Rio Grande do Sul

ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO

Basf firma acordo de R$ 9 milhões em caso de resgatados em fazendas de arroz no RS

Empresa vai pagar mais de R$ 23 mil a cada um dos 85 trabalhadores e R$ 7 milhões em investimentos sociais

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Em nota, o conglomerado industrial lamentou o ocorrido, afirmando ter decidido “de maneira proativa” que irá procurar as autoridades “para contribuir com a resolução do caso - Foto: Polícia Federal

Apontada como “efetiva empregadora” de trabalhadores de arrozais resgatados em condições similares à escravidão em Uruguaiana (RS), no dia 10 de março, a multinacional alemã Basf firmou acordo de R$ 9 milhões com o Ministério Público do Trabalho. O termo de ajuste de conduta (TAC), firmado nesta terça-feira (9), prevê o pagamento de R$ 23.529,41 a cada um dos 85 trabalhadores, no prazo de 60 dias, por danos morais individuais.

O TAC foi firmado pelo Procurador do MPT em Uruguaiana Hermano Martins Domingues. Entre os os fatores levados em conta na definição da indenização, destinada a reparar a comunidade atingida, e das multas, a serem aplicadas em caso de repetição das irregularidades, estão: a gravidade da lesão; a capacidade financeira do ofensor; o proveito obtido com a conduta ilícita; o grau de culpa ou dolo e a existência de reincidência; e o grau de reprovabilidade social da conduta.

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O acordo prevê que a Basf invista R$ 6,5 milhões em projetos sociais de erradicação do trabalho em condições degradantes na Fronteira Oeste do Estado. Também terá que adquirir uma caminhonete no valor de R$ 500 mil, no prazo de 180 dias, para ser utilizada em ações de fiscalizações de trabalho escravo na região pela Gerência regional do Trabalho (órgão do Ministério do Trabalho e Emprego, que não tem relação com o MPT).

Além disso, a companhia assume a obrigação de não permitir que empresas contratadas por ela empreguem menores de 18 anos em trabalho noturno, perigoso, insalubre, ou adolescentes menores de 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. A empresa também deverá garantir que as condições adequadas de trabalho de profissionais terceirizados ou quarteirizados sejam cumpridas.

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Homologado judicialmente pela juíza do Trabalho Laura Antunes de Souza, da 1ª Vara do Trabalho de Uruguaiana, o TAC estipula obrigações com empresas terceirizadas e outros itens de saúde e segurança do trabalho, em especial em relação a defensivos agrícolas. A multa por descumprimento das cláusulas é definida por item descumprido, mais R$ 10 mil por trabalhador prejudicado.

Segundo o MPT, a Basf colaborou de maneira proativa para contribuir com a resolução do caso. Em nota, a empresa disse que, desde que tomou conhecimentos dos fatos, “se solidarizou com os trabalhadores” e prestou “espontaneamente todos os esclarecimentos necessários”.

“A empresa tem exigências de contratação de fornecedores e subcontratados que incluem, entre outras medidas, que seus parceiros de negócios estejam de acordo com a lei trabalhista e sejam rigorosos no respeito aos direitos humanos”, finaliza a nota.

MPT negocia mais TACs com fazendas envolvidas

Os valores milionários a serem pagos pela multinacional somam-se se soma aos já garantidos emergencialmente em março pelo MPT junto às estâncias Santa Adelaide e São Joaquim, responsáveis pela colheita e contratação dos trabalhadores, que pagaram os valores rescisórios devidos a cada trabalhador, no total de R$ 365.516,55. Além disso, a estância Santa Adelaide se comprometeu a custear os tratamentos do adolescente acidentado até sua plena recuperação.

Dois TACs definitivos com as fazendas estão em negociação, com a previsão de mais valores individuais e coletivos a serem pagos aos trabalhadores e à sociedade.

Houve ainda a formalização de outros dois TACs com os agenciadores (“gatos”) nos valores de R$ 20 mil cada e com 15 obrigações de fazer e não fazer para impedir a atuação desses no aliciamento de outros trabalhadores. Esses acordos completam a atuação do MPT para a apuração da responsabilidade de todos os elos da cadeia produtiva envolvidos no resgate ocorrido em março.

O caso

Operação conjunta entre MPT, MTE e PF em Uruguaiana resgatou 85 trabalhadores (11 deles adolescentes com idades entre 14 e 17 anos) em condições degradantes em duas fazendas no interior do município. Eles cumpriam jornadas extenuantes fazendo o corte manual do arroz vermelho e a aplicação manual de defensivos agrícolas, sem EPIs. O MPT-RS foi representado na ação pelos procuradores Franciele D’Ambros e Hermano Martins Domingues.

O resgate foi realizado nas estâncias Santa Adelaide, onde foram encontrados 54 trabalhadores, e São Joaquim, de onde foram resgatados 31 trabalhadores. As duas propriedades multiplicadoras de sementes de arroz são fornecedores terceirizados da Basf. Os resgatados, todos do sexo masculino, eram da própria região, oriundos de Itaqui, São Borja, Alegrete e Uruguaiana.


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Edição: Marcelo Ferreira