Rio Grande do Sul

Coluna

Macho Alfa: Um Chamado à Reflexão

Imagem de perfil do Colunistaesd
"Homens, precisamos urgentemente abrir mão da fantasia infantil onde nos sentíamos a 'vossa majestade, o bebê'" - Imagem: Reprodução da obra Melancolia, de Edvard Munch
Reconstruir o significado da palavra homem é um ato de liberdade para todos

Talvez este seja um texto um tanto desconfortável para você, "macho alfa". Sim, vou chamá-lo de macho alfa, claro, isso se você se identificar com coisas do tipo pensar que toda a revolução feminista é balela, que as "feminazis" exageram na luta por igualdade, que hoje em dia tudo é assédio e que uma simples piada machista não faria mal a ninguém. Também vou chamar de macho alfa aqueles que não reconhecem que um lar compartilhado não significa viver em um hotel e que, vergonhosamente, precisam ser lembrados de coisas óbvias como levar o lixo, aspirar a casa ou juntar seus pertences que ficam espalhadas como brinquedos de uma criança.

Nós, homens, precisamos nos desconstruir. Para além da orientação sexual, o comportamento masculino tóxico se repete em diferentes intensidades em cada existência daquele que usa o pronome ele/dele. Talvez o primeiro ponto interessante a ser esclarecido é que ser reconhecido como homem não implica em sentarmos num trono como um grande tirano que almeja ser servido. E muitas vezes repetimos esse comportamento de forma automatizada. Mas já passou da hora de nos darmos conta, né?!

Homens, precisamos urgentemente abrir mão da fantasia infantil onde nos sentíamos a "vossa majestade, o bebê". No início da vida, na melhor das hipóteses, todo ser humano foi servido, libidinizado, adorado e acreditou que o mundo girava em torno dele mesmo. Mas crescer é se deparar com a castração. As coisas dificilmente serão exatamente como queremos. Você é apenas mais um ser vivo perambulando pela Terra e sim, precisa fazer algo para ser amado. Infelizmente apenas existir não basta. E a estrutura patriarcal alimenta essa fantasia de onipotência. Parece que para nós, homens, é muito mais difícil abrir mão desse lugar imaginário. Basta ser homem que tudo será justificado, explicado e terá o signo de potência. Como se ainda fôssemos bebês. E muitos ainda são, por óbvio.

É importante ressaltar que esse signo de potência atribuído ao masculino é produto do discurso social. O famoso papel de gênero que o macho alfa situa como uma invenção das esquerdistas que querem deixar o mundo de cabeça para baixo. Mas eu entendo que não seja nada fácil conviver com mulheres empoderadas que não aceitam mais se submeter aos desígnios do masculino. E quando o feminismo surge para lutar pela igualdade, nós homens, surtamos. Ou você acredita mesmo que só sua ex que é "louca"?

Estamos no século XXI e precisamos atualizar o que é ser homem. Hoje, ser homem é escutar a repetição de atos agressivos que nos permeiam. Ser homem é desconstruir o mito antropológico de que mulheres recolhiam frutas no chão e os homens eram grandes e vitoriosos caçadores. Ser homem é abrir mão da possessão e objetificação do outro. Ser homem é parar de justificar a quebra de contratos de relação por causa do hormônio testosterona. Ser homem é também chorar quando está triste, é sentir insegurança, é se emocionar, é rebolar, é acariciar, é brochar, é desistir. Reconstruir o significado da palavra homem é um ato de liberdade para todos.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor e da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko