Rio Grande do Sul

Estragos

Ciclone extratropical deixa mortes, desaparecidos e alagamentos no Rio Grande do Sul 

Defesa Civil resgatou milhares de pessoas em áreas de risco; governo do estado e municípios acompanham a situação 

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Rua Duque de Caxias, no Centro Histórico de Porto Alegre - Foto: Maciel Goelzer

Na noite desta quinta-feira (16), um ciclone extratropical chegou ao nordeste do Rio Grande do Sul, provocando chuva extrema e vento acima de 100 km/h. Entre as regiões mais afetadas está a Metropolitana de Porto Alegre, com relatos de inundações e alagamentos. Foram registrados três óbitos até o momento, dois em São Leopoldo e um em Maquiné. Seguem desaparecidas 11 pessoas.

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul, a Brigada Militar e o Corpo de Bombeiros estão atuando, desde a manhã desta sexta-feira (16), no atendimento às cidades que foram atingidas pelo ciclone. Mais de mil profissionais do estado estão em campo para atender os chamados. 

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De acordo com a MetSul Metereologia, as rajadas de vento foram muito fortes no Nordeste gaúcho, em particular na Serra, na Grande Porto Alegre e no Litoral Norte. As rajadas de vento atingiram 102 km/h na estação do Instituto Nacional de Meteorologia em Tramandaí, na costa. Em Porto Alegre, as rajadas medidas por estações meteorológicas ficaram entre 70 km/h e 80 km/h, mas, pelo efeito de afunilamento do vento entre os prédios e a topografia da cidade, ocorreram ventos mais fortes.

O tempo, conforme informa a Metsul, segue instável e ainda deve chover entre a Serra, a região Metropolitana e o Litoral Norte no decorrer da sexta. O tempo melhora neste fim de semana com ingresso de ar mais seco e o sol aparece. Contudo, os problemas vão continuar. "Isso porque a vazão dos rios pelos altos volumes de chuva registrados deve aumentar muito com enchentes. As bacias mais críticas são as dos rios Caí, Taquari, Sinos e Gravataí. Cidades às margens destes rios devem se preparar para enchentes. Segue ainda o risco de deslizamentos de terra e queda de barreiras em áreas de relevo dos vales, da Serra e na encosta da Serra do Mar no Litoral Norte”, alerta.

Impactos

Na capital gaúcha, o vento forte causou queda de árvores e estruturas, assim como em outras cidades. No começo da manhã desta sexta-feira, 460 mil unidades consumidoras ou cerca de 1,5 milhão de pessoas estavam sem luz no Rio Grande do Sul, a maioria entre a Grande Porto Alegre e o Litoral. Norte. Conforme informa a MetSul, nas últimas 24 horas, até 9h desta sexta, os acumulados atingiram 245 mm em Maquiné e 150 mm a 200 mm em pontos do Vale do Sinos.

Há relatos de hospitais e postos de saúde alagados em diversas cidades. Em Porto Alegre, de acordo relatos de trabalhadores do Hospital de Pronto Socorro (HPS) colhidos pela Associação dos Servidores do Hospital Pronto Socorro (ASHPS), alagamentos voltaram a ocorrer em diversas alas do HPS. Foi registrada ocorrência de chuva dentro da emergência, na farmácia e nos andares onde ficam localizadas as Unidades de Tratamento Intensivo.


Goteiras dentro do HPS / Foto: Divulgação ASHPS

Em Maquiné, o rio Maquiné chegou a subir seis metros acima do nível normal. Cerca de 200 pessoas estão desabrigadas e os fortes ventos e a chuva deixaram rastro de destruição e vários pontos do município alagados. Na noite anterior, o prefeito, João Marcos Bassani dos Santos (PDT), gravou vídeo pedindo par que as pessoas saíssem de suas casas para evitar uma tragédia maior.

 

Em Novo Hamburgo, região Metropolitana de Porto Alegre, moradores relatam água invadindo casas e as ruas completamente alagadas. Nas imediações das ruas Borges de Medeiros com a Cristóvão Colombo, junto da Avenida Nações Unidas, no centro, a água do valão transbordou e deixou carros submersos.

 

Onze pessoas estão desaparecidas e três óbitos

A Defesa Civil gaúcha resgatou milhares de pessoas que se encontravam em áreas consideradas de alto risco, não havendo ainda uma contabilização do número de pessoas resgatadas em locais já atingidos pelo ciclone. Além disso, 11 pessoas estão desaparecidas, conforme atualização na tarde desta sexta: duas no município de Caraá, duas na cidade de Três Forquilhas e outras duas em Maquiné.

Entre as pessoas que morreram em São Leopoldo, um jovem de 23 anos foi atingido por uma descarga elétrica. Outra pessoa uma estava em um veículo que foi arrastado pela água. A terceira morte é a de um homem de 69 anos que foi soterrado.

Pessoas ilhadas

Na manhã de sexta-feira, o prefeito de São Leopolgo, Ary Vanazzi (PT), convocou reunião para organizar melhor o atendimento à população. A orientação é que as pessoas evitem de sair de casa para não se exporem aos riscos. De acordo com o Executivo municipal, algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) não conseguiram abrir e os profissionais foram deslocados para o ginásio, onde vão prestar apoio. 

Vanazzi solicitou ao comando do 19º Batalhão de Infantaria Motorizada (Bimtz) três caminhões para auxiliar na remoção de pessoas que ficaram ilhadas onde as caminhonetas da Defesa Civil não conseguiu acessar devido ao volume de água. 

 

Aulas canceladas

Em função da forte chuva e alagamentos em toda região, as aulas estão canceladas em 21 municípios. São elas Alvorada, Brochier, Cachoeirinha, Canoas, Capão da Canoa, Cidreira, Dom Pedro de Alcântara, Gravataí, Lindolfo Collor, Maquiné, Maratá, Novo Hamburgo, Osório, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Terra de Areia, Torres, Tramandaí, Três Cachoeiras, Viamão e Xangri-Lá.

O governador Eduardo Leite (PSDB) acompanhou a atuação no Centro de Operações da Defesa Civil, em Porto Alegre. “Estamos com 200 homens dos Bombeiros atuando diretamente e mais 800 brigadianos para fazer isolamento e buscas. Todo o necessário para defender a vida”, informou. “Neste momento, nosso foco é proteger as vidas enquanto as chuvas ainda estão acontecendo. Mesmo depois que elas pararem, comunidades ribeirinhas dos rios Sinos e Caí devem estar atentas para a elevação do nível das águas.” 

De acordo com chefe da Casa Militar e da Defesa Civil, Coronel Luciano Boeira, a orientação é que pessoas que morem em região de risco não retornem, no momento, para suas casas. “Nossa sala de situação indica que, durante o dia de hoje, teremos um acumulado de 60 mm, o que ainda coloca em risco a população litorânea. Pedimos às pessoas que tiveram de sair de casa nessas regiões não retornem ainda, pois, embora a situação esteja sob controle, há risco de aumento do nível dos rios.”

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB/RS) enviou ofício ao governador Eduardo Leite solicitando a declaração de estado de calamidade pública em todo o RS, para que os trabalhadores/as tenham suas faltas abonadas pela impossibilidade de ir até o serviço. “Faz-se necessário, no uso da atribuição que lhe confere o art. 82, incisos V e VII, da Constituição do Estado, a declaração de estado de calamidade pública em todo o território do Estado do Rio Grande do Sul. Tal medida é imperiosa para fins de proteção da saúde pública e preservação da vida dos cidadãos e cidadãs do nosso estado. A partir deste decreto, pode-se abonar as faltas dos trabalhadores e trabalhadoras que não possuem condições de se locomover até seu trabalho em virtude do alagamento de suas casas e vias públicas”, defende a parlamentar.

Cuidados necessários 

A Defesa Civil Estadual lembra que alguns cuidados precisam ser tomados enquanto perdurar a situação de risco, principalmente se cadastrar para receber avisos do 199, que são enviados com antecedência. 

Como agir quando ocorrer vendaval? 

  • Feche bem janelas e portas, evitando canalização de ventos no interior de sua residência; 

  • desligue os aparelhos elétricos e feche o registro de água e gás; se estiver em local seguro, permaneça até a diminuição dos ventos;

  • não estacione veículos próximos a torres de transmissão e placas de segurança; 

  • não se abrigue sob árvores ou estruturas metálicas. 

Como agir quando ocorrer inundação?

  • Evite o deslocamento para regiões afetadas; 

  • se seguro, permaneça em casa; 

  • se morar em área de risco, abandone o local; 

  • separe os documentos importantes e embale-os em sacos plásticos; 

  • ao sair, desligue a chave geral de eletricidade, água ou gás; 

  • evite atravessar as águas de carro ou a pé; 

  • se ficar isolado em local inseguro, chame imediatamente o Corpo de Bombeiros. 

  • O que se deve fazer após a inundação? 

  • Antes de retornar para sua casa, verifique as condições de segurança estrutural e elétrica; 

  • após a inundação, higienize toda casa e objetos que tiveram contato com a água; 

  • limpe sua casa com água sanitária, utilizando 1 litro do produto para cada 20 litros de água. 

  • Como minimizar os efeitos da inundação?

  • não permita que o lixo seja depositado em locais inadequados; 

  • não construa nas margens de rios e canais; 

  • denuncie construções irregulares; 

  • preserve a vegetação nas margens dos rios; 

  • mantenha-se informado sobre as condições do tempo; 

  • participe, junto à sua comunidade, da elaboração de um plano de contingência com um sistema de alarme. 

* Com informações da Secom do governo do RS, Ascom Defesa Civil e MetSul


Edição: Marcelo Ferreira