Rio Grande do Sul

PELA MEMÓRIA

Sala Redenção da Ufrgs apresenta mostra para 'descomemorar' os 60 anos do golpe militar

Em cartaz de 1 a 12 de abril, a programação exibe oito filmes, além de promover bate-papos com os diretores

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A abertura oficial da mostra exibe "O Dia que Durou 21 Anos" - Foto: Divulgação

A Sala Redenção apresenta, entre os dias 1º e 12 de abril, a mostra "60 anos do Golpe Militar: Tão Longe, Tão Perto". Contando com a curadoria de Nilo Piana de Castro, professor de História do Colégio de Aplicação da Ufrgs, a programação exibe oito filmes que retratam a ditadura militar. A proposta é "descomemorar" o golpe de 1964.

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A abertura oficial da mostra exibe "O Dia que Durou 21 Anos", que reflete sobre a influência do governo dos Estados Unidos no golpe de 1964. Também em cartaz na programação, "Ibiúna, Primavera Brasileira" e "A Batalha de Maria Antônia" retratam dois acontecimentos significativos de outubro de 1968 protagonizados por estudantes. "Mario Wallace Simonsen, Entre a Memória e a História", "Pastor Cláudio" e "Codinome Clemente" focam na história de personalidades que marcaram o regime militar de diferentes maneiras. Além dos seis documentários, a mostra exibe os dramas "Deslembro" e "Verdes Anos", que têm seus enredos baseados na ditadura e em suas consequências.

De acordo com o curador, a fim de relembrar a história para não repeti-la, a mostra apresenta cinco exibições acompanhadas de bate-papo com os diretores das obras. Junto com o público, os cineastas terão espaço para destacar a necessidade de esclarecimento e posicionamento perante o passado, para que se possa vislumbrar um futuro de plena liberdade cidadã democrática.

As sessões têm entrada franca e são abertas à comunidade em geral. O cinema da Ufrgs está localizado no campus central da Universidade, com acesso mais próximo pela Rua Eng. Luiz Englert, 333.

Convite do Curador 

O golpe se torna um idoso: são 60 anos de uma marca profunda, gravada a ferro e fogo no povo brasileiro. Naquele distante 1964, o Brasil, que, através de reformas, estava caminhando para ser uma sociedade mais justa, foi subtraído da soberania popular; e a nação submergiu em tenebrosas transações, que resultaram em um dos países de maior desigualdade do mundo. 

No início dos anos 1960, os brasileiros buscavam mudanças sociais e maior participação nos processos políticos. Uma parcela das elites criou a ilusão de que a disputa era entre o Ocidente e Oriente, entre o capitalismo e o comunismo, entre os cristãos e os ateus. Foi pelos interesses imediatos do grande irmão do Norte e seus sócios locais que as Forças Armadas massacraram a democracia: perseguiram, prenderam, torturaram e mataram pessoas sob o falso pretexto de estar protegendo as liberdades democráticas, quando, na verdade, estavam sustentando o privilégio de poucos.

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Já em sua terceira idade (e justamente por não ter sido educado, assumido, ou mesmo punido com devido rigor), esse decrépito personagem continua a gerar perigosos descendentes, provando que nem toda velhice é lúcida. Os anti-democráticos, autoritários, inurbanos e golpistas continuam ameaçando a República e comprometendo o futuro do país, como na intentona de janeiro de 2023. Provavelmente, esperando herdar também a impunidade que se arrasta por seis décadas nesse passado vivo.

Convido o público para "descomemorar" esse triste aniversário com uma mostra de filmes, nos quais os diretores estabelecem uma profunda relação com a memória, destacando a necessidade de esclarecimento e posicionamento perante o passado, a fim de buscar justiça e vislumbrar um futuro de plena liberdade cidadã democrática.

Programação:

IBIÚNA, PRIMAVERA BRASILEIRA

(dir. Silvio Tendler | Brasil | 2019 | 81 min)

O filme relembra o congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes realizado em outubro de 1968 onde cerca de 800 estudantes foram presos. 

01 de abril | segunda-feira | 16h

05 de abril | sexta-feira | 19h

08 de abril | segunda-feira | 16h

O DIA QUE DUROU 21 ANOS 

(dir. Camilo Tavares | Brasil | 2013 | 79 min)

Documentos secretos e gravações originais da época mostram a influência do governo dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. 

01 de abril | segunda-feira | 19h + conversa com Alexandre Andrades e Nilo Piana de Castro

02 de abril | terça-feira | 16h

05 de abril | sexta-feira | 16h

A BATALHA DA MARIA ANTÔNIA

(dir. Renato Tapajós | Brasil | 2014 | 76 min)

O documentário fala sobre o confronto entre estudantes da Faculdade de Filosofia da USP e estudantes da Faculdade Mackenzie, que culminou na morte do aluno José Guimarães e com o incêndio do prédio da Faculdade de Filosofia, em outubro de 1968, na rua Maria Antônia, em São Paulo. 

02 de abril | terça-feira | 19h

03 de abril | quarta-feira | 16h

10 de abril | quarta-feira | 16h

MARIO WALLACE SIMONSEN, ENTRE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA

(dir. Ricardo Pinto e Silva | Brasil | 2015 |110 min)

Uma investigação da vida do brasileiro Mario Wallace Simonsen, um homem que comandou conglomerados de diversas empresas e foi ameaçado durante a Ditadura Militar, quando teve seus direitos cassados.

03 de abril | quarta-feira | 19h + conversa com Ricardo Pinto e Silva e Nilo Piana de Castro

04 de abril | quinta-feira | 16h

PASTOR CLÁUDIO

(dir. Beth Formaggini | Brasil | 2019 | 76 min)

Um encontro histórico entre duas figuras pessoalmente antagônicas: o bispo evangélico Cláudio Guerra, responsável por assassinar e incinerar os opositores à ditadura militar brasileira, e Eduardo Passos, um psicólogo e ativista dos Direitos Humanos.

04 de abril | quinta-feira | 19h

08 de abril | segunda-feira | 19h

09 de abril | terça-feira | 16h

CODINOME CLEMENTE

(dir. Isa Albuquerque | Brasil | 2021 | 85 min)

Carlos Eugênio Paz, conhecido pelo codinome "Clemente", relembra sua participação na luta armada contra a ditadura militar. Através de seu depoimento e dos seus companheiros de luta, a diretora constrói um retrato de um momento conturbado da história brasileira e de toda uma geração que lutou pela democracia de seu país.

10 de abril | quarta-feira | 19h + conversa com Isa Albuquerque e Nilo Piana de Castro

11 de abril | quinta-feira | 16h

DESLEMBRO

(dir. Flávia Castro | Brasil | 2019 | 97 min)

Joana é uma adolescente que mora em Paris com a família. Quando a anistia é decretada no Brasil, ela volta ao Rio de Janeiro, cidade em que nasceu e onde seu pai desapareceu nos porões do DOPS. Lá, seu passado ressurge.

11 de abril | quinta-feira | 19h + conversa com Flávia Castro e Nilo Piana de Castro

12 de abril | sexta-feira | 16h

VERDES ANOS

(dir. Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase | Brasil | 1984 | 91 min)

Na década de 70, em meio à repressão política e à ideologia do "milagre brasileiro", um grupo de adolescentes vive suas preocupações cotidianas: futuro, noites regadas a dança, brigas de namoro, conflitos com os pais. Durante 3 dias eles vivem seus verdes anos, um pouco mais que um sonho.

12 de abril | sexta-feira | 19h + conversa com Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase e Nilo Piana de Castro.


Edição: Katia Marko