Rio Grande do Sul

Manifestação

Ato por paz, justiça e democracia em Porto Alegre pede o fim da violência política no país

Movimentos sociais e entidades lançaram manifesto que lembrou de lideranças assassinadas por motivação política

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Celebração ecumênica foi realizada no sétimo dia do assassinato do dirigente do PT e sindicalista Marcelo Arruda - Foto: Jorge Leão

“É preciso parar o ódio e a intolerância que alimentam uma política da morte no Brasil. Este é um chamamento à PAZ e à justiça”, destaca o Manifesto pela Paz, Justiça e Democracia, lançado neste final de semana durante ato ecumênico realizado na manhã de domingo (17), em Porto Alegre. Mesmo com frio de 10ºC, dezenas de representantes de entidades sindicais, movimentos sociais, juristas, parlamentares e militantes de partidos de esquerda se reuniram em frente ao Monumento ao Expedicionário, no Parque da Redenção, pedindo um basta à violência política que toma conta do país.

A manifestação na capital gaúcha integrou uma série de atos realizados pelo Brasil neste final de semana por justiça para Marcelo Arruda. Ocorreu no sétimo dia da morte do dirigente do PT e sindicalista de Foz do Iguaçu (PR). Ele foi assassinado a tiros no último sábado (9), durante a comemoração do seu aniversário de 50 anos por Jorge José da Rocha Guaranho, policial federal penitenciário que invadiu o local da festa aos gritos de “aqui é Bolsonaro” e xingamentos contra Lula e o PT. Diversas

A celebração ecumênica foi marcada pelo combate ao fascismo e teve manifestações de movimentos religiosos, de juristas pela democracia, da Frente Brasil Popular e um de policial antifascista. E não faltou cultura, com a música do grupo “Ai que saudades do meu ex”.

O “Manifesto pela Paz, Justiça e Democracia”, já assinado por mais de 30 entidades e que será disponibilizado para adesões nas redes sociais, foi lançado no final do ato. "Vivemos tempos de abuso de poder, de autoritarismo, de ataques às instituições democráticas, de manipulação em rede através das fake news", diz trecho do texto, que traz à memória outras pessoas assassinada por motivação política, como Dom Phillips e Bruno Pereira e Marielle Franco.


Grupo "Ai que saudades do meu ex" participou da manifestação / Foto: Jorge Leão

Derrotar a cultura do ódio

“A violência precisa ser estancada”, afirmou o representante do Movimento Inter-religioso de Porto Alegre Waldir Bohn Gass, lembrando o recente documento “Um clamor pela paz”, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “A luta pela paz é essencialmente a luta pela justiça e um político nunca deveria semear ódio e medo, mas esperança”, destacou.

O frei José Deon, das pastorais da CNBB, pontuou que “o Deus cristão não combina com armas” e pediu um minuto de silêncio às vítimas do ódio e da violência política. Além de Marcelo, recordou de vários vários nomes, Dom,, Bruno, Marielle, Irmã Dorothy, Genivaldo, Chico Mendes, Padre Josimo, Vladimir Herzog, dentre outros. Também foram lembradas as vítimas da covid-19. Ele pediu também “uma salva de palmas a todos os que alimentam a esperança”.

“Unidos e solidários, nós nos juntamos na dor”, salientou o representante do Movimento Fé e Política, Selvino Heck. “No nosso coração pulsa a solidariedade de quem luta e está junto dos pobres, dos oprimidos, dos ofendidos, das mulheres, dos jovens, do povo LGBTQIA+ e de tantos e tantas que sofrem a violência que nós queremos parar”, ressaltou.

Conforme destacou o representante da Associação Brasileira Juristas pela Democracia (ABJD), José Carlos Moreira da Silva Filho, o caso de Marcelo “não foi um ato isolado, mas vem precedido de um ambiente estimulado por autoridades, que estimulam através de discurso de ódio, da incitação à violência, que as pessoas que os seguem, reproduzam e concretizem essa violência”. Ele citou exemplos históricos de outros países, como Uganda, Alemanha nazista e Itália fascista, observando que “esses discursos de ódio nada tem a ver com a democracia”.  

“No ambiente político e público, quando esse discurso de ódio e a violência que dele vem não é chamado com todas as letras e palavras que deveria ser, a tendência é que isso se amplie”, complementou Moreira. “A experiência histórica mostrou que o fascismo, na medida em que ele vai crescer e se alimenta, só encontra uma forma de ser interrompido: é as pessoas irem às ruas e mostrarem que não têm medo, afirmando claramente a sua alegria de viver e a sua esperança de uma sociedade melhor”, apontou o jurista.

O jurista destacou ainda que o relatório da Polícia Civil do Paraná sobre o assassinato de Marcelo “quis apagar a existência de motivação política daquele ato criminoso, o que é algo extremamente prejudicial para ambiente de constante violência para que ele seja estancado e favorável para que ele se amplie”.


"Vivemos tempos de abuso de poder, de autoritarismo, de ataques às instituições democráticas, de manipulação em rede através das fake news", destaca manifesto / Foto: Jorge Leão

"Violência impulsionada por Bolsonaro"

O representante da Associação de Juristas pela Democracia (Ajurd), Leonardo Gauer, também expressou “solidariedade e indignação” e destacou que “a violência não surge com Bolsonaro, mas é impulsionada por Bolsonaro com o discurso de ódio”.

Segundo ele, “os últimos 45 anos têm sido uma verdadeira tragédia para os defensores e as defensoras de direitos humanos, com ofensas às mulheres, a comunidades indígenas, a negros e negras”. Na sua avaliação, “é um repertório tão vasto que perdemos a conta das vítimas e dos mártires”. “É nosso papel derrotar o fascismo e a cultura de ódio”, apontou o jurista da Ajurd.

O secretário de Organização e Política Sindical da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS), Claudir Nespolo, falou em nome da Frente Brasil Popular e lembrou que as mães ensinam os seus filhos a serem bons e solidários. “Nenhuma mãe ensina alguém a ser ruim, atacar os outros.” Segundo ele, "colocar a fera do fascismo de volta para a jaula" só será possível com muita organização e manifestação nas ruas. "As eleições não vão resolver, mas vão ajudar a criar um ambiente para que a gente continuar disputando e colocar o fascismo de volta para a jaula, de onde nunca devia ter saído."

Houve ainda a fala de um representante do núcleo dos Policiais Antifascistas, que era integrado por Marcelo, destacando a necessidade de recuperar as instituições brasileiras contaminadas pelo fascismo.

O ato contou com a participação de vários dirigentes sindicais, movimentos sociais, como a Marcha Mundial de Mulheres, Associação Mães e Pais pela Democracia e Movimento Nacional de Luta pela Moradia, dentre outros. Também estiveram presentes deputados e representantes de gabinetes e vereadores e suplentes.

Abaixo o manifesto completo 

MANIFESTO PELA PAZ, JUSTIÇA E DEMOCRACIA

Marcelo, Bruno, Dom, Anderson, Marielle, Chico Kalunga, Salviano Souza Conceição, José Francisco Lopes Rodrigues (Quiqui), Zé do Lago, Márcia Lisboa, Joene Lisboa, Moa do Katendê: todos assassinados por motivação política. Lideranças partidárias, indígenas, ambientalistas, quilombolas que lutavam por democracia, justiça, pelo direito à terra, à moradia e ao meio ambiente. Estudo da UnioRio aponta que, nos últimos três anos, a violência política cresceu 335%. Apenas em 2022 45 lideranças políticas foram vítimas de homicídio. São 1209 ataques a políticos ocorridos desde janeiro de 2019, primeiro mês do governo Bolsonaro.

Vivemos tempos de abuso de poder, de autoritarismo, de ataques às instituições democráticas, de manipulação em rede através das fake news. Marcelo defendia a pré-candidatura de Lula. Dom e Bruno defendiam a Amazônia. Marielle e Anderson defendiam a população das favelas cariocas. Chico Kalunga e Salviano eram militantes quilombolas na Chapada dos Veadeiros. Quiqui denunciava fazendeiros pela violação dos direitos humanos no Maranhão. O ambientalista Zé do Lago, sua esposa Marcia e sua  filha Joene foram assassinados no Pará, onde combatiam o garimpo ilegal. Moa do Katendê foi morto com 12 facadas pelas costas por defender o voto no PT e se declarar contrário a Bolsonaro.

Diante de um governo corrupto e condescendente com as ações criminosas de latifundiários, grileiros, milicianos, vemos avançar o desmatamento, o envenenamento dos rios e dos alimentos pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, a dizimação de terras indígenas e quilombolas até chegar ao extremo de eliminação da vida de quem ousa combater essa rede de criminosos.

É preciso parar o ódio e a intolerância que alimentam uma política da morte no Brasil. Este é um chamamento à PAZ e à justiça. Um chamado a todas as pessoas comprometidas com a preservação da vida e dos valores democráticos, que transcende siglas partidárias e credos religiosos e quaisquer outras bandeiras. Sem PAZ e justiça não teremos democracia. E sem democracia tampouco teremos PAZ e justiça.

Porto Alegre, 17 de Julho de 2022

Cozinhas Comunitárias do Partenon
Movimento Nacional de luta pela Moradia
Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático e de Direito
Coletivo A voz do Povo Alvorada
Comitê de Lutas do Partenon
PT Porto Alegre
Cozinha comunitária Vidas de Luz Paulina C. Mendes
Coletivo É As Guria Alvorada
Associação de Juristas pela Democracia - AJURD
Democracia Municipária
Cáritas Brasileira - Regional RS
Comitê Suprapartidário Pela Democracia - Cidade Baixa - POA/RS
Horta comunitária do Morro da Cruz
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Secretaria Municipal das Mulheres do PT - Coletivo Michele Sandri
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia - Núcleo Rio Grande do Sul / ABJD/RS
Comitê Popular pelos Direitos Humanos e população LGBTQIAP+
MMDINCLUSIVASS, FRJSPARTENON e CDS PARTENON
Associação de Mulheres Maria da Glória
Setorial LGBTI de Porto Alegre
Coletivo A voz do Povo
AMOVITA - Vila São Judas Tadeu
Grupo de mulheres vidas de luz Paulina C Mendes Rosa
Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vitimas da Covid-19 Vida e Justiça
Coletivo Figueira Negra Alvorada
Comitê Popular de Luta LGBTQIA+ Porto Alegre
Coletivo RJ por Memória, Verdade, Justiça e Reparação
Nuances - grupo pela livre expressão sexual
Comitê Popular de Luta A Treze Minutos do
Associação Cultural José Martí do RS
Marcha Mundial das Mulheres
CUT/RS
Deputada Federal Maria do Rosário

*Com informações da CUT-RS


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Edição: Marcelo Ferreira