No início desta semana recebemos a notícia de meninas, vítimas de assédio sexual através da inteligência artificial, em escolas particulares de Porto Alegre. É preciso refletir sobre a relação existente entre as desigualdades de gênero que são estruturais na sociedade, a educação para a igualdade e as relações sociais mediadas pela tecnologia. Controle, poder e abuso são elementos que caracterizam comportamentos sexistas e machistas.
A nossa sociedade ainda não enfrentou suficientemente a sexualização e objetificação dos corpos femininos. Daí a resiliência de comportamentos sociais violentos e discriminatórios contra as mulheres e a frequente culpabilização da vítima pela agressão sofrida, seja pela roupa ou maquiagem que usa, por exemplo. Sobre a violência digital, por trás dessas ferramentas há humanos que projetam, na esfera digital, preconceitos e padrões históricos. Portanto, infelizmente as ferramentas de inteligência artificial também vão reproduzir visões estereotipadas de grupos sociais, como as mulheres.
Não se trata de demonizar as inovações, ao contrário, tais ferramentas podem ser bastante úteis, desde que submetidas a um processo amplo e profundo de educação digital. Por isso é preciso refletir sobre o grave prejuízo, para a sociedade como um todo, de posições fundamentalistas que inventaram o delírio da ideologia de gênero para combater a educação para a igualdade.
Precisamos educar nossos jovens para o uso das novas tecnologias. Mas como fazer isto sem enfrentar temas como machismo e misoginia, racismo e LGBT+fobia?
Enquanto o debate democrático e humanizado destes temas sofrerem resistência, enquanto a educação brasileira for alvo de ataques e intimidações que tentam criminalizar a educação para a igualdade, mais e mais casos de violência cibernética vamos presenciar. E os alvos prioritários continuarão sendo mulheres, negros e negras e a comunidade LGBTQIA+.
* Vereadora de Porto Alegre pelo PCdoB.
* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko