Rio Grande do Sul

SEM ABASTECIMENTO

Moradores afetados pelo desabastecimento de água reivindicam medidas efetivas em Porto Alegre

Na manhã desta sexta-feira (22), moradores realizaram um protesto em frente a sede da prefeitura da Capital

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Na manhã desta sexta-feira (22), há 15 dias sem ter o abastecimento de água normalizado, moradores dos bairros afetados realizaram um protesto em frente a sede da prefeitura de Porto Alegre - Foto: Jorge Leão

Há 15 dias sem ter o abastecimento de água normalizado, moradores dos bairros afetados realizaram um protesto em frente a sede da Prefeitura de Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (22). Apesar da situação aos poucos se normalizar, os habitantes dos 14 bairros atingidos reivindicam medidas efetivas para solucionar o problema que é crônico. A falta de água nas periferias de Porto Alegre é um problema recorrente, principalmente entre os meses de dezembro e janeiro.

:: O problema crônico da falta de água nas periferias de Porto Alegre ::

Nesta quarta-feira (20), a Prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) apresentaram uma série de medidas a curto e médio prazo para lidar com o desabastecimento de água na Capital. Além do aumento do número de caminhões-pipa para abastecer áreas como Lomba do Pinheiro, Morro da Cruz e Morro São José, a Prefeitura vai ainda pedir à CEEE Equatorial para instalar geradores em estações de tratamento relacionadas a áreas altas de Porto Alegre. 

Apesar do anúncio das medidas, o problema não foi totalmente solucionado. “O problema lá é que assim, faltou água 15 dias, aí depois veio a água, ontem tinha, mas hoje já não tem mais água”, comentou Jaci dos Santos, moradora do bairro Morro da Cruz. Segundo ela, é uma luta contínua, ano passado os moradores do bairro ficaram 60 dias sem uma gota d'água. 


"O prefeito diz que sem luz não tem água, mas não pode ser assim, nós queremos água e luz em nossas casas", reivindica Jaci dos Santos, moradora do bairro Morro da Cruz / Foto: Jorge Leão

“Estamos aqui na frente da Prefeitura de Porto Alegre, num ato em defesa à vida por água. A Lomba do Pinheiro está há mais de 15 dias sem água e o prefeito Melo não tomou providência sobre essa crise no Dmae”, comenta Lirian Karine Nachtigall, moradora da Lomba do Sabão, localizada entre os municípios de Porto Alegre e Viamão. 

Segundo ela, o prefeito Sebastião Melo foi até a comunidade e firmou o compromisso de que solucionaria o problema da falta de água. “Ele esteve na nossa comunidade pedindo nosso voto para se eleger prefeito desse município e lá teve um compromisso com a comunidade que não faltaria água. E novamente vamos passar o Natal e o Ano Novo sem água. Estamos aqui pela luta em defesa da vida, pela soberania e pela água”, comenta a Coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens.

A moradora ainda vê com restrições o plano da prefeitura de reativar a barragem na Lomba do Sabão. Segundo a Administração Pública, serão feitos estudos para instalar uma estação de tratamento de água (ETA) provisória na barragem Lomba do Sabão, na zona Leste. A barragem, construída para a captação e abastecimento de água da Capital, entrou em operação em 1954 e foi desativada em 2013. Atualmente, além do risco de rompimento, a barragem se transformou em um problema de saúde pública para os moradores do entorno.

O prefeito Sebastião Melo, também, aposta na conclusão da obra do novo Sistema de Abastecimento de Água Ponta do Arado, no bairro Belém Novo, como a solução definitiva para os problemas de falta de água, principalmente em bairros do Extremo Sul e da zona Leste de Porto Alegre. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o prefeito Sebastião Melo afirmou que a obra deveria ser concluída em 2024, mas a desistência do consórcio contratado para execução do sistema atrasou o serviço. 

Moradores sofrem com a falta de água e a falta de luz

Para César Augusto Silveira, presidente em exercício da Associação de Moradores do Jardim Marabá, este é o momento das comunidades, bairros e periferias se mobilizarem para pressionar o prefeito.

“É falta de água, é falta de luz. Eu moro nessa comunidade há 24 anos, agora está entrando a CEEE Equatorial, e a gente lutou muito para ter um endereço, e o endereço está sendo colocado como Cascata, a 6 km da nossa comunidade. Temos tentado audiência pública com o Dmae, temos tentado audiência pública com a CEEE Equatorial, e simplesmente eles nos ignoraram”, afirma César.

A comunidade que foi uma ocupação em 2000 sofre por não ter sua situação regularizada pela prefeitura, apesar da maioria dos mais de mil moradores terem os serviços de água e luz regularizados.

“Nós, na nossa gestão 2009-2012, conseguimos a água certa, mas a luz infelizmente não foi possível. E agora que está sendo possível, eles estão indo assim com total desrespeito. Eu tenho um pequeno comércio, já queimou duas geladeiras, eu reclamei pra eles, e eles, ah, isso aí é um bairro irregular, não tem como pagar, não tem como indenizar. Então, é só no lombo do pobre”, comenta o presidente da associação.

Já para Valdemar de Jesus da Silva, presidente da Federação Gaúcha Uniões de Associações de Moradores e Entidades Comunitárias (Fegamec), o que prejudica o abastecimento de luz e água é a falta de realização de obras estruturais por parte da gestão municipal.

“O movimento comunitário, ele não tem partido, mas tem lado. O lado dos trabalhadores, o lado dos direitos, o lado por melhorias, o lado por manter e ampliar os nossos direitos. E nós estamos aqui hoje nesse ato de extrema importância, pedindo por água e por energia, por luz, porque o prefeito Sebastião Melo, ele não faz as obras estruturais que precisa fazer na cidade”, afirma.

Medidas da prefeitura

Próximos passos - curto prazo:

- Pedido feito à CEEE Equatorial para que instale geradores em estações de tratamento que têm relação com as áreas altas da cidade. Motivo: tempo médio para a CEEE Equatorial resolver falta de energia nas estações de tratamento do Dmae subiu de 6 para 10 horas, segundo pesquisa recente feita por técnicos do departamento;

- Previsão para solicitar dupla alimentação de energia em estações onde for viável, em razão de frequentes oscilações no serviço da CEEE Equatorial;

- CEEE Equatorial será notificada formalmente para solucionar questões de falta e oscilação de energia em estações de tratamento. Texto também vai para MP, Agergs e Aneel;

- Manobras na rede seguirão ocorrendo, conforme a necessidade, especialmente durante a madrugada, para estabilizar níveis nos reservatórios que atendem áreas altas da cidade;

- Reuniões com comunidades atingidas têm ocorrido com a participação direta da própria direção do Dmae.

Médio prazo:

- Dmae dará início a estudos para instalar uma estação de tratamento provisória na barragem Lomba do Sabão, que poderá contribuir como solução temporária para as áreas altas da cidade, até que as obras mais complexas sejam concluídas.


Edição: Katia Marko