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Dicas de leitura, filme e música para acordar

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Oppenheimer é um filme histórico de drama dirigido por Christopher Nolan e baseado no livro biográfico vencedor do Prêmio Pulitzer, Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer - Reprodução
Precisamos acordar, focar nos verdadeiros inimigos, e agir, antes que seja tarde

Esta semana pretendo polemizar sobre o roubo de direitos humanos e a forte disputa associada a iniciativas que, buscando fortalecer ou apagar consciências, serão determinantes da apatia ou da organização social que definirão nosso futuro.

Para isso, pretendo me utilizar de conteúdos de terceiros, que desde já recomendo: Procurem assistir ao filme Oppenheimer e não deixem de visitar (e ler) a 119ª edição (versão em português) da revista Biodiversidade Sustento e Culturas.

A revista dá especial destaque para a água e para o trigo transgênico. Seguindo sua linha editorial, traz informações atualizadas que pouco circulam na grande mídia. A partir delas, podemos estabelecer conexões entre o mito do desenvolvimento capitalista, a fragilidade de suas promessas e a extensão atualizada das práticas colonialistas com que ainda hoje são drenadas nossas riquezas e culturas.

Ali estão, ao lado de indícios de tragédias tão assustadoras como as ameaças de generalização da fome, da esterilidade dos solos, da contaminação das águas, de guerras pelo domínio dos territórios e recursos naturais, relatos de atividades auto-organizadas por povos latino-americanos, em defesa de seu sustento, biodiversidade e culturas.

Uma luta desigual, que se estende da realidade física para dimensões conceituais. Nestas se chocam percepções sobre validade e a utilidade dos conteúdos trabalhados naquela revista (e outros meios “nanicos” que lhe são similares) e em suas versões antagônicas, massivamente derramadas por canais de TV, rádios e streamings que apontam para o que, segundo eles, deveríamos engolir como sendo “a verdade”.

Não faltam exemplos: o agro é pop, seus agrotóxicos fazem bem à saúde e seus transgênicos salvarão a humanidade; os comunistas estão à espreita e são heróis, não apenas o mito ladrão de joias e seus apaniguados, como todos e quaisquer tolos dispostos a saírem às ruas pedindo a volta da ditadura.  

Mas não pretendo reproduzir estes conteúdos.

Neste texto quero apenas evidenciar a necessidade e a importância dos bens e dos prazeres que nos estão sendo roubados pela assimetria na capacidade de comunicação de um e outro tipo de veículo informativo. Lembro ainda que pessoas em condições muito mais desvantajosas do que aquelas desfrutadas por quem lê, estão fazendo emergir aqui, ali e acolá, reações que devem ser conhecidas, apoiadas, imitadas.

Vale dizer que a ganância dos fantoches que se colocam a serviço daquelas forças que se mantém ocultas, nas sombras, se faz apoiada por governos democráticos que as irrigam de recursos públicos. Mas também este não é o foco deste texto.

O ponto aqui é simples e fácil de enxergar: nós que desfrutamos do prazer de acesso cotidiano e garantido, a um copo de água gelada recostados em frente a janela, sentindo a brisa que chega resfriada pelas árvores, custamos a perceber que o entretenimento oferecido pelas mídias que nos distraem são armadilhas que capturam nossas emoções. Que impedem inclusive até nossa percepção dos prazeres, da paz, da água, da brisa, do conforto seguro no lar e das ameaças que pairam sobre tudo isso.

Também nos impedem de ver que em tudo existem momentos de alerta, pontos de fuga, espaços para desdobramento de uma consciência reativa.

Não creio que isto tenha acontecido com o Oppenheimer, mas aqui cabe a referência ao filme até porque esta me pareceu ser uma das intenções do diretor Christopher Nolan.

O filme, que retrata um momento horrível da história humana, apresentando-o por meio da história pessoal, dos momentos de ascensão e queda na vida nada invejável do protagonista, o Pai da Bomba, no fundo afirma que a vida depende do respeito aos diferentes.

Grandes atores e um roteiro tão envolvente que o filme sequer utiliza os horrores de Hiroshima e Nagazaki, para mostrar os perigos reais da ausência de limites para a vaidade, a cobiça, a inveja e a hipocrisia das lideranças mais bem armadas de nossa espécie.

E há uma frase de impacto, que além de resumir o filme me parece que se aplica a estes dias em que precisamos acordar, focar nos verdadeiros inimigos, e agir, antes que seja tarde.

Há que ter paciência e se preparar para confrontos que não serão contra os bobos que estão aí, afoitos e exibidos. Afinal, como anunciava aquela frase do filme, "enquanto os amadores buscam o sol, e se queimam. O poder fica nas sombras”.

Música "Ocidentes Acontecem".

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko