Rio Grande do Sul

Coluna

A Consciência Pachamama é uma mudança de olhar

Imagem de perfil do Colunistaesd
A Nação Q’eros vive nos altos picos da Cordilheira dos Andes, no Peru, ainda hoje falam o Q’echua e mantém a tradição do culto à Pachamama – Mãe Terra, e aos Apus (espírito das montanhas) - Foto: Nacion Pachamama
Os povos originários estão em contato com a Existência, sua Mãe, e sabem que tudo está vivo

Pachamama é uma mãe, nada está fora dela, tudo que existe de orgânico nessa vida foi trazido milagrosamente pela fertilidade da vida nos presenteando a brincadeira de viver. Ela é a Senhora que nos dá vida e a Senhora que nos leva à morte, e aqui permanecemos em um misterioso ser que nos dá alento, nutrição, ensinamento, nos dá tudo o que precisamos para viver em imensa abundância e permanecer com nossos corações sensíveis e agradecidos.

A Consciência Pachamama é uma mudança de olhar, em que recuperamos às nossas vidas muitas virtudes que ainda hoje são preservadas no alto das montanhas no Peru, na Nación Q’eros, mas também em grande parte dos povos originários latino-americanos. 

São as comunidades humanas que se vinculavam à terra através de uma outra percepção, uma outra perspectiva, como o Bem Viver, Sumak Kawsay, Sumak Qamana, Teko Porã em um entendimento de que há um entrelaçado de relações. Compreendem que a Mãe Terra, Pachamama, o planeta, não é um recurso que pode ser explorado de maneira indiscriminada, predatória, sem qualquer cuidado com o equilíbrio sutil e energético que está contido em sua existência e que mantém os ecossistemas interagindo de forma espontânea e bela.

Essas cosmovisões dos povos campesinos e originários guardam uma matriz em comum, esse vínculo de amor e devoção à terra, e ao se relacionar desde a esfera afetiva com a vida, o coração se abre a amar.

Quando se ama com sinceridade, desperta-se o mais puro sentimento de cuidado, de proteção, traz identificação, e nos reconhecemos em um rio que está morrendo, em uma montanha destruída pela mineração, nos irmãos que estão sendo bombardeados, nos animais que perdem suas casas, na floresta devastada por ambição desmedida.

A Consciência Pachamama vem despertar em todos nós uma utopia que se chama Nación Pachamama, em que se busca recuperar a vida em Ayllu, na língua Quéchua, uma fraternidade de uaikis, amigos ou companheiros de caminho e serviço que despertam da profunda sonolência que a humanidade está metida e nos devolve ao vínculo Real com a vida, percebendo o vento, os pássaros...

É a consciência de encontrar em uma cenoura todo um ciclo de devoção e carinho à terra, Pachamama, e ao Sol, Tayta Inti, e de sentir as abelhas como grandes aliadas, seres que prestam um serviço indispensável e silencioso a toda a Vida.

O retorno à via poética e mágica de sentir a vida é um serviço que o Movimento Nación Pachamama está trazendo para a humanidade, devolvendo aos seres humanos uma dimensão fundamental da vida, a dimensão onírica, imaginária da percepção sensível e desperta.

Os povos originários estão em contato com a Existência, sua Mãe, e sabem que tudo está vivo, e que nos distraímos do essencial, afastados da realidade.

É possível que haja um despertar, não uma mudança, porque há que se mudar tudo; um despertar da profunda sonolência que nos mantém acostumados a uma série de elementos e crenças que nos dão sensação de segurança, mas que são uma realidade ilusória.

Não há segurança ao viver, não há segurança ao entrar nesse mundo e tudo que nos digam é unicamente para nos manter em espaços de comodidade.

* Mestres Andinos

** Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko