Rio Grande do Sul

Eleições 2022

Live do Brasil de Fato RS debateu o papel das pesquisas de opinião pública nas eleições de 2022

Roberto Garcia, analista de opinião pública da Studio Pesquisas, comentou a pesquisa que mais se aproximou do resultado

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Analista de opinião pública da Studio Pesquisas concedeu entrevista ao BdF RS, falando sobre as pesquisas eleitorais - Reprodução

Durante a corrida eleitoral, no primeiro turno, em 22 de setembro de 2022, o Brasil de Fato RS publicou uma pesquisa eleitoral realizada pela Studio Pesquisas que destoava das informações trazidas em levantamentos feitos por outros institutos.

A pesquisa registrada pelo Brasil de Fato RS mostrava um crescimento do candidato ao Senado Hamilton Mourão (Republicanos), à frente de Olívio Dutra (PT), contrariando o que apontavam outras pesquisas.

Além disso, mostrava que o candidato ao governo Onyx Lorenzoni (PL) angariava a preferência do eleitorado, sendo que Eduardo Leite (PSDB) e Edegar Pretto (PT) disputavam a preferência por uma vaga no segundo turno.

A tendência apontada pelo levantamento da Studio Pesquisas, que realizou a aferição, acabou se confirmando no domingo (2), após o fechamento das urnas e apuração dos resultados.

Além do RS, diversos outros estados do Brasil vivenciaram casos semelhantes, inclusive na própria eleição presidencial, suscitando um debate sobre a validade, confiança e credibilidade dos institutos, empresas e das próprias metodologias de pesquisa de opinião pública.

Para tratar sobre o assunto, o Brasil de Fato RS convidou o especialista em Ciências Sociais pela UFRGS e analista de opinião pública da Studio Pesquisas, Roberto Garcia, e o sociólogo e colunista do Brasil de Fato RS, Jorge Branco.

 

Cada eleição tem uma dinâmica

O analista de opinião pública Roberto Garcia explica que a pesquisa publicada pelo Brasil de Fato RS foi cercada por desconfianças.

"Cada eleição tem uma história. Quando a Studio vai fazendo rodadas de tracking, vamos entendendo a dinâmica daquela eleição. Nesse caso, haviam rumores de que a situação eleitoral não fosse a que estava sendo divulgada", conta.

O analista afirma que ficou surpreso com o resultado apresentado pela análise dos dados da pesquisa, que deu conta de um resultado que não aparecia em nenhuma outra.

"Nós realizamos uma pesquisa telefônica em que os entrevistados utilizam o teclado do telefone para responder, sem interferência humana. Essa técnica é muito utilizada no exterior e pouco utilizada no Brasil", relata.

Métodos e resultados diferentes

Garcia explica que, durante a pandemia, as pesquisas presenciais ficaram inviáveis, obrigando a Studio a testar essa modalidade de entrevista telefônica. Naquela ocasião, a experiência foi feita acerca de temas que envolviam a pandemia, tais como o uso de máscaras, vacinas, isolamento, etc.

"Utilizamos essa técnica para essa pesquisa eleitoral, em função da agilidade. É um desafio logístico muito grande fazer uma pesquisa no estado inteiro. Toda técnica tem vantagens e desvantagens, não existe metodologia ideal, esse debate que se estabeleceu é enviesado por interesses", contou.

Sobre as vantagens dessa técnica de entrevista telefônica, avalia que a principal é a impessoalidade, onde o entrevistado se sente mais à vontade para responder sem a intervenção do entrevistador.

"Surgiu um debate, no final da eleição, sobre o 'voto envergonhado'. Essa técnica tira de cena essa 'vergonha'. É um debate antigo sobre a chamada 'Espiral do Silêncio', que prega que determinados comportamentos são mais facilmente enunciados do que outros e por isso as pesquisas teriam dificuldade de captar certos comportamentos", opina.

Comportamentos e tendências

Afirma que é difícil saber se o RS foi atingido por esse fenômeno. A grande diferença captada pela pesquisa feita pela Studio foi com relação ao tamanho da preferência de Eduardo Leite (PSDB), que teve sua votação concentrada na Região Metropolitana de Porto Alegre.

"O desempenho dele em outros centros do estado foi pequeno. Como Porto Alegre tem uma grande visibilidade, talvez essa vantagem que ele tinha na Capital deu a falsa impressão de força no estado inteiro", aponta.

Questionado, o analista levantou a hipótese de que os institutos tivessem concentrado suas apurações na Região Metropolitana, o que não se confirmou quando analisou os dados de outras pesquisas.

"Eu fiz um teste do nosso desenho amostral e fiquei bastante satisfeito. Eu compilei o resultado da eleição com os 61 municípios onde fizemos a nossa amostra. Nesses locais, as diferenças da pesquisa com o resultado da eleição variou muito pouco."

Garcia afirma que a elaboração de um desenho amostral de qualidade foi um dos fatores que contribuiu para o sucesso da aferição. O desenho representou cidades em todas as regiões do estado, coordenando o tamanho do eleitorado nessas regiões para escolher determinados municípios.

Movimentação de votos foi determinante

O analista acredita que uma dinâmica para o primeiro turno da eleição ao governo do RS foi predominante nas duas semanas anteriores ao pleito. "Assumindo que a gente tenha distribuído corretamente a intenção de voto naquele momento, acho que houve uma migração em torno de 5% do eleitorado de Leite e Heinze para Onyx e Edegar."

Ele acredita que o mesmo movimento se repetiu na disputa do Senado. Essa migração de votos acompanhou determinadas tendências da disputa nacional

Pesquisas não preveem o futuro

Para o sociólogo Jorge Branco, em via de regra, as pesquisas de intenção de voto das eleições deste ano acertaram os resultados.

"Isso não significa que as pesquisas acertaram o que ia acontecer nas urnas. Mas, compreendendo qual o papel e quais os limites, elas ficaram dentro de um acerto/erro plausível. As pesquisas são ciência, que dizem respeito a uma probabilidade de acerto e de erro", explica, ressaltando que a ciência não prevê o futuro, mas nos ajuda a aproximar da realidade, que está sempre em transformação.

Reafirma que as pesquisas podem ser influenciadas por variáveis, como os recursos disponíveis para a coleta até mesmo o tempo necessário. Uma pesquisa, no início de campanha, por exemplo, permite posicionar as candidaturas, do ponto de vista da retórica e da própria estratégia de campanha. De outro lado, do ponto de vista político, a pesquisa pode servir como argumento para compor alianças e buscar apoios.

"Existe uma dimensão das pesquisas eleitorais que está na dimensão das técnicas e dos métodos científicos, e outra que está no campo da política", opina.

Branco alerta sobre a onda de descrédito nas pesquisas se insere no contexto de negação da ciência e dos instrumentos de análise. "A pesquisa não pode ser boa só quando atende aos meus interesses. Ela reflete uma realidade e pode interferir no futuro. Talvez, esse tenha sido o caso da pesquisa da Studio para o Senado aqui no RS, que demonstrava um crescimento do senador que acabou eleito."

Acredita que, compreendendo os limites dos contextos e das técnicas científicas, as pesquisas acertaram ao demonstrar tendências que se confirmaram. "As pesquisas eleitorais estão centro de um debate político, e não científico", finaliza.


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Edição: Marcelo Ferreira