Rio Grande do Sul

MANIFESTO

Professores de Economia e Relações Internacionais da UFSM lançam manifesto

Texto aborda situação econômica e social do país e diz ser falsa a dicotomia entre direito à saúde e direito ao trabalho

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Para professores, o Estado precisa agir para ajudar a população e não somente o setor privado - Felipe Iruatã

Um total de 19 professores que integram o departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM divulgou na tarde desta sexta, 3, um manifesto sobre a situação econômica e social do país. Um dos aspectos abordados no documento é a discussão que tem causado posições acirradas: ficar em casa, em isolamento, ou ir trabalhar para não perder o emprego. Para os docentes, o debate que estabelece uma oposição entre direito à vida (defesa da saúde) e direito ao trabalho (defesa do emprego e da sobrevivência) é uma falsa dicotomia. “O valor ético associado ao ser humano é incomparável ao valor econômico dos bens. Não há uma permuta possível entre esses dois valores”, destaca trecho do manifesto.

Conforme o texto, “a garantia do emprego e do trabalho além de ser a essência da Economia tem necessariamente um caráter ético e político-social. Isso significa que para defender o Direito à Vida temos que defender o Direito ao Trabalho, o que se traduz em políticas públicas para sustentar a sobrevivência das pessoas”.

Na análise dos professores da área de Economia e também de Relações Internacionais, é óbvio que o isolamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) irá ter um “impacto negativo sobre a demanda agregada da economia”. Todavia, analisam, é justamente por isso que o Estado precisa agir, e de uma forma que não seja dentro da racionalidade que rege o setor privado. A chave dessa equação, avaliam eles, é que “a solução passa pela elevação do gasto que não depende da renda (receita) das empresas privadas gerada no âmbito do mercado. O gasto autônomo deve ser financiado por aumento da dívida pública, compra pelo governo de títulos privados ou públicos (injetando liquidez na economia) ou expansão monetária.”

O manifesto segue ainda ponderando que é preciso que sejam implementadas “políticas anticíclicas de cunho keynesiano, fundamentais nesse momento atual”. John Maynard Keynes foi um economista inglês que tinha concepções opostas ao pensamento liberal e advogada a tese de que o Estado é indispensável para o controle da economia.

Nessa linha de raciocínio, os docentes da UFSM sugerem um conjunto de quatro medidas que seriam essenciais a serem tomadas pelo governo federal.

- políticas fiscal e monetária;

- políticas de fortalecimento da capacidade intervenção econômica do setor público;

- política social de renda básica de cidadania para os brasileiros mais pobres;

- políticas públicas de suporte a infraestruturas.

Para eles, “os recursos para essas ações emergenciais não podem ser originados das reservas cambiais, pois tais medidas tornariam o país suscetível a ataques especulativos, mas devem ser oriundos dos recursos do tesouro, já que o risco de inflação neste momento é mínimo, haja vista a situação de forte estagnação econômica.”

O texto encerra dizendo que cabe às autoridades brasileiras atuar com “ética e que sejam estadistas, deixando de lado personalismos e bravatas que somente criam obstáculos desnecessários para uma estratégia urgente visando a garantir o emprego e a renda de cidadãos brasileiros, sobretudo para os mais vulneráveis frente à depressão econômica que se avizinha.”

Confira a íntegra do manifesto aqui.

 

Fonte: Sedufsm

Edição: Katia Marko