Paraná

Economia Solidária

Feira Permanente de Economia Popular Solidária é exemplo de união e cooperativismo

Nas quarta-feiras e sábados os feirantes se reúnem no pátio do Muma, em frente ao Terminal do Portão

Curitiba (PR) |
Expositores atuam com artesanato, alimentos agroecológicos e roupas. - Foto: Mayala Fernandes

Produção cooperada, autogestão e consumo solidário são alguns dos valores dos feirantes da Associação Feira Permanente de Economia Popular Solidária (AFEPS). Eles se reúnem às quartas-feiras e sábados, das 9h às 17h, no Pátio do Museu Municipal de Arte (Muma), para expor seus produtos artesanais e autorais.

Quem visita a feira pode encontrar exposições de artesanatos, alimentos agroecológicos, lanches e roupas. Mas além de tudo isso, também é um espaço de formações e apresentações culturais.

“A feira não é simples comercialização, também é aprendizagem e formação. Cada pessoa que recebemos nas bancas aprende sobre a nossa forma de trabalho. Existe essa preocupação de não estar aqui só feirando”, comenta Claiton Alves (@tata_esfirras), expositor que produz pães e esfirras.

A economia solidária nasce como uma proposta organizativa que questiona o processo de exploração capitalista, baseada em princípios como democracia e cooperação, que propõem um diferente modo de produzir, vender e consumir.

Nesta experiência, quem produz é o protagonista, sem a necessidade de mediadores. Além disso, os produtos devem ser autorais, artesanais, sustentáveis e orgânicos.

“Aqui os artesãos trabalham com produções próprias e a economia solidária é isso, proporcionar algo único e personalizado para a outra pessoa. Não é algo que vem de indústrias”, fala Bernadete Cosme da Silva, artesã de panos de prato, jogos de tapete em crochê, entre outros.

Economia solidária é fonte de renda


Clailton (esquerda) e Gil (direita) têm como única fonte de renda a comercialização de seus produtos. / Foto: Mayala Fernandes

Gil Reinaldi (@gostosuras_milho), trabalha com produtos derivados do milho e tem a atividade como única fonte de receita. Para ela, é um absurdo algumas pessoas pensarem que o feirante não é capaz de se sustentar com o trabalho das bancas.

“Às vezes algumas pessoas me perguntam: ‘você só faz feira?”. Isso me dá raiva, porque trabalhamos muito. Eles não sabem o horário que eu levanto para fazer a pamonha e os bolos de milho”, comenta Gil.

Clailton Alves é outro exemplo de que a economia solidária gera renda. Ele e a esposa comercializam esfirras, pães e sucos naturais e têm dedicação total na produção de seus produtos.

“Economia solidária gera renda e empregos sim, faz a diferença nas nossas vidas. A gente costuma falar que damos vida aos nossos produtos. Eu quero para a outra pessoa o que eu quero para mim, algo fresco e bom”, ressalta Clailton.


A cooperativa também atua com a entrega de cestas agroecológicas. / Foto: Mayala Fernandes

No caso da Cooperativa Agroecológica Cultivando Vida, de Mandirituba, a feira também é a principal atividade econômica dos agricultores familiares. Eles colhem os produtos pela manhã, retiram o leite, embalam os queijos e mandam para a cidade com a esperança de vender tudo.

“Gosto muito dessa iniciativa porque eles se preocupam em mandar a maioria dos alimentos sem plástico, inclusive fazem a conscientização com os consumidores para que devolvam as embalagem após o uso”, conta Lisie Manoella Moro (@sabonetes.aromaticossemear), feirante responsável pela banca da cooperativa.

Mais de 20 anos feirando


Dona Inair também trabalha com encomendas de costuras e crochê. / Foto: Mayala Fernandes

Uma personagem que chama atenção entre os expositores é a artesã e costureira Inair Maciel Kolowski. Com 81 anos, ela participa da iniciativa desde o início, comercializando roupas e peças de tecido. 

“Da minha turma apenas eu continuo, porque eu sou insistente. Já faz mais de 20 anos que estou nessa luta”, relata.

Dona Inair sai de casa todas as quartas-feiras às 7h da manhã e pega dois ônibus para ir do Campo Comprido até a barraca, no pátio do Muma, no Portão. Segundo ela, pode ser cansativo, mas é bom ter a companhia dos colegas durante o dia.

“É só chegar o final de semana e, puxa vida, eu já deixo a minha sacola pronta. Preciso ir para a feira”, diz. “Em casa me sinto muito sozinha e aqui fico de papo com a mulherada”.

O brechó na economia solidária


O trabalho com brechó vem de família, Kaianã divide a banca com a tia. / Foto: Mayala Fernandes

Kaianã Dantas (@piadobrecho), 24, é um dos mais jovens na iniciativa e trabalha com a exposição de peças de brechó.

“O brechó faz a reciclagem das roupas e também faz parte da economia solidária porque tem o cuidado com o meio ambiente, por meio da redução da quantidade de lixo da indústria têxtil”, diz.

No Brasil, a fabricação de uma única calça jeans com fibra de algodão consome 5,2 mil litros, desde o plantio do algodão até o pós-consumo, de acordo com o relatório Fios da Moda.

Mas Kaianã não possui apenas a preocupação ambiental, ele também olha para o social e quer que seus produtos tenham um preço acessível para que os jovens da periferia possam consumir.

“Se eu tenho vontade de ter um Air Jordan, o meu colega também pode querer e por que ele não pode ter acesso a esse produto? Por isso, prefiro fazer um preço justo e acessível”, afirma.

Sobre a Associação da Feira Permanente de Economia Popular Solidária

A iniciativa surgiu em 2009, realizando feiras no pátio da Paróquia Profeta Elias, na região do Sítio Cercado. Mas desde 2015, em busca de melhores condições, o projeto ocupou o pátio do Muma, localizado ao lado do terminal do Portão.

A ocupação durou três anos, em 2018 conquistaram o direito de utilizar legalmente o espaço. No mesmo período, o grupo também teve a oportunidade de estabelecer parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e participar da Jornada da Agroecologia em 2018 e 2022.

Os realizadores do projeto são Projeto Mutirão, com apoio do Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS) e da Campanha da Fraternidade e parceria com Cefuria, Rede Pinhão dos Clubes de Trocas, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Associação de Cozinhas e Padarias Comunitárias Fermento na Massa, Rede de Educação Popular (Recid), Projeto Brasil Local, Cooperativa Paranaense de Reciclagem (Copersol), TECSOL, Incubadora de Economia Solidária da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), e Rede Mandala.

Serviço

Dias e horários: quarta-feira e sábado, das 9h às 17h.

Endereço: pátio do Muma – avenida República Argentina, 3430, ao lado do Terminal do Portão – Portão, Curitiba, PR

Edição: Pedro Carrano