Rio Grande do Sul

CONTRA A VIOLÊNCIA

MAB entrega nota de repúdio ao feminicídio de Débora Moraes ao presidente da Câmara Municipal

Encontro no Legislativo, nesta quarta-feira (21), foi marcado por aceno a possibilidade de homenagem à dirigente 

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Parlamentar irá protocolar na Câmara o pedido de aprovação de uma Moção de Repúdio ao assassinato de Débora - Foto: Coletivo de Comunicação MAB RS

Representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) foram recebidos, na tarde desta quarta-feira (21), pelo presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Idenir Cecchim (MDB). No encontro, acompanhado pelos vereadores Leonel Radde e Aldacir Oliboni, ambos do PT, as representantes entregaram aos parlamentares uma nota de repúdio ao assassinato de Débora Moraes, um das coordenadoras da entidade, vítima de feminicídio no dia 12 de setembro. 

De acordo com as representantes, na reunião também foi destacado o apoio do movimento à família da Débora, assim como a atuação da coordenadora na organização em prol das famílias atingidas pela barragem da lomba do Sabão, localizada na Lomba do Pinheiro, periferia da Capital.

Ainda segundo relato das representantes, Cecchim mencionou a possibilidade de homenagear Débora nomeando uma das ruas da sua região como Rua Débora Moraes. Contudo, explicou, que é um processo que precisa aguardar ainda seis meses. O vereador Radde irá protocolar na Câmara o pedido de aprovação de uma Moção de Repúdio ao assassinato.   

“Estas iniciativas da Câmara de Vereadores de Porto Alegre apontam para o legado que Débora deixou para a cidade, fazem memória à sua luta e pedem justiça pelo crime que sofreu”, destaca o MAB.

O caso

A coordenadora do MAB em Porto Alegre, Débora Moraes, foi vítima de feminicídio, no dia 12 de setembro, em sua residência, na Vila dos Herdeiros, zona Leste da capital gaúcha. O assassinato foi cometido por seu marido, que foi preso em flagrante, segundo informou a 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre. Débora deixou uma filha de 6 anos. Há cerca de oito anos, havia perdido uma filha com anos de idade em um acidente de trânsito.

Na semana passada, manifestantes fizeram um ato em Porto Alegre pedindo justiça para Débora. Também foram realizadas  vigílias em Erechim (RS), Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Bahia.

Abaixo, a nota entregue na Câmara de Vereadores:

O patriarcado mata – Justiça por Debora!
Mulheres atingidas na luta em defesa da vida!

Que o vermelho do sangue das mulheres assassinadas
manche!
paredes, escadas e janelas
mudas, cegas e surdas
Que o vermelho derramado
ganhe vida
força e faça se reconhecer 
por todas nós....
(Patrícia Ribeiro – Soluçando Sangue)

Recebemos com indignação e tristeza a notícia da perda de mais uma companheira, vítima da violência do patriarcado. Na tarde do dia 12 de setembro foi assassinada Débora Moraes, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Porto Alegre. Era uma mulher jovem, mãe, alegre e aguerrida, que se colocava na linha de frente da luta por justiça. Débora tinha acabado de conquistar o direito ao reassentamento e sequer pode vivenciar sua conquista. O marido de Débora foi detido na cena do crime e levado pela polícia. Ela deixa uma filha de 6 anos.
    
O patriarcado se estrutura como um sistema de dominação das mulheres e se reproduz por meio da violência. Violência que hoje tira a vida da nossa companheira Débora, e que todo dia tira a vida de uma mulher a cada 6 horas e meia, segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 
    
O ódio contra nós, mulheres, e o desejo de controle sobre nossos corpos e nossas vidas está fortalecido hoje no Brasil e encontra expressão no governo de Jair Bolsonaro. O estímulo à violência, o deboche diante da morte e o machismo escancarado marcam seu discurso e suas ações. A piora nas condições de vida, a perda de empregos e o abandono de políticas sociais também agravam a situação e nos deixam ainda mais expostas à violência. Diante da perda de nossa companheira, reafirmamos o compromisso em lutar para derrotar de uma vez por todas o projeto de morte do bolsonarismo.

Nossa companheira foi vítima de um tipo guerra que acontece todo dia dentro de casa e também na rua. No início pode não fazer tanto barulho, ser sutil, silenciosa, cheia de dor e de marcas escondidas. Até que em um dia essa guerra alcança a mais cruel, dolorosa e desumana forma: o não poder viver. 
    
Assim, a violência contra as mulheres vai acontecendo no dia a dia, nas palavras que ameaçam, ridicularizam, humilham e manipulam. No controle das ações, dos comportamentos, das crenças, dos recursos financeiros. Acontece no empurrão, no tapa, no chute. Acontece no controle do corpo feminino pelo homem.
    
A violência contra as mulheres é ainda pública, perpetrada por uma cultura misógina e patriarcal que atravessa nossa história. Faz de nossos corpos espaços públicos de decisão e de poder dos outros. Faz das mulheres mercadoria. 
    
Nessa cultura de violência, duas em cada três mulheres vítimas de feminicídio no Brasil são negras, resultado da união devastadora do sistema patriarcal e do racismo que estruturam o capitalismo e sua reprodução. O feminicídio tem cor e tem classe, deixa filhos e filhas órfãos, mães e pais sem filhas, deixa um vazio para sempre na vida daqueles que ficam. 
     
Nós, mulheres atingidas por barragens organizadas no MAB, nos solidarizamos com a família, amigos e camaradas de luta da companheira Débora. Nesse momento de dor e revolta não silenciaremos. Levantamos nossas vozes pelo fim da violência contra as mulheres, dizemos basta ao femincídio. Conclamamos que é preciso acabar com a raiz do problema a partir do debate e ações práticas, que tratem das desigualdades históricas que fazem com que o gênero, a raça e a classe estruturem dinâmicas de opressão. Exigimos das autoridades justiça, e políticas de proteção às mulheres. Queremos o fim deste governo genocida, racista, misógino e LGBTfóbico e lutamos por direitos iguais e uma cultura de paz.
    
Seguimos em luta por Débora, Dilma, Nicinha, Bertha, Marielle, Dorothy e tantas outras companheiras cuja força nos inspira a continuar. Assim como os rios, que crescem quando se juntam, nós mulheres atingidas reunimos nossas resistências em cada grupo de famílias, comunidade, reassentamento, em cada periferia e reafirmamos que a nossa luta é pela vida das mulheres.

Dos rios de todo o Brasil, 13 de setembro de 2022.

Débora Moraes. Presente! Presente! Presente!
Mulheres, água e energia não são mercadorias.


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Edição: Marcelo Ferreira