "As Anfitriãs"

Prêmio Residência Artística Pousada da Graça - Festival de Troncoso: "Caribe, qual é o seu sonho?”


Edição: Katia Marko