Rio Grande do Sul

MEIO AMBIENTE

Guerras e segurança alimentar foram os principais temas do 11º FIGA

Após ciclo de debates, Fórum Internacional de Gestão Ambiental encerrou com lançamento de carta apontando desafios

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Participantes das mesas comemoram 11º FIGA, realizado entre 19 e 20 de outubro em Porto Alegre - Divulgação Ari

Foram dois os temas predominantes nos debates e discussões do 11º Fórum Interacional de Gestão Ambiental (FIGA): as guerras na Europa, Oriente Médio e outros locais do planeta e as causas geradoras da emergência climática. Além disso, o Fórum realizado em Porto Alegre nos dias 19 e 20 de outubro debateu e apontou alternativas para a insegurança alimentar que ameaça milhões de pessoas em todos os continentes. Ao fim do encontro, foi lançada a Carta de Porto Alegre.

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Promovido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e o Ministério Publico do Rio Grande do Sul (MPRS), este ano o FiGA teve a sua 11ª edição com com patrocínio da Corsan e o apoio da Federação  das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), do Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (Semae), do Departamento de Água e Esgoto de Porto Alegre (Dmae), do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindlat/RS), no Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ/RS) e da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Teve ainda o apoio acadêmico da Ufrgs, UFSM e Feevale.

Já na abertura, em seu discurso, o presidente da ARI, José Nunes, criticou as guerras que “além de abreviar vidas e causar um enorme sofrimento humano, obstaculizam o enfrentamento da emergência climática e retardam a adoção de programas de sustentabilidade alimentar e ambiental, indispensáveis à sobrevivência de populações”.

No mesmo sentido falou a procuradora Ana Maria Marchesan, representando o MPRS. “Estamos testemunhando mudanças preocupantes no clima. São enchentes aqui no estado, seca na Amazônia, fumaça dos incêndios florestais no Canadá encobrindo Nova Iorque. Temos que entender que o planeta é uma casa só e precisamos cuidar dela”, disse.

A palavra guerra foi uma das mais constantes nos debates do 11º FIGA. O motivo dessa ênfase foi resumido pela vereadora de Porto Alegre Abigail Pereira (PCdoB). "Guerra é um crime ambiental, um crime contra a natureza humana."

Soberania alimentar e conflitos fundiários

A professora Iva Miranda Pires, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, proferiu a palestra de abertura. Ela expôs seus estudos sobre segurança alimentar e lembrou que não há falta de alimentos no mundo, mas existem desertos alimentares e milhões de pessoas não têm acesso à comida.

Segundo ela, os problemas técnicos para a produção de alimentos já foram superados e “a escassez em determinadas áreas é um problema ético e político que contribui também para o desequilíbrio climático”. Na ocasião, ela convocou os participantes do evento para se engajarem no que chamou de guerras boas, “contra o desperdício alimentar, contra a poluição, contra as monoculturas, contra a discriminação das mulheres”.

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A jornalista Cristina Serra, participante do debate "Como alimentar o mundo e cuidar do Planeta", por sua vez, lembrou que "sem democracia não se protege o meio ambiente". Especialmente no caso do Brasil, chamou a atenção ao fato da defesa do meio ambiente estar "intimamente relacionada a conflitos fundiários históricos, ligada à proteção do povos indígenas, os maiores defensores da terra, da água, das florestas e dos animais no Brasil".

Para a jornalista, "somente num ambiente democrático a sociedade tem os instrumentos necessários para defender o meio ambiente contra todo o tipo de agressão, seja do capital fóssil, seja do agronegócio e sua monocultura que são devoradores de terra, de árvores, gente e animais”.

Na palestra de encerramento, o biólogo indígena Leosmar Antônio Terena, representando o Ministério do Povos Indígenas, defendeu sua cultura e agricultura e criticou a visão errada que os colonizadores sempre tiveram de suas formas de relacionamento com a terra. Lembrou que o que hoje está na moda como tecnologia agrícola, a cultura silvo-pastoril, era a relação que seus antepassados tinham com a terra quando chegou Pedro Álvares Cabral.

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O indígena criticou a posição do Congresso Nacional com a criação do marco temporal e disse que ele seria a favor desse marco se ele retrocedesse a abril de 1500.

Carta de Porto Alegre

No final foi lida uma carta elaborada pelas entidades organizadoras. Entre os principais desafios destacados estão "a necessidade de dar maior visibilidade ao problema do uso excessivo de agrotóxicos, ampliar os investimentos públicos na pesquisa, desenvolver programas de redução do uso de agrotóxicos, incentivar e informar sobre sistemas sustentáveis na produção de alimentos".

O documento defende, entre outros, informação de qualidade para fomentar posicionamento crítico, enfrentamento da fome e da insegurança alimentar, cuidado com a natureza, respeito aos povos indígenas. Também se posiciona "pela imediata suspensão dos conflitos bélicos em todo o planeta". Confira a Carta de Porto Alegre.

O 11º FIGA teve os seguintes debates: Modos e escalas de produção de alimentos, relações entre produtores e consumidores; Medidas e estratégias em momento de crise ambiental; Alimento Saudável como princípio da Vida; O uso da água para a segurança alimentar; A imprensa debate: Como alimentar o mundo e cuidar do Planeta; O clima e sua interferência na produção regional; Estratégias para garantir a qualidade do alimento; palestra do biólogo indígena Leosmar Antônio Terena.


Edição: Marcelo Ferreira