Rio Grande do Sul

Contra a fome

Apesar da mobilização, Cozinha Solidária da Azenha tem 48 horas para sair do local

Após audiência na tarde desta terça-feira (5), Justiça Federal decidiu pela reintegração de posse do terreno da União

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Cozinheira Isaura é uma das voluntárias da iniciativa do MTST em Porto Alegre - Foto: Fabiana Reinholz

Na tarde desta terça-feira (5), representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) reuniram-se com a juíza federal Ana Maria Wickert Theisen e com integrantes da Superintendência de Patrimônio da União (SPU) para discutir o processo de reintegração de posse do imóvel onde foi instalada a Cozinha Solidária da Azenha, em Porto Alegre. Sem acordo entre as partes, a magistrada determinou o despejo no período de 48 horas. Funcionando desde o dia 26 de setembro, a cozinha já distribuiu mais de 900 marmitas. 

Conforme pontuou a juíza Theisen, em despacho publicado após a reunião, o encontro teve como finalidade estabelecer um consenso entre a União e os organizadores da Cozinha Solidária a respeito de um prazo para a desocupação e o processo do mesmo. A União sugeriu o prazo de 24 horas para o despejo. Já o MTST pediu mais tempo. Sem haver consenso das partes, a juíza por fim estipulou um prazo de 48 horas. O pedido de reintegração por parte da União foi solicitado no dia 27 de setembro. Desde então o movimento, com apoio de parlamentares e outras entidades e organizações sociais, vinha pleiteando uma mesa de diálogo e a tentativa de permanência no local. 

Após a reunião, o coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e um dos coordenadores da Cozinha Solidária da Azenha, Eduardo Osório, destacou que a juíza não estava interessada em debater a fome, mas sim de encaminhar uma decisão sobre a reintegração de posse da propriedade reivindicada pela União. De acordo com Osório, a Cozinha Solidária da Azenha deverá continuar, seja no local em que está hoje, seja em outro local do bairro.

“Vamos seguir cozinhando, seja nessas 48 horas, seja nas próximas 72 horas. O movimento não vai parar de cozinhar em qualquer momento, a cozinha seguirá a todo vapor. Não vamos desistir, não vamos simplesmente fechar nossas panelas, desligar os nossos fogões. Sentimento é de panela no fogo, pressão a todo vapor e comida sendo preparada com muito mais amor, afeto, mais força do que antes”, complementou Juliana Morra, uma das coordenadoras do projeto. 

Ela destacou que a cozinha, na manhã desta quarta-feira (6), continua recebendo o apoio de moradores e comerciantes da região. “As pessoas continuam chegando, fazendo esse trabalho com a gente, querendo conversar, saber como podem ajudar na situação, para ampliar. Acho que o que fica dessa situação toda é que a gente está, mais uma vez, provando a força que os movimentos sociais têm e que o MTST não é só um movimento de luta por moradia, mas também um movimento que luta pelo direito à cidade, seja pautando a fome ou a moradia em si”, ressaltou.

Em nota, o Movimento destacou que o imóvel, que pertence à União, estava abandonado, sem uso e sem função social, e que ficará vazio novamente ou será oferecido à especulação imobiliária. “Em Porto Alegre, mais de 160 mil pessoas estão em situação de vulnerabilidade social. Somente no último ano, a população de rua aumentou em 40%. O MTST nunca saiu das ruas, porque sabe do compromisso que tem com a transformação social e com a vida das pessoas. Já a Justiça brasileira optou por, mais uma vez, se colocar contra o povo. Com tanta gente sem ter o que comer, seguiremos com o propósito de combater a fome, oferecendo comida de qualidade a quem precisa”, diz trecho do texto.

Enquanto acontecia a reunião, manifestantes ficaram em frente ao prédio da Justiça Federal fazendo vigília. A Rede Soberania esteve no local para conferir a mobilização e conversou com integrantes do movimento. Assista:

Na segunda-feira, o Brasil de Fato RS foi até a cozinha para conhecer de perto o trabalho realizado.


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Edição: Marcelo Ferreira