Rio Grande do Sul

FÉ E CULTURA POPULAR

Tradicional encenação da Paixão de Cristo do Morro da Cruz chega a sua 65ª edição em Porto Alegre

Evento nesta Sexta-feira Santa reúne atores profissionais e moradores da comunidade e faz um chamado pela paz no mundo

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Vereador de Porto Alegre Aldacir Oliboni (PT) interpreta Jesus Cristo Cristo há 43 anos na Via Sacra do Morro da Cruz - Foto: Jorge Leão

Um dos mais tradicionais eventos religiosos e culturais de Porto Alegre é a Paixão de Cristo do Morro da Cruz, que nesta Sexta-feira santa (29) chega à sua 65ª edição fazendo um chamado pela paz no mundo. A programação começa às 14h30 com missa no Santuário São José do Murialdo. A partir das 15h30, inicia a encenação em frente à igreja, que sai em procissão por mais de 1,5 quilômetros e encerra no alto do Morro da Cruz.

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Um grande elenco de artistas profissionais e cerca de 60 moradores do bairro vão participar da encenação neste ano como soldados romanos e habitantes da Palestina. Alunos do bairro Restinga participarão da encenação dos milagres de Cristo. A cena da ressurreição de Lázaro, que foi novidade na edição anterior, será mantida.

O evento segue alinhado com a Campanha da Fraternidade 2024, que este ano completa 60 anos ininterruptos, e tem como temática “Fraternidade e Amizade Social”. Na abertura, está prevista uma cena que destaca a necessidade de paz no mundo.

O Santuário São José do Murialdo fica na rua Primeiro  de Março, esquina com Vidal de Negreiros. A procissão termina no alto do Morro da Cruz, onde será realizada a encenação dos últimos momentos da vida de Jesus Cristo, finalizada com a crucificação e sua ressurreição. No trajeto em direção ao morro, haverá encenação especial sobre a violência contra as mulheres.

Mensagem de esperança e boa nova

O intérprete de Jesus Cristo há 43 anos é Aldacir Oliboni, vereador de Porto Alegre pelo PT. Ao Brasil de Fato RS, ele destaca a importância do evento para a população porto-alegrense. “Esperamos que por mais um ano a gente consiga trazer uma mensagem de esperança, de solidariedade, mas acima de tudo de que é preciso acreditar, enfrentar a vida e os problemas da vida”, afirma.

Oliboni foi autor do projeto de lei que instituiu a Via Sacra do Morro da Cruz no Calendário de Eventos de Porto Alegre, aprovado por unanimidade na Câmara de Vereadores em novembro de 2021. “Depois de muitos anos que eu já estava fazendo, acabei me envolvendo com a política, fui candidato a vereador, me elegi. Um dos meus primeiros projetos foi transformar esse evento em um evento cultural da cidade. Com isso é possível destinar recursos para a infraestrutura toda, e foi o que aconteceu”, destaca.

Ele explica que a peça de teatro inicia em frente à igreja e dura em torno de 40 minutos, onde é contada grande parte da história de Cristo, como parte de seus milagres, seus julgamentos, sofrimento, Sermão da Montanha e Santa Ceia. Já na procissão, são elencados pontos importantes da vida de Jesus, como suas quedas, seu encontro com Maria, com Verônica e com as mulheres de Jerusalém. “Tudo no trajeto entre as ruas Primeiro de Março e Santo Alfredo, que chega lá no alto do Morro da Cruz, onde nós interpretamos a morte e a ressurreição. É um momento muito lindo onde está todo mundo lá em cima esperando por uma mensagem, vamos dizer assim, de esperança e boa nova.”


Celebração antes do início da procissão em 2023 / Foto: Jorge Leão

43 anos interpretando Jesus

Ao recordar de como começou a interpretar Jesus no evento, o vereador conta que foi seminarista na Congregação Josefinos do Murialdo, responsável pela paróquia que realiza o evento. “A Via Sacra começou lá nos meados de 1960, com o término das missões, evento que congregava todas as paróquias regionais. Foi quando eles decidiram levar a cruz até o alto do morro, e aí lá passou a se chamar lá Morro da Cruz. Por ali começou a primeira Via Sacra, desde 1960”, relata.

Oliboni lembra que, no início dos anos 80, ele morava com o padre Angelo Costa, que foi um dos idealizadores da Via Sacra do Morro da Cruz. “Eu cheguei em Porto Alegre, era seminarista, e o anterior que interpretava Jesus, Francisco Ebony, desistiu, disse que já tinha cumprido a promessa dele de fazer por 15 anos. Eu era magrinho, franzino, cabeludo, barbudo, e o padre Angelo diz: ‘olha, Oliboni, acho que tu vai substituir o Francisco Ebony’. Começou naquela época, então, em 81.” 

Depois, mesmo tendo deixado o seminário, continuei fazendo, porque tinha se estabelecido em Porto Alegre e fazia trabalho pastoral na região do Morro da Cruz e comunidades próximas. “A partir de lá houve uma enorme evolução, porque naquela época era ainda um trajeto muito íngreme, muito morro acima, difícil de subir, era saibro. Não era a Primeiro de Março e a Santo Alfredo como hoje, tudo pavimentado.”

Em sua experiência de décadas como o protagonista da encenação, conta ter vivido momentos de muita emoção e sensibilidade. “Tu vê muita gente, por exemplo, carregando as crianças no colo, com promessas feitas, de milagres recebidos, pessoas que andam de pé descalço.”

Para Oliboni, a Via Sacra do Morro da Cruz já é um evento da cidade, que reúne dezenas de milhares de pessoas de diversas partes do estado. Ele destaca que a celebração, realizada em uma comunidade periférica da capital gaúcha, é um espaço aberto, onde todo mundo tem acesso, um evento de fé e cultura popular realizado em uma comunidade periférica da capital gaúcha.

Programação - 29 de março - Sexta-feira Santa

14h30 - Mensagem da Paixão - Interior da Igreja São José do Murialdo
15h30 - Bênção da Macela e início da encenação em frente à Igreja
16h30 - Procissão sobe pela rua Santo Alfredo, com cenas de Maria, mãe de Jesus e Verônica 

18h - Crucificação e Ressurreição - Final do ato o morro.
 
Endereço

Rua Vidal de Negreiros, 550 esquina rua 1º de Março – Santuário São José de Murialdo, Porto Alegre.


Edição: Katia Marko