Rio Grande do Sul

Coluna

Uma coisa que está dentro do peito

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"Precisamos fazer por merecer um país onde cada um possa ser o que é" - Juliana Chalita/Greenpeace Brasil
Precisamos e podemos fazer acontecer o projeto de recuperação nacional, agroecológico e humanista

Terminando 2023, finalmente.

E olhando direito, depois de tanta dor, não tenho dúvidas de que este foi um ano de vitórias. Nada para relaxar, ok, mas com elementos de animação. Animação muito necessária porque é fácil a tentação de ignorar as dificuldades projetadas para 2024. E elas serão grandes, até porque o ano será decisivo para tudo que define esta sociedade em que vivemos.

Então, precisamos ser maiores e precisamos desnudar os desafios, mas sem nos assustarmos com eles.

Sabemos que o medo mente. Mais do que isso, o medo diminui a luz interior. O medo paralisa a mente e o medo cresce com as surpresas.

Portanto, nada de medo.

E também nada de relaxar e seguir em frente, de forma descuidada, esperando o que virá. Para mais e maiores vitórias, precisaremos de um projeto. E isso implica em mudanças reais, que nos transformem em atores que compartilhem a importância de coisas deste tipo nas menores ações da vida cotidiana.

Mais do que um projeto, orientado pelo governo, precisamos de um acordo em relação a um desenho de futuro comum. Algo para além de 4 anos, algo que nos una. Que nos organize. E  onde possamos colaborar fazendo o que sabemos e podemos fazer, naqueles espaços em que  existimos, ali onde sempre estaremos desafiados a construir o que mais interessa a cada pessoa, a cada par, a cada grupo. E, sem dúvida, precisamos que as instâncias de governo se comprometam com isso, que não cairá do céu.

Precisamos e podemos fazer acontecer aquele projeto de recuperação nacional, agroecológico e humanista, através do qual melhoraremos tanto os nossos cantinhos como o próprio mundo.

Numa imagem: Planos dentro de planos, em ampla aliança pela contenção de perdas e acumulação de avanços gradativos, rumo ao futuro que queremos.

Sem isso, qualquer tipo de objetivo sonhado para os tempos que virão, será apenas desejo, coisa ineficaz como aqueles projetos de mudar de vida a partir da loteria do Natal.

E se ficarmos nisso, no sonho, o pesadelo será real. O outro lado, aquele nos rouba, se fortalece com nossa apatia e não está aí para brincadeiras. Vimos isso na deposição da presidenta Dilma, nas demolições institucionais do Temer e nos desvarios bolsonaristas. Eles continuam atuando e alimentando tendências a crimes de todo quilate. Ecocídios, genocídios, contaminações de corpos, mentes, espíritos e almas. O plano deles, que era (e ainda é) dividir e destruir, foi e continua sendo implementado.

E também para eles, 2024 será um ano decisivo.

E esta é a reflexão desta semana: Lula acreditava que daria a volta por cima. E deu.

Conseguiu isso porque acreditava, tinha luz própria, e com isso atraiu e alimentou apoios.

Por isso, foi e é escutado, tanto aqui como nos principais palcos do mundo. Mas também precisa de ajuda. E aqui está algo que a história de Lula demonstra: as pessoas que acreditam em si, que possuem um projeto, fazem brotar uma força, que lhes vêm de dentro e que pode contagiar o mundo.

Esta força age como um sistema imunológico antifascista, atrai outras forças e está disponível para ser acessada por todos. É algo tão estranho que pode ser equiparado à ousadia daqueles passarinhos que entram pela janela das casas dos monstros, que são os humanos, para pegar o que lhes interessa. Eles mostram que a coragem não é mais do que a realização de um projeto de confiança em si. Não tem a ver com a força, mas sim com a luz interior, e com a certeza de que o impossível está aí para ser realizado.

E nós, cientes disso, precisamos fazer por merecer um país onde cada um possa ser o que é. Para isso precisamos derrotar os criminosos que pretendem estender no tempo e no espaço os crimes do racismo, da desigualdade, do descaso, e de tudo aquilo que foi criado para impedir que cada um de nós seja o que de fato pode vir a ser.

Eles querem esconder algo simples: quem pode ser o que é, será mais.

E este deve ser nosso grande projeto, a soma de todos os planos: derrotar quem pretende nos impedir de sermos humanos, de sermos iguais.

Vencer implica em não perder o rumo e sempre que possível, não recuar. Em 2024 vamos ou não vamos eleger vereadores/as e prefeitos/as comprometidos/as com isso? Vai depender de nossos planos e atitudes permitirem alianças que viabilizem este projeto.

Uma música que trate disso? Coração de estudante, Milton Nascimento.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Katia Marko