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Coluna

Não é hora de procurar culpados?

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Imagem do bairro Passo de Estrela, no município de Cruzeiro - Foto: Divulgação MAB
Não dá mais para viver em um planeta que não comporta desenvolvimento social e preservação ambiental

Obviamente, estamos no tempo de salvar vidas, abrigar pessoas que estão em situação de miséria e desamparo, acolher os tantos sujeitos exaustos que, de forma voluntária, há dias tentam tornar a vida dos sobreviventes um pouco mais digna.

Mas não podemos perder de vista o fato de que esta catástrofe estava anunciada há muito tempo. Dizer que não há culpados e responsáveis é mais uma vez passar pano para a política capitalista de que o "pobre governo" faz o que dá, bom mesmo é a iniciativa privada! "Vamos privatizar e derrubar o muro na Mauá, a cidade ficará mais bonita", não é governador?

Além disso, basta defender a preservação da natureza que os raivosos de plantão utilizam seus tentáculos para digitar ofensas a todos aqueles que lembram muito bem das aulas de ciências da 5ª série.

Na 5ª série, aprendemos que um solo sem vegetação não absorve a água e a mesma desliza por cima, causando desmoronamentos. O solo deixa de ser uma esponja e se torna uma superfície impermeável. Mas claro que o óbvio precisa ser discursivamente transformado em pauta política dos ditos "esquerdopatas".

Afinal, a galera do "Agro é Pop" acha um atraso as pautas que defendem que a Terra não pertence só aos seres humanos. No capitalismo, todo desenvolvimento sustentável é perda de tempo, exceto quando a sustentabilidade pode ser mais uma fonte de lucro.

O infeliz literal banho de água fria dos últimos dias precisa ser o catalisador para as mudanças do sistema. Não dá mais. A ciência precisa ser escutada e não silenciada.

A pandemia, agravada pela negação científica, não foi suficiente. A ancoragem esquerda-preservação ambiental, além de ser um fracasso cognitivo extremo, é uma perda para todos.

Sabemos que o caos instaurado também é político. Não implementar tecnologia nos sistemas de proteção contra enchentes nas cidades é uma escolha governamental, logo, política.

Agora, mais uma vez, corremos contra o tempo para salvar vidas e trazer o pouco para quem perdeu muito.

A falsa ideia de que "não há culpados" corre solta pelas redes sociais, as quais estão abarrotadas por imagens dos caça-likes de plantão. É tragicômico ver políticos que tiram fotos com doações serem os mesmos que propuseram leis em prol da flexibilização ambiental que, sim, nos trouxeram para o desamparo em que estamos.

Os "ecochatos" estão certos. Não dá mais para viver em um planeta que não comporta desenvolvimento social e preservação do meio ambiente. Escutá-los é um imperativo de sobrevivência. E sim, a tragédia ocorrida tem responsáveis, com nome, sobrenome, partido político e residência física. Que a responsabilidade seja apurada o quanto antes.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko