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CULTURA

Artigo | Entre elefantes, gorilas e leões: as lições da selva na lente de uma viajante

A exposição fotográfica "Vida sem Grades" vai até dia 26 de dezembro, com entrada franca, no Instituto Zoravia Bettiol

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Iara Tonidandel é fotográfa gaúcha com ênfase em fotografia de vida selvagem - Foto: Arquivo Pessoal

A Mostra Vida sem Grades, da fotógrafa Iara Tonidandel, conversa com uma pauta atual e urgente: a preservação do planeta. A gaúcha aprendeu com o pai, colecionador de objetos antigos, como máquinas fotográficas, a olhar o mundo a partir da lente de uma câmera. Bisneta de Davi Tonidandel, um dos fundadores do bairro Tristeza, na zona Sul de Porto Alegre, Iara passou a infância num sítio, rodeada por animais como patos, marrecos e muitos pássaros. Havia até um amplo viveiro no centro das seis casas da família.

Demorou algumas décadas para a câmera de Iara Tonidandel se voltar aos animais selvagens. Foi depois de uma peregrinação pelo Caminho de Santiago, na Espanha, em 2013. A seleção de mais de 90 fotografias reúne, no Instituto Zoravia Bettiol, parte do que ela produziu durante sete anos, em andanças pela América, África, Ásia e Oceania. Começou pelos biomas brasileiros Pantanal e Amazônia, de onde são os registros afetuosos de araras e tucanos. Os leões e leopardos são de um parque nacional da Tanzânia; as zebras da África do Sul; e os guepardos, da Namíbia. 

Já os elefantes, a fotógrafa encontrou mais de uma vez, e teve a possibilidade de chegar bem perto deles em um centro de reabilitação de Uganda, local para onde são levados animais resgatados de caçadores. Já em Ruanda, o desafio era fotografar os gorilas. Foram cinco dias de espera e longas trilhas até encontrar estes seres gigantes que impressionam e emocionam. Iara conta que chorou quando viu um gorila de perto pela primeira vez.


A seleção de mais de 90 fotografias reúne, no Instituto Zoravia Bettiol, parte do que ela produziu durante sete anos, em andanças pela América, África, Ásia e Oceania / Foto: Arquivo Pessoal


A fotógrafa Iara Tonidandel ao lado de Daniela Sallet, jornalista e conselheira do Instituto Zoravia Bettiol / Foto: Arquivo Pessoal

A curadoria de Zoravia Bettiol, que também tem longa trajetória como artista visual e ativista ambiental, permite mais do que viajar pelo mundo. O visitante acaba conhecendo bastidores de quem se desafia a fotografar a vida selvagem. Os lêmures, primatas da Ilha de Madagascar, subiram no equipamento da fotógrafa. Já na África do Sul, Iara pode beijar uma hipopótamo fêmea chamada Jéssica. O animal vive solto no braço de um rio, mas visita regularmente um casal de moradores e acabou aproximando-se dos seres humanos.

Fotografar a vida selvagem é um rito de observação e perseverança porque é necessário acompanhar o compasso dos animais, no tempo deles. O profissional não tem nenhum controle sobre a luz e o movimento do cenário e muito menos sobre os modelos, que simplesmente vivem livres no seu habitat. E é isso que instiga Iara Tonidandel. Na infância, era comum ela ficar de castigo por libertar pássaros do viveiro da família, sinal que já revelava seu absoluto amor pela vida longe das grades. A fotógrafa, que também é pedagoga e mestre em Educação, no fundo dá lições de sensibilidade, respeito e alegria com a sua arte. E alerta para a inadiável tarefa de preservar esta grande sala de aula chamada Terra.

* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko