O Congresso Internacional de Comunicação aprovou nesta terça-feira (4), em Caracas, a criação de uma Universidade Internacional da Comunicação, destinada à formação técnica e política e à pesquisa de alternativas e mecanismos de enfrentamento aos processos de desinformação e colonização cultural por parte das grandes corporações midiáticas. O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, assinou, no mesmo dia, o decreto de criação da nova universidade que pretende ser também uma formadora de comunicadores populares. Alem da Venezuela, a iniciativa conta com o apoio de outros países, como México, Argentina e Cuba. A criação da universidade e de uma rede de comunicação popular em todo o continente foram duas das principais propostas defendidas pelos 151 delegados de 38 países que participaram do encontro na capital venezuelana.
Tania Diaz, vice-presidenta da Assembleia Nacional Constituinte venezuelana, anunciou que a Universidade Internacional da Comunicação deverá começar a funcionar já no primeiro trimestre de 2020 e instituirá, entre outras linhas de atuação, um prêmio destinado a incentivar a pesquisa e a criação na área. O pesquisador mexicano Fernando Buen Dominguez, especialista em Filosofia da Comunicação, destacou o caráter estratégico da medida no contexto da atual conjuntura política da América Latina. “Estamos em um cenário de guerra midiática internacional para o qual não bastam mais os modelos convencionais de comunicação”, afirmou o pesquisador, durante um ato no Palácio de Miraflores, que contou com a participação do presidente Nicolas Maduro.
Na mesma linha, o sociólogo argentino Atílio Borón comemorou a criação da universidade, afirmando que, pela primeira vez, está se constituindo uma coordenação internacional para travar a guerra midiática em curso no mundo. “O inimigo já tem essa coordenação. Não há nenhuma possibilidade de construir uma democracia sem um sistema democrático de meios de comunicação. Hoje, apenas cinco oligopólios mundiais produzem cerca de 85% das notícias que são consumidas em todo o mundo. Como pode haver uma democracia assim?”, questionou Borón.
Após anunciar que assinaria o decreto de criação da universidade no mesmo dia, o presidente Nicolas Maduro lembrou o que aconteceu na Bolívia no último ano, que resultou no golpe de Estado contra Evo Morales. “Fizeram um ano de campanha de ódio dirigida pessoalmente contra Evo Morales. Após o golpe, houve dois massacres, em El Alto e em Cochabamba, com pelo menos 35 mortes comprovadas. O que disseram a CNN, a Fox News e a TV da Espanha sobre isso? Nada!”. Os povos da América Latina, acrescentou Maduro, estão na rua contra o neoliberalismo, contra a privatização da saúde e educação, contra o capitalismo selvagem. Nem um golpe de Estado irá deter esse movimento”, disse o presidente venezuelano.
Maduro destacou ainda o lema que anima atualmente a política de comunicação do governo venezuelano: “Meios, Redes e Paredes”. Alem do investimento na criação de meios de comunicação populares e de multiplicação de ações nas redes sociais, ele defendeu a necessidade de ocupar territorialmente espaços como muros, paredes de casas e prédios para fazer aí comunicação também com painéis e murais pintados, algo que já se vê pelas ruas de Caracas. Durante o ato no Palácio de Miraflores, Maduro determinou a um grupo de ministros que comecem imediatamente a definição da arquitetura institucional da universidade para que ela possa começar a operar já no início de 2020.
O jornalista espanhol Ignácio Ramonet lembrou que, no surgimento do Fórum Social Mundial, em 2001, a batalha midiática foi apontada como central para a construção de um outro mundo possível. “Alguns dirigentes nos escutaram, outros não, e creio que se lamentam hoje. Chávez foi um dos que escutou e tomou iniciativas estratégicas fundamentais como a criação da Telesur. “Hoje, os meios dominantes estão nas redes sociais e estamos desarmados para enfrentar essa guerra”. Erguendo o seu aparelho de celular, Ramonet acrescentou: “Esse é o AK-47 com o qual podemos travar uma guerrilha com os meios dominantes. Tania (Diaz) falou que a Venezuela já tem 4 milhões de milicianos para ajudar na defesa da soberania do país. Pois que formemos 4 milhões de guerrilheiros midiáticos com esse AK-47 na mão”, defendeu o jornalista.
Edição: Sul 21