Rio Grande do Sul

Eleição

Conselho Universitário decide manter modelo vigente para escolha de reitor da UFRGS 

Após 10 horas de debates, Consun encaminha diretrizes para escolha da reitoria, modelo de paridade é derrotado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Conselho Universitário decide pela manutenção do modelo atual, 70/15/15 - Guilherme Santos | Sul21

Após retirada da Medida Provisória nº 979, da Presidência da República, Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) retomou nesta terça-feira (16) a reunião iniciada em 12 de junho, aprovando as diretrizes da Consulta para Reitor no período de 2020-2024 e marcou as eleições para o dia 13 de julho. 

Um dos primeiros itens da pauta foi a proposta da consulta à comunidade ser informal, abrindo assim a possibilidade para a paridade, uma luta histórica na Universidade. A proposta foi derrotada por 41 votos a favor do parecer da comissão e 32 votos pelo parecer divergente, com duas abstenções. Sendo assim, mantêm-se a fórmula atual, 70% para docentes, 15% para técnico-administrativos e 15% para estudantes.

Antes da discussão sobre a possibilidade da paridade, o Conselho votou sobre se os votos seriam secretos ou se seriam públicos. O pleito decidiu por 39 a 32, pelo voto secreto, com cinco abstenções.  

O segundo item da pauta foi referente ao peso dos votos de cada categoria. Durante o debate, o texto da comissão do assento eleitoral apresentava uma melhoria no cálculo dos votos, através dos denominadores, onde o peso seria calculado em cima dos votos válidos e não da totalidade de cada categoria. Contudo, o conselheiro Danilo Blank fez um destaque ao texto da comissão, sugerindo que o cálculo retornasse a ser como no último pleito, ou seja, levando em conta a totalidade de votantes habilitados. Os conselheiros acabaram votando contra a proposta original da comissão, diluindo ainda mais o peso dos votos dos estudantes. Foram 35 votos a favor, 30 contra e quatro abstenções. 

Sem a diluição, por exemplo, o índice de votos no candidato X seria dividido pelo número de alunos que foram no pleito; na fórmula aprovada, com a diluição, esse número de votos no candidato X vai ser dividido pelo total de alunos da Universidade. Na avaliação da Assufrgs (Sindicato dos Técnico-Administrativos da UFRGS, UFSCPA e IFRS), essa medida diminui o peso dos votos das categorias, sendo mais cruel com os estudantes, que somando graduação e pós-graduação, chegam a mais de 40 mil votantes habilitados. “Um ataque frontal ao pouco avanço democrático que o atual processo havia conquistado, ainda no âmbito da comissão.” 

A coordenadora geral do DCE da UFRGS, Tirza Gabriela Drumond Ferreira, ressalta toda a campanha feita em prol da paridade e da importância da mesma para ampliação da democracia, que segundo ela é a melhor tática de defesa para qualquer possível interventor. “Atualmente, 61,9% das IFES já adotaram o sistema paritário para eleições, garantindo pesos iguais para os diferentes segmentos da Universidade. Na UFRGS, a luta pela paridade é histórica, mas, hoje, além de aprovar as eleições de forma proporcional (70% do peso dos votos para docentes e 30% para as demais categorias), aprovou-se também o fator redutor na votação. Esse fator, na realidade, vai fazer com que o voto dos discentes valha de 3 a 5% do pleito eleitoral de escolha do próximo reitor ou reitora.” 

Conforme ressalta a coordenadora, na divisão dos 30% entre técnicos e estudantes, faz-se com que se precise uma participação muito alta dos segmentos. Segundo ela, essa participação já é difícil em tempos "normais", com a pandemia ficará muito mais difícil, pois nem todos terão acesso a uma votação virtual. “Se não conseguirmos que todos os representantes votem, entre técnicos e estudantes, o que contabiliza cerca de 40 mil pessoas, a gente vai ter o fator de redução, e não vamos nem ter peso de 15%. Isso é um absurdo. Uma artimanha para se colocar um candidato que não seja o representante dos estudantes e técnicos." 

Defensora da paridade, a Associação de Pós Graduandos (APG) da UFRGS também se manifestou contrária à forma como foi definida a consulta. Em nota enviada ao Brasil de Fato, a entidade pontua que o conselho, baseado no autoritarismo, aprovou regras eleitorais sobre o formato da consulta que desconsideram a importância de todos os segmentos da Comunidade Universitária. Além da negativa sobre a possibilidade da paridade, foi aprovada nova forma da contagem dos votos com um fator redutor, que dilui a possibilidade de votação dos estudantes. "Esse fator foi aprovado e, na prática, como nossa comunidade discente na UFRGS é maior que 40 mil estudantes, os estudantes tiveram diminuído o peso de seus votos para Reitor(a) e Vice-reitor(a), passando a valer menos do que 5% do pleito eleitoral. Nós da APG UFRGS votamos pela deliberação aberta e transparente, como já havia sido realizada em outros momentos no Conselho Universitário. Por isso, repudiamos a manutenção de medidas antidemocráticas pelo Consun!", afirmam. 

Ainda ao final da reunião, o plenário do Consun aprovou a proposta final de assento eleitoral, dando seguimento aos trâmites do processo eleitoral para a reitoria da UFRGS. Foram 38 votos a favor, 25 contra e duas abstenções. O calendário inicia nesta quarta-feira (17), e pode ser acompanhado pelo portal da Universidade.

Entidades se manifestam sobre a votação

A Assufrgs lançou nota sobre a decisão do conselho. De acordo com o texto a defesa da paridade como ferramenta de democratização foi realizada com convicção em todos os momentos pelos representantes técnico-administrativos em educação, pelos discentes e por muitos docentes. “Mas o clamor e a pressão não foram acolhidos pela pequena maioria do plenário do conselho, que tem 70% de docentes. Uma pequena maioria de docentes ainda acredita que pode definir quem será o reitor sozinha, assim como acredita que pode garantir sua nomeação sem a mobilização da comunidade, só com o estrito cumprimento da lei, conforme a interpretam.”

Além da Assufrgs, representantes da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) no Conselho, publicaram uma carta em que manifestam repúdio às novas regras eleitorais estabelecidas. “Votamos pela paridade e manifestamos nosso repúdio ao destaque que reduziu a menos de 15% o peso dos votos de nossos estudantes e de colegas técnico-administrativos. Estreita maioria do Consun cassou, na prática, a voz de técnicos e estudantes e desconsiderou o momento delicado pelo qual estamos passando. Sem levar em conta as dificuldades tecnológicas a que temos que nos submeter nestes últimos meses, num processo que será totalmente eletrônico, a decisão tomada hoje é ainda mais excludente”. 

O presidente da Adufrgs-Sindical, Lúcio Olímpio de Carvalho Vieira, lembrou que a entidade fez uma consulta no final do ano passado sobre o que seria conveniente, dos 744 professores participantes, 75% manifestaram favorável ao respeito à legislação atual, com o intuito de evitar qualquer tipo de intervenção. “Cabe a nós observar aquilo que já temos manifestado, a observância da lei, e todas as nossas ações no sentido de garantir que a decisão sobre a escolha do reitor seja feita no âmbito da Universidade pelos seus segmentos, evitando a todo custo qualquer justificativa para o governo, que não tem negado a sua intenção de promover intervenções nas universidades", pontua reconhecendo as posições divergentes sobre o resultado. 

“Queremos nesse momento é cada vez mais defender a democracia dentro das nossas instituições. Temos uma proposta de regulamentação do artigo da Constituição, onde propusemos o marco regulatório das universidades, para cada uma tenha autonomia para, dentro do seu âmbito, decidir como deve fazer a escolha dos seus reitores”, assinala. 

Confira o calendário eleitoral:

17/6 - Lançamento do edital convocando a consulta para o dia 13 de julho;

17/6 - Início do prazo de inscrição dos candidatos através de processo SEI encaminhado à Secretaria do CONSUN - SECCON;

18/6 - Divulgação eletrônica da relação dos votantes docentes, técnicos e discentes;

19/6 - Encerramento do prazo, às 18h, de inscrição dos candidatos;

19/6 - Divulgação eletrônica dos candidatos inscritos até às 21h; sorteio público da ordem dos nomes na cédula única digital oficial, até 22h; início do prazo de impugnações das candidaturas e dos votantes duplamente relacionados;

22/6 - Encerramento do prazo de impugnações às 16h; julgamento dos pedidos de impugnação e divulgação dos resultados, até às 22h;

23/6 - Início do período de campanha e de realização de debates;

12/7 - Encerramento da campanha eleitoral às 23h59;

13/7 - Realização da Consulta das 7 às 22 horas; divulgação dos resultados da Consulta até 23h59;

14/7 - Abertura do prazo para encaminhamento de recursos;

15/7 - Fim do prazo para encaminhamento de recursos até 12h;

16/7 - Julgamento dos recursos e divulgação do resultado até 12h;

17/7 - Reunião do Conselho Universitário para eleição da lista tríplice e respectiva divulgação.

*Com informações da Assufrgs e do site da UFRGS

Edição: Katia Marko