Rio Grande do Sul

Defesa da educação

Trabalhadoras e trabalhadores de escolas paralisam atividades e protestam por valorização salarial 

Durante ato nesta quinta-feira (4) em frente ao Palácio Piratini, categoria relatou sobrecarga, endividamento e estresse

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Ato faz parte de jornada de lutas que o Cpers Sindicato está fazendo em defesa das carreiras e do reajuste salarial para funcionários da educação - Foto: CPERS Sindicato

O Cpers Sindicato realizou, na manhã desta quinta-feira (4), em frente ao Palácio Piratini, um ato estadual e dia de paralisação por valorização salarial para funcionários de escola e aposentados da educação. A mobilização foi aprovada na última assembleia da categoria, ocorrida no dia 22 de março. Durante a manifestação trabalhadoras e trabalhadores da educação relataram as consequências da desvalorização da categoria, como sobrecarga de trabalho, endividamento e estresse.

:: ::

“Estou aqui, mais uma vez, para pedir ao governador que nos valorize, que valorize também o trabalho do funcionário de escola, que está muito desvalorizado. O nosso salário está muito baixo. Tudo o que tínhamos de vantagem foi tirado, infelizmente. Nós estamos, simplesmente, invisíveis nas escolas de tão desvalorizados que estamos hoje em dia. Eu gostaria de pedir que nossos colegas, funcionários, venham para a luta, porque eu estou em todas as lutas sempre. Faz 10 anos que não temos aumento do salário e o governador nos ignora”, afirma a funcionária de escola de Santana do Livramento,  Sandra Maria Peres dos Santos. 

O desabafo da funcionária foi um de vários ouvidos durante a ação, que teve como uma das pautas a reivindicação salarial dos funcionários de escola. O sindicato pontua que esses trabalhadores têm sido excluídos dos reajustes salariais concedidos aos professores durante o governo Leite, e atualmente possuem um salário básico de R$ 657,97. O salário mínimo regional do Rio Grande do Sul, possui cinco faixas que variam de R$ 1.573,89 a R$ 1.994,56.


“Estou aqui, mais uma vez, para pedir ao governador que nos valorize, que valorize também o trabalho do funcionário de escola, que está muito desvalorizado" / Foto: Cpers Sindicato

“Esse ato faz parte de uma grande jornada de lutas que o Cpers está fazendo em defesa das carreiras e do reajuste salarial para funcionários da educação. Estamos há quase 10 anos só com 6% de reajuste, que foi dado lá em 2021. De lá para cá, não recebemos nada! A situação dos funcionários está insustentável e o empobrecimento da categoria é enorme. As pessoas estão endividadas no Banrisul, precisando fazer empréstimo em cima de empréstimo, e os funcionários contratados estão ainda em pior situação”, relatou a diretora do Departamento de Funcionárias(os) da Educação do Cpers, Sonia Solange Viana. 

Funcionários e funcionárias de escola, da ativa e aposentadas(os), de diversas regiões do estado, relataram as dificuldades enfrentadas no dia a dia das escolas e em suas vidas. É o caso da funcionária de uma escola de Pelotas, a Marta Berenice dos Santos Lemos. “Estou cozinhando para mais de 500 crianças sozinha, não tem ninguém para me ajudar. Estou sobrecarregada porque eu não consigo fazer tudo e eu já não sei mais para onde correr, estou quase desistindo”, desabafou.

A merendeira Rosane Maria Colvero, de Pejuçara, região do 11º Núcleo do Cpers (Cruz Alta), disse que precisa da ajuda das colegas para dar conta da sobrecarga de trabalho. “A minha escola é a única estadual da cidade com três turnos e, atualmente, estou sozinha na função. Há praticamente um ano, a outra colega foi diagnosticada com câncer e a partir daí as gurias da limpeza começaram a me ajudar. Estamos bastante cansadas e com dores e as doenças vão aparecendo em função do estresse. Os funcionários contratados que foram chamados desistiram devido ao baixo salário, já que amargamos uma defasagem de 10 anos. Então, essa é a situação que a gente está e esse é o nosso governador, que simplesmente ignora toda essa situação”. 

Conforme reforçou a diretora do Departamento de Funcionárias(os) e do de Aposentadas(os) do sindicato, Juçara Borges, são quase 10 anos sem reajuste real e o governo não sinaliza com nenhuma proposta. “Os nossos colegas estão sobrecarregados, doentes e sem condições de sobreviver com o salário que estão recebendo. Então, esse ato de hoje é para mostrar para o governo que nós não somos invisíveis, nós somos educadores e merecemos respeito e valorização. Não dá para admitir que hoje um funcionário de escola, tem um básico de R$ 657,97. Isso é uma miséria”, expôs. 

De acordo com Sonia Viana, entre concursados e contratados, o estado tem hoje 28 mil funcionários de escola. O sindicato não tem um levantamento exato de como esse número se divide, mas a maioria dos concursados estão aposentados ou no final da carreira. Ela estima que são 7 mil os concursados ainda na ativa. Pontua que os principais problemas que afetam os funcionários, além da não concessão de reajustes, são o congelamento do plano de carreira, a eliminação de vantagens e promoções, e a não realização de concursos. O último ocorreu durante o governo Tarso Genro (2011-2014).


“Nossa pauta é justa e necessária. Lutamos para que o governo apresente um piso decente para os funcionários, mas esse piso tem que repercutir na carreira" / Foto: Cpers Sindicato

União da categoria 

A presidenta do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, reforçou a importância da união da categoria neste momento de intensificação da luta por valorização salarial para todos e todas. Com a exclusão de uma parcela significativa de educadoras e educadores de um reajuste justo, segundo ela, se faz cada mais necessário manter firme a mobilização unificada. 

“Hoje estamos aqui, em frente ao Palácio Piratini, neste ato que será protagonizado pelos nossos funcionários de escola. E aí a importância da unidade da nossa categoria, os professores, da ativa e aposentados, estão juntos nessa luta porque sabemos que nenhuma escola funciona sem o trabalho dos nossos funcionários. Nós fazemos funções diferentes, mas somos todos servidores, somos todos trabalhadores em educação”, manifestou a presidenta. 

Helenir ainda reafirmou as lutas da categoria no próximo período. “Nossa pauta é justa e necessária. Lutamos para que o governo apresente um piso decente para os funcionários, mas esse piso tem que repercutir na carreira. Nós queremos que, enquanto isso não aconteça, as verbas indenizatórias não sejam mais descontadas do completivo e também reafirmamos a nossa luta por revisão geral dos salários, porque daí todo mundo, inclusive os funcionários e os aposentados, receberão a merecida valorização.”

De acordo com a dirigente, na última reunião que o sindicato teve com a Casa Civil para tratar da situação dos funcionários, realizada no final do ano passado, o governo apresentou uma proposta que elevaria o salário básico destes servidores para uma faixa entre R$ 1,5 mil e R$ 1,6 mi. Segundo ela, a resposta da Casa Civil é que está sendo feito o estudo. “Este ato aqui é para que esse estudo se conclua o mais rapidamente possível, mas que, depois de concluso, não vá diretamente na Assembleia, que chame a categoria pra discutirmos, pra gente ver se pode melhorar a proposta ou aceitarmos a proposta como ela vem. Enfim, nós queremos uma mesa real de negociação”, afirma Helenir.

A reivindicação do sindicato é para que os funcionários sejam considerados educadores e recebam, assim como os professores, o Piso Nacional do Magistério, atualmente em R$ 4.580,57 por 40 horas
 
Em nota ao Sul 21 a Casa Civil afirmou que o governo segue aberto ao diálogo, mas não confirmou o valor da proposta que estaria em estudo. “A democracia demanda a convivência com manifestações e impõe o respeito à liberdade. O governo do Estado segue aberto ao diálogo com todas as categorias de servidores, tendo o secretário-chefe da Casa Civil recebido, recentemente, a diretoria do Cpers. O Estado precisa ter, para atender pleitos que entenda justos, equilíbrio nas contas, tema que tem sido tratado de forma transparente com toda a sociedade”, diz a nota. 

“Estamos aqui hoje lutando pela valorização do nosso salário dos funcionários de escola. Estamos muito desvalorizados, tanto funcionários da ativa quanto aposentados. Eu sou merendeira e eu quero respeito e valorização para os funcionários de escola, que são muito importantes para a educação”, desabafou durante o ato Joana Almeri Vieira da Costa, de Osório.

* Com informações do Cpers Sindicato e Sul21.


Edição: Marcelo Ferreira