Rio Grande do Sul

MUNDO DO TRABALHO

Fórum Justiça e Unisinos promovem debate sobre trabalho análogo à escravidão 

Diversos segmentos sociais trataram do tema e de projeto de lei que visa expropriar propriedades onde houve a prática

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Neste ano, 2.847 trabalhadores foram resgatados em situação semelhante à escravidão no Brasil - Foto: MPT/RS

O Fórum Justiça RS e o Programa de Pós-Graduação (PGG) da Unisinos realizaram, nesta segunda-feira (4), um debate sobre os desdobramentos das denúncias recebidas de trabalho análogo à escravidão no Rio Grande do Sul, em fevereiro de 2023. O debate ocorreu no campus da Unisinos Porto Alegre e foi mediado pelas advogadas Emily Telles e Juliane Durão, do Fórum Justiça, e pela professora do PPG Jania Saldanha, que também integra o Fórum Justiça. 

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Na ocasião foi apresentado o Projeto de Lei 1102/2023, da deputada federal Reginete Bispo (PT-RS), que está em tramitação na Câmara dos Deputados. A proposta objetiva regulamentar o art. 243 da Constituição Federal para dispor sobre a expropriação das propriedades rurais e urbanas onde se localizem a exploração de trabalho análogo à escravidão.

Conforme Jania, o evento permitiu discussão prática e teórica sobre "o grave problema do trabalho análogo à escravidão, ou das formas 'modernas de escravidão', como com precisão definiu a Corte Interamericana de Direitos Humanos". Segundo ela, "foi um espaço privilegiado para o reconhecimento de que essas práticas empresariais estão ancoradas no paradigma econômico moderno da expropriação e exploração humanas, o qual é, fundamentalmente, a base para que essas práticas ilegais de trabalho estejam permeadas por índices elevados de discriminação estrutural e interseccional”.

Juliane Durão considera importante a interlocução entre a sociedade civil e as instituições estatais para aprimorar a legislação e os mecanismos de instrumentalização das estatais, adequando-os à realidade social. “É o que dá sentido à função dos parlamentares, juízes e procuradores. O enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão só será possível de forma coordenada entre esses atores sociais, através do diálogo e atuação conjunta. Foi a proposta do evento e acreditamos que com a continuidade dessas atividades poderemos contribuir muito na luta pelos direitos humanos dos trabalhadores em situação de vulnerabilidade social.”

O Fórum de Justiça irá analisar o projeto de lei e, em parceria com os pesquisadores do Cultis/PPG em Direito da Unisinos, emitir nota técnica sobre a proposição. Durante o evento, foi proposta a continuidade dos debates integrando interlocutores da sociedade civil e das instituições estatais.

Quase quatro séculos de escravização

No Rio Grande do Sul, 304 pessoas foram resgatadas de trabalhos análogos à escravidão somente neste ano. Em todo o Brasil, de janeiro a novembro, foram 2.847 trabalhadores, o maior número parcial em resgates dos últimos 14 anos e um recorde histórico em toda a série de pagamento de verbas rescisórias, conforme dados do Ministério do Trabalho.

“O Brasil vem de um processo de escravização de seres humanos por quase quatro séculos, inclusive vem se mantendo após a abolição com a escravização moderna. Apresentei o PL 1102/2023 para regulamentar o art. 243 da Constituição Federal, estabelecendo a expropriação das propriedades rurais e urbanas onde ocorra a exploração de trabalho escravo e punir e promover a fiscalização e medidas de combate a essa barbárie”, destaca a deputada Reginete Bispo.


Edição: Marcelo Ferreira