Rio Grande do Sul

SOLIDARIEDADE

Famílias Sem Terra do RS estimam doar 35 toneladas de alimentos no Natal Sem Fome e Solidário

A campanha na região Metropolitana de Porto Alegre, no estado gaúcho, iniciou em novembro e segue até janeiro

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Durante o ano de 2022 as famílias assentadas e as cooperativas do MST do RS doaram mais de 100 toneladas - Foto: Maiara Rauber

“Nós do MST estamos reforçando que o Natal Sem Fome Solidário e a própria campanha Nacional de Solidariedade já faz parte da estrutura política e dos princípios do movimento. Vamos continuar compartilhando nossos alimentos saudáveis para aqueles que mais precisam”, salienta Geronimo da Silva, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio Grande do Sul. 

Durante o ano de 2022 as famílias assentadas e as cooperativas do MST do RS doaram mais de 100 toneladas de alimentos da Reforma Agrária Popular para cozinhas comunitárias e associações de moradores da região de Porto Alegre. Para completar o ano, os e as Sem Terra iniciam o Natal Sem Fome Solidário. A nível Nacional a campanha iniciou dia 17 de dezembro e se estende até 10 de janeiro de 2023. 

No entanto, no RS a primeira ação realizada foi no dia 26 de novembro no Encontro das Cozinhas Comunitárias e Lideranças Comunitárias da região Metropolitana de Porto Alegre, que ocorreu no Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), em Viamão.


No RS a primeira ação realizada no Encontro das Cozinhas Comunitárias e Lideranças Comunitárias da região Metropolitana / Foto: Divulgação MST

O encontro organizado pelo MST trouxe como palestrante a chefe de cozinha da Favela Orgânica Regina Tchelly, e teve a coordenação de Gerônimo da Silva juntamente com o IEJC. Participaram do dia de estudos e organização para o Natal Sem Fome Solidário cerca de 150 representantes das 39 cozinhas comunitárias, mais a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Movimento Nacional pela Moradia e Levante Popular Juventude. 

A reunião, de acordo com Silva, também contou com a presença de mais de 30 crianças. “As crianças nos trazem uma certa animação, e elas fazem parte desse processo, pois acompanham suas mães e pais na produção das marmitas solidárias”, relata o Sem Terra. Outro ponto apontado em relação às crianças é que elas estão automaticamente ligadas às mães, evidenciando que a iniciativa das cozinhas comunitárias deriva das mulheres, e onde elas estão, seus filhos e filhas também estão.

Para fechar o primeiro dia de ações de solidariedade, o IEJC realizou uma doação simbólica para as cozinhas comunitárias de alimentos produzidos na própria escola.


Participaram do dia de estudos e organização para o Natal Sem Fome Solidário cerca de 150 representantes das 39 cozinhas comunitárias / Foto: Divulgação MST

Alimento para quem precisa

No dia em que aconteceu a diplomação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 12 de dezembro, as cozinhas comunitárias de Porto Alegre e o Boca de Rua realizaram a distribuição de cerca de 800 marmitas. A refeição foi produzida com alimentos vindos de assentamentos e cooperativas do MST, para o povo em situação de rua que estava no entorno do Largo Glênio Peres, no Centro Histórico da Capital gaúcha.

Desde o dia 17 até o dia 24 de dezembro estão sendo organizadas diversas outras ações para a distribuição de cerca de 25 toneladas de alimentos da Reforma Agrária para as cozinhas comunitárias e associações de moradores da região Porto Alegre. Entre os alimentos que estão sendo entregues está o arroz orgânico, feijão, farinha láctea, suco orgânico, leite, laranja e pães.

“Serão entregues mais de 1.000 pães, produzidos pelas nossas cooperativas e 800 por uma padaria de sete mulheres de Canoas, sendo que elas já vem do processo da solidariedade, antes elas recebiam as doações e hoje já estão em condições de contribuir, e inclusive montando cozinhas para produzir marmitas” explica Silva. 

Para Ângela Comunal, vice-presidente da Associação de Mulheres Maria da Glória, localizada no Morro da Cruz, bairro São José, é muito importante o apoio do MST e dos outros movimentos sociais para a comunidade carente do Partenon no combate à fome.

“Tem muitas famílias que ainda passam fome sim, são os nossos vizinhos que estão passando fome e essa parceria com o movimento a gente tem desde o lançamento da cozinha comunitária, inauguramos em março de 2022”, destaca a cozinheira. Conforme ela, são produzidos semanalmente cerca de 500 marmitas e distribuídos para a população da comunidade do São José. 

Gerando autonomia

Além disso foi construído no bairro uma horta comunitária, com o auxílio do MST. “Muitos dos alimentos que estão em nossas marmitas foram produzidos pelas nossas famílias, na nossa horta comunitária” relata a moradora do Morro da Cruz. 

Ao produzir seus próprios alimentos, a partir da horta comunitária, as famílias transmitem uma alegria em seus olhares, pois segundo Ângela, faz toda a diferença elas fazerem parte dessa construção. Mesmo recebendo a doação de outros alimentos, a comida coletiva faz com que se sintam parte do processo de emancipação. 

Para marcar esse Natal Sem Fome Solidário está sendo realizado um trabalho direcionado para as crianças, com atrações, brincadeiras e brinquedos, além dos alimentos que são prioridade para elas, como o leite e o suco.

“Todo mundo está animado de fazer esse Natal Sem Fome, pois estamos com a esperança de um Brasil melhor. As ações solidárias estão com outro caráter, mais animadas. A gente vê mais perspectiva para o ano que vem com o próprio governo que é o Lula que vem com essa ideia de retomar o Brasil, a democracia, e fazer com que as pessoas tenham pelo menos três refeições por dia”, pontua Geronimo da Silva. De acordo com o Sem Terra, o governo Lula vem com a proposta de combater a fome no Brasil, um país rico que tem condições para colocar comida na vida de todos os brasileiros e brasileiras.

Marco histórico da solidariedade


Durante o ano de 2022 as famílias assentadas e as cooperativas do MST do RS doaram mais de 100 toneladas de alimentos / Foto: Maiara Rauber

Em 2020, no início da pandemia do covid 19, o MST RS buscou comunidades que estavam sofrendo com a falta de alimento. Com a ajuda dos assentados e das cooperativas foi possível compartilhar a produção da Reforma Agrária para amenizar a fome nesses locais. Também com o avanço da retirada de direitos e de políticas sociais, a fome na periferia aumentou drasticamente, sendo assim, as ações de solidariedade se tornaram centrais para garantir a dignidade para as pessoas. 

No Morro da Cruz, foi criado o Comitê de Combate à Fome da Lomba do Pinheiro, e logo o MST realizou uma parceria com a organização. “Foi o primeiro lugar histórico que fizemos uma doação. Doamos alimentos para 5800 pessoas, fomos para a comunidade com o caminhão cheio”, relembra Geronimo da Silva. 

Neste ano, foi resgatado esse marco histórico no dia 21 de dezembro com uma ação de solidariedade em parceria com as cozinhas comunitárias do local. O ato teve início às 10h com a distribuição de marmitas. “É muito importante o Natal Sem Fome articulado com grupos sociais organizados, e a Lomba do Pinheiro conseguiu fazer um processo não só de organização das cozinhas comunitárias e solidárias na comunidade, mas vai além, é um processo coletivo que vem do agricultor para a mesa do trabalhador na cidade, e as cozinhas acabam fazendo esse processo de articulação, são esse mediador entre as famílias necessitadas” enfatizou Sarai Brixner, integrante do Comitê Gaúcho de Combate à Fome e Contra o Vírus da Lomba do Pinheiro. 

Conforme Saraí, o ato tem um significado que vai para além da entrega de alimentos para as famílias. A ação tem um caráter organizativo, de resgate da esperança para as pessoas pois elas conseguem ver na ação das cozinhas comunitárias um espaço de referência. “É um lugar de apoio tanto do ponto de vista de amparo quanto na busca dos seus direitos, trabalho, organização social, acesso à políticas públicas, moradia e educação. Muita gente, por exemplo, tem problemas com violência doméstica, e esse espaço que a cozinha solidária se transformou na comunidade acabou sendo a referência, de articulação e formação local para esse grupo que antes estava desarticulado”, exemplifica a apoiadora.

O MST, através de sua produção e compartilhamento dos seus alimentos, consegue potencializar as ações na periferia, e comunidades, para que estas possam se auto organizar. 

“O grande desafio é garantir com que as pessoas consigam dar esse salto de consciência e sair apenas da caridade mas passar por um processo organizativo. A cozinha solidária vai muito além de simplesmente ser um espaço de produção de comida e distribuição, mas ela é um espaço de produção de cidadania e organização local”, finaliza Sarai.

Famílias assentadas e cooperativas do MST compartilham seus alimentos no RS


A Regional Roseli Nunes, do município de Pontão, doou cerca de 1.700 quilos de alimentos para 150 famílias de Palmeira das Missões / Foto: Divulgação MST

A solidariedade Sem Terra no RS se estende pelo estado em diversas regiões como Fronteira Oeste, Sul, Missões e Centro. As famílias desses locais confirmaram que irão distribuir suas produções para aqueles que mais precisam até 10 de janeiro de 2023. 

No Norte do estado, o Instituto Educar, juntamente com as cooperativas da região, Cooptar de Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), Cooperativa Agropecuária e Laticinios Pontão (Cooperlat) e a Regional Roseli Nunes do Município de Pontão, doou cerca de 1.700 quilos de alimentos para 150 famílias do município de Palmeira das Missões em parceria com o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD). Entre os alimentos doados estão arroz orgânico, cucas, suco de uva, beterraba, carne e uma grande variedade de hortaliças. 

A estimativa é que, no RS, as famílias Sem Terra e as cooperativas do MST doem, até o final da Campanha Natal Sem Fome Solidário, aproximadamente 35 toneladas de alimentos da Reforma Agrária Popular. A união do campo e da cidade se fortalece a partir da solidariedade, mas se expande nas diversas ações de organicidade, formação e luta. Trabalhadores e trabalhadoras do campo popular traçam juntos um mundo melhor ao trabalharem juntos em prol do próximo.


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Edição: Marcelo Ferreira