Rio Grande do Sul

RELIGIOSIDADE E LUTA

Centenas de ônibus são esperados nesta terça de Carnaval em Ilópolis para 44ª Romaria da Terra

Por causa da pandemia estão sendo esperados pouco mais de 1600 participantes dos movimentos populares e pastorais

Brasil de Fato | Porto Alegre |
44ª Romaria da Terra espera milhares de pessoas em Ilópolis - Reprodução: Romaria da Terra

Na próxima terça-feira (1º), o município de Ilópolis espera centenas de delegações de diversas dioceses gaúchas para a 44ª Romaria da Terra. Este ano, devido ao agravamento da pandemia pela variante Ômicron, os organizadores pedem que os diversos movimentos populares e pastorais que tradicionalmente levam cerca de 30 mil pessoas para a atividade enviem apenas representações, evitando assim a grande aglomeração que costuma acontecer anualmente. Estão sendo esperados pouco mais de 1600 participantes, justificou Luis Antônio Pazinato, da Comissão Pastoral da Terra (CPT/RS)

Segundo ele, a programação será a seguinte: os romeiros e as romeiras serão recepcionados a partir das 7h30, em frente ao Museu do Pão, com lanche e água. A abertura acontecerá às 8h30 com falas, cantos e encenações. Logo após, terá início a caminhada percorrendo ruas da cidade com paradas temáticas. A caminhada segue em direção ao Parque do Ibama (Parque da Erva Mate) onde será realizada a celebração Eucarística, com bênção dos alimentos. Depois do almoço ficará tempo livre para as pessoas visitarem o parque da Erva Mate, as tendas de alimentação e alternativas da agroecologia e algumas falas e músicas populares.

O evento será transmitido nas seguintes páginas do Facebook: Rede Soberania, Romaria da Terra do RS, Paróquia Santuário São Paulo Apóstolo, CNBB SUL 3, Diocese de Santa Cruz do Sul e Brasil de Fato RS.

O tema da romaria deste ano é “Agricultura Familiar e Agroecologia: Sinais de Esperança”. O bispo diocesano de Santa Cruz do Sul, Dom Aluísio Dilli, disse que “o município escolhido se localiza dentro da nossa Diocese. É uma região onde muitos pequenos proprietários se dedicam com maestria ao cultivo da erva mate ou à produção de outros alimentos, comprovando que a agricultura familiar não é apenas viável, mas caminho de sucesso e garantia de continuidade para as futuras gerações”. Dom Aluísio acrescentou, “a agricultura familiar valoriza a agroecologia: entre os clamores das Romarias da Terra está a importância de evitar as sementes transgênicas e produzir alimentos sem agrotóxicos, sem venenos que acabam com nossa saúde e a dos outros. São dois princípios que sustentam a agricultura familiar e a diferenciam do agronegócio”.

Conforme o bispo, o lema da 44ª Romaria da Terra – “Irmãs e Irmãos, Cuidemos da Mãe Terra” – se fundamenta em duas encíclicas do Papa Francisco. 1º. Na Laudato Si (sobre o cuidado da Casa Comum), o Papa insiste na necessidade de cuidarmos da nossa Mãe Terra. A terra não pode ser tratada exclusivamente com objetivos de exploração, mas precisa ser respeitada como Mãe, que nos garante o alimento e a água. Ela é a nossa “casa comum”, devendo ser tratada como nosso lar. 2º. Na Fratelli Tutti (sobre a Fraternidade e a Amizade Social), o Papa insiste: “Somos todos irmãos”.

44 Romarias marcam a história da Igreja no RS

As romarias ficaram marcadas pelos seus temas e lemas ao longo dessa caminhada. A causa indígena: O Santuário de São Sepé Tiaraju – 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 12ª, 15ª e 39ª. A causa agrária: O Santuário de Rôse – 5ª, 9ª, 17ª, 25ª, 29ª, 34ª, 37ª e 40ª. A causa da juventude camponesa: O santuário de Elton Brum da Silva – 8ª e 31ª. A causa dos atingidos pelas barragens: O santuário de Nicinha – 6ª e 10ª . A causa quilombola: O santuário de Zumbi dos Palmares – 11ª e 33ª. A causa urbana: O santuário de Santo Operário – 7ª. A causa da agricultura familiar: O santuário de Margarida Alves – 13ª, 14ª, 16ª, 18ª, 19ª, 21ª, 22ª, 23ª, 24ª, 28ª, 35ª e 38ª e 42ª. A causa da mulher: o Santuário do Movimento de Mulheres Camponesas – 41ª. A causa ecológica: O santuário de Chico Mendes – 20ª, 26ª, 27ª, 30ª, 32ª, 36ª e 44ª.


No município de Ilópolis/RS existem atualmente mais de trinta ervateiras ou agroindústrias de erva-mate da melhor qualidade / Foto: Fernando Dias/Seapdr

Município com tradição do cultivo de erva-mate, Ilópolis tem sua economia baseada na agricultura familiar, com cerca de 30 ervateiras em atividade. Na revista da 44ª Romaria tem uma pequena história deste produto. A origem do chimarrão é herança dos povos indígenas que remonta há milhares de anos. “A Erva-Mate na nossa língua se escreve kogûn e utilizamos principalmente no chimarrão todos os dias, é uma herança dos nossos antepassados. Lembro do meu avô e minha avó tomarem chimarrão na cuia feita de Porongo e a bomba era de taquara, outra maneira era cortar um gomo de taquara e fazer como uma cuia também. Meu avô quebrava os galhos mais finos da erva, sapecava no fogo e depois socava num pilão e estava pronta a erva para o chimarrão. O índio não precisava plantar Erva, ela dava nos matos, era nativa, quem fazia o plantio era os passarinhos que comiam as sementes e depois semeava”, conta Luiz Alan Retanh Vaz, de 56 anos, que é o cacique da Aldeia Indígena Foxá, localizada em Jardim o Cedro, Lajeado-RS.

“A gente não vive sem o chimarrão, ele é muito importante para o índio, é da nossa cultura, quando levantamos cedo já esquentamos a água e preparamos o chimarrão e durante o dia sempre tomamos”, comenta Mari Terezinha Franco, 50 anos, esposa de Luiz Alan. Não só os Guaranis, mas também os Kaingangs, Charruas e Minuanos faziam e continuam a fazer uso do mate. Usos que vão desde mascar, como chá ou no chimarrão sem esquecer que para os indígenas ela também é considerada sagrada fazendo parte de rituais importantes da cultura. Ao final da 44ª Romaria cada participante receberá uma muda de erva-mate como lembrança do evento.


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Edição: Katia Marko