Rio Grande do Sul

MANIFESTAÇÃO

Motoboys e entregadores protestam em Porto Alegre e exigem respeito da EPTC

Categoria se mobilizou após um motoboy sofrer abordagem violenta por parte de um agente municipal

Porto Alegre |
Manifestantes se reúnem em frente à EPTC - Foto: Carolina Lima

Com gritos, faixas e cartazes, motoboys e ciclistas entregadores de aplicativo protestaram contra abusos de fiscais da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), durante ato no final da tarde desta segunda-feira (17), em Porto Alegre.

A manifestação foi liderada pelo movimento “Nós por nós”, organizado por motoboys, com o apoio da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) e do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Porto Alegre (Sindimoto).

O protesto ocorreu após o motoboy Paulo Roberto Severo Vieira Júnior ter sofrido uma abordagem violenta por parte de um agente da EPTC numa blitz na última quinta-feira (13). O trabalhador relatou que foi agredido e teve o ciclomotor apreendido na ocasião.

Trabalhadores não podem ser criminalizados

“Eu estava indo arrumar minha bicicleta motorizada (ciclomotor), quando fui parado por um agente. Ele disse que a bicicleta estava sem equipamento de iluminação, que eu estava sem capacete e não havia documento de compra e venda do motor. Em um primeiro momento, não aceitei o documento que me deram”, relatou Paulo.

“Depois, aceitei e disse que só entregaria a bicicleta mediante a entrega do documento. Eu fiquei agarrado a ela até que o agente me tirou à força. Segurei ela até o final, quando me desequilibrei no meio-fio. Foi então que ele me deu um tapa no braço e uma rasteira. Me machuquei e estou até agora assim”, contou o trabalhador, mostrando uma marca de arranhão no joelho.

Os manifestantes estavam indignados com a situação e outras reivindicações foram feitas. Uma faixa com os dizeres “Respeita o motoboy” e “Motoboy não é bandido” foi estendida em frente à EPTC.

O secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, destacou que “esse é um setor que não teve folga durante a pandemia da covid-19, se expôs, cumpriu a sua função, foi necessário e fundamental para todo e qualquer cidadão que teve que ficar em casa. Eles estão aqui protestando porque a EPTC resolveu criminalizá-los".

“Nós queremos respeito e dignidade”

Motoboy há cinco anos e delegado sindical do Sindimoto, Douglas Benites usava um nariz de palhaço e denunciou a abordagem do fiscal da EPTC. "Houve um abuso de autoridade no exercício da função e queremos uma providência, pois temos que trabalhar", disse, mencionando que, em geral, a categoria precisa fazer uma média de 15 horas diárias para conseguir levar "arroz, feijão e carne para o sustento da família e pagar o aluguel".

Também houve reclamações sobre o número de multas e blitz direcionadas à categoria, que se sente muito desprotegida. “Quando todo mundo estava em casa parado, eu estava na rua ganhando R$ 5, R$ 3 para fazer uma entrega, arriscando a minha vida e a vida dos meus familiares. Onde estava a EPTC? Por que não tinha tantas barreiras? Por que não recolhiam tantas motos? Eles foram obrigados a precisar de nós e nós estávamos lá para servir. Nós queremos respeito e dignidade”, ressaltou o motoboy e diretor do Sindimoto, Jeferson Guerreiro.

"Sou motoboy e não garçom"

O ato contou ainda com a presença dos entregadores de bicicletas, que também fizeram reivindicações. “Estamos numa situação muito precária de trabalho, principalmente com a bicicleta. Desde que fiz um protesto, eu estou bloqueado no aplicativo. E estou aqui me solidarizando pelos meus colegas. A gente está numa condição muito terrível. É indispensável que a gente tenha o mínimo de condições para exercer nosso trabalho”, disse o entregador Talisson Vieira, que há dois anos mora na capital gaúcha.


Entregadores manifestam indignação / Foto: Carolina Lima

Erguendo o cartaz "Sou motoboy e não garçom" e "Não sou marginal, sou trabalhador", Maicon Cristiano Godoy, que trabalha há sete anos no setor, protestava contra as exigências dos clientes no momento da entrega. "Meu trabalho é em cima da moto, eu não sou garçom para estar servido dentro de casa. Estou na rua, na chuva, no frio, no calor, exposto ao perigo e não posso dar essa comodidade de entregar na porta da casa ou apartamento", ressaltou.

Segundo o Sindimoto, Porto Alegre tem em torno de 25 mil motoboys e o número sobe para 35 mil ao incluir a região Metropolitana.

“Estão criminalizando esses trabalhadores. A CUT-RS não poderia estar em outro lugar, senão junto em solidariedade a essa justa luta dos entregadores de comida, que buscam nada mais, nada menos, que ter um trabalho com dignidade”, destacou Claudir.

Luta por trabalho digno continua

Por volta das 18h30, o agente administrativo da EPTC, Henrique Batista, foi até o portão e convidou um representante para se reunir com o presidente da EPTC, Paulo Ramires. Após um negócio, um grupo de cinco integrantes das entidades foi recebido e a reunião durou um pouco mais de uma hora e meia.


Comissão entra para conversar com presidente da EPTC / Foto: Carolina Lima

O diretor jurídico do Sindimoto-RS, Felipe Carmona, resumiu o que foi tratado, dizendo que a EPTC irá apurar os fatos ocorridos. "Nós, do sindicato, avaliamos que houve um excesso por parte do servidor", disse.

Por ora, o agente envolvido segue no exercício de suas funções. O ciclomotor recolhido deve ser devolvido, após o motoboy entregar a documentação. "Ele deve pagar multas, guincho, mas, se for provado que houve excesso da abordagem, os valores serão reembolsados", antecipou. Carmona disse que estão previstos novos encontros, mas ainda não há data definidas.

Fonte: CUT-RS com informações do Correio do Povo e Gaúcha ZH.


:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::

Edição: Marcelo Ferreira