Rio Grande do Sul

CASSADO E DENUNCIADO

MP apresenta denúncia contra Alexandre Bobadra pelo crime de violência política de gênero

Processo resulta de pedido de desarquivamento do inquérito policial contra o ex-vereador de Porto Alegre

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Ser mulher na política é um desafio permanente", afirma a deputada Bruna Rodrigues, vítima de violência política de gênero praticada por Bobadra - Foto: Paulo Garcia | ALRS

O Ministério Público do Rio Grande do Sul apresentou, nesta sexta-feira (15), denuncia contra o ex-vereador de Porto Alegre cassado Alexandre Bobadra pelo crime de violência política de gênero. A denúncia é oriunda de um pedido de desarquivamento do inquérito policial que havia indiciado o ex-parlamentar pelo crime contra Bruna Rodrigues (PCdoB), quando ambos ainda eram parlamentares na Câmara de Vereadores da capital gaúcha. 

Conforme a promotora eleitoral Josiene Menezes Paim, no dia 22 de agosto de 2022, na Câmara Municipal, o então denunciado "constrangeu e humilhou, por meio de palavras e gestos, a Bruna (...), utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher, praticando atos de violência de gênero, com a finalidade de dificultar o desempenho de seu mandato eletivo". 

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A promotora também ressaltou que "ao agir, o denunciado, após fazer uso da palavra na Tribuna, passou a se referir à vereadora de forma constrangedora, em frente aos demais presentes no plenário, gritando para esta que “dia cinco esta iria pagar uma cesta básica”, pois haveria uma “audiência em que este era vítima”, bradando, por mais de uma vez, que esta teria sido “denunciada pelo Ministério Público”. Desta forma, estaria "a difamando e humilhando perante seus pares, por meio de palavras e gestos, atos que consistiram em prática de violência política de gênero, que transcendem a esfera de disputa política, desbordando para ofensas pessoais, em razão do gênero da vereadora, com o nítido propósito de diminuí-la e constrangê-la perante seu partido político, seus pares e eleitorado". 

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O MP também relembrou ocasiões anteriores, onde o ex-parlamentar, aos gritos, impediu a vereadora de expressar sua opinião, dificultando sua atividade política, e referiu-se a ela com expressões de conteúdo sexual. Como noticiado à época, Bobadra afirmou que Bruna teria "tesão" por ele. Segundo o MP, isso também corrobora que os atos foram praticados em razão do gênero da hoje deputada estadual, já que é mulher e atuava como líder partidária na ocasião. 

Para Bruna Rodrigues, a abertura do processo se faz necessária para barrar mais crimes de violência política de gênero. “Ser mulher na política é um desafio permanente, pois sabemos o quanto é difícil chegar até aqui. E com a nossa chegada nas casas legislativas, a violência e a hostilidade contra nós se intensificou, afinal, para eles, é necessário sustentar a ideia de que a política não é espaço para nós”, afirma a deputada estadual. 

A parlamentar enfatiza que falar sobre violência política de gênero, que afeta a chegada e a permanência das mulheres da política, é cada vez mais urgente, para que casos como esse não fiquem impunes. "A gente não pode naturalizar que sejamos constantemente sexualizadas, diminuídas e violentadas das mais diversas formas pelo fato de sermos mulheres, porque essa violência tenta nos afastar desse espaço que lutamos para ocupar. Nós vamos seguir na luta por justiça e pelo fim da violência contra as mulheres também nos espaços de tomada de decisão", frisa Bruna. 

Em março de 2022 o então vereador Bobadra foi indiciado pelo crime de violência política contra a mulher, pela delegada de polícia Alicia Jantsch Fernandes, da Delegacia Especializada no Atendimento a Mulher do Rio Grande do Sul.


Edição: Marcelo Ferreira