Rio Grande do Sul

TERRA

Indígenas, quilombolas e camponeses enfrentam avanço da grilagem sobre territórios tradicionais

Luta contra “projetos de morte” une diferentes povos que fazem de seu modo de vida uma forma de preservação da natureza

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O MST foi o responsável pela alimentação no Acampamento Terra Livre - Foto: Juliana Pesqueira - Apib/Coletivo Proteja

As três refeições diárias dos sete mil indígenas que participaram do 18° Acampamento Terra Livre (ATL) tiveram sabor de luta e solidariedade. Toneladas de alimentos sem veneno vieram de assentamentos da reforma agrária e foram preparados pelo MST, numa demonstração de unidade na defesa da terra.

Dinaman Tuxá, que integra a articulação dos povos indígenas, destaca que o evento buscou implementar a alimentação saudável como forma de resistência. “No Acampamento Terra Livre conseguimos concretizar a luta dos povos indígenas e a luta do MST, representada através dos seus alimentos”, diz.

Membro da direção do MST/RS, Jeronimo Pereira da Silva destaca que o objetivo da luta pela reforma agrária popular é apresentar para a sociedade um modelo que visa a democratização da terra. “A função social da terra é produzir alimentos. Isso nos coloca juntos na luta porque, tanto indígenas quanto camponeses, são guardiões dos bens comuns da natureza”.

“Nós, movimentos do campo e indígenas, somos o principal alvo do agronegócio”, acrescenta Xiru, como é mais conhecido. Lembra que o modelo “é subsidiado pelo estado, não produz comida, degrada a natureza, expulsa trabalhadoras e trabalhadores do campo e indígenas de suas terras para entregar para empresas estrangeiras”.

Agenda anti-indígena

A primeira medida provisória do presidente (MP 870/19) passou a atribuição de demarcar terras indígenas e quilombolas para a ministra Teresa Cristina, da Agricultura. Com a Funai e o Incra enfraquecidos, nenhuma terra foi demarcada e as desapropriações foram suspensas.

Agora, com o PL 191/20, Bolsonaro quer entregar as áreas indígenas para o garimpo e o agronegócio. Além disso, o PL 490/07, que limita o reconhecimento de novas terras tradicionalmente habitadas por povos nativos, foi desengavetado por sua base no Congresso. Situação que contribui para o avanço da violência contra os povos tradicionais.

Quilombolas na mesma luta

Membro da Frente Quilombola/RS, o advogado Onir de Araújo ressalta que a resistência quilombola só foi possível a partir do acolhimento do povo negro sequestrado da África pelos indígenas. “Foi essa aliança que permitiu resistirmos para reconstruir as nossas liberdades expressas na territorialização negra, quilombola e originária”.

Para ele, o inimigo comum está materializado nos que se beneficiam da “infâmia colonial, racista e rentista que perdura há 522 anos e é responsável pelas condições miseráveis de vida impostas aos nossos povos”. Entende que a resistência quilombola tem a tarefa de se somar na luta contra “os projetos de lei de morte”, bem como “para que o STF afaste definitivamente a famigerada, racista e genocida tese do Marco Temporal”.


Em 2021, a Frente Quilombola do RS se uniu ao ato em Porto Alegre contra o PL 490 e o "marco temporal" / Flavia Frediani


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Edição: Ayrton Centeno