Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2024

Porto Alegre, a luta contra o ultraliberalismo e o protagonismo político do povo preto!

'Atrás da nuvem polêmica dos nomes, a unidade caminha rápido', afirma a deputada estadual

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"A foto da unidade da esquerda, a unidade democrática, a defesa da vida, da ciência e da luta pela superação das desigualdades" - Foto: reprodução

Estamos a um passo de reproduzir o sentimento desta foto, e com mais diversidade! A foto da unidade da esquerda, a unidade democrática, a defesa da vida, da ciência e da luta pela superação das desigualdades. Nada nem ninguém que esteja comprometido neste ciclo de intensa luta política no país pós-Bolsonaro pode se colocar como óbice. Não é justo com Porto Alegre e seu povo.

Falo com a certeza de quem trabalhou muito para a unidade em 2020. Sei que Manuela, Fernanda, Luciana e Rosário, são importantes expressões do nosso campo. Sei como é para todas o enfrentamento diário aos ataques da extrema direita, mas, também, sei da ação contínua de desconstituição pela força do patriarcado e da misoginia na esquerda.

:: Vai ter mulher preta na Prefeitura de Porto Alegre! ::

Compartilho de todas as aflições discutidas nesta rede nos últimos dias. Os últimos anos foram muito marcantes para o povo preto, no país e no mundo. Fomos à luta por mais direitos, a luta pelo direito à vida. Ecoamos pelo mundo em um grito forte de que nossas vidas importam.

Após décadas de luta, a comunidade negra e indígena brasileira decidiu que lutaria unitariamente contra uma mesa de poder monocromática. A diferença da cena do presente é que vivemos um levante minimamente organizado, girando em torno da agenda política antirracista comum no território brasileiro.

Portanto, nenhum olhar individual pode sequestrar a perspectiva coletiva, de que fazemos parte de um grande movimento. Assim como ninguém falará por nós, e é exatamente para isso que estamos aqui!

Tem me incomodado muito que nessas discussões desconsiderem nomes que estão na mesa para considerar nomes que não estão, especialmente quando este nome é de uma mulher negra. Tamyres, militante do PSOL e sindicalista, faz parte desta geração da bancada negra que, inclusive, concorreu a deputada federal na última eleição. Minha amiga de longa data é a grande responsável pela minha entrada no movimento estudantil. Por isso, carrego um enorme carinho por ela.

Toda esta invisibilidade do papel das mulheres negras neste processo, ainda que sejamos cinco parlamentares, fala muito da complexidade da intersecção da nossa pauta política. Reflexão fraterna que levo ao movimento social negro, compreendendo o caráter de gênero e raça massivo no voto antirracista nos últimos dois pleitos na cidade.

Não acredito que o ajuste desta construção passe pela reprodução daquilo que criticamos por invisibilizar os nossos. Eu não tenho dúvida alguma da importância da nossa luta estar expressa na chapa, assim como sei que muitos de nós como Matheus, Karen, Daiana, Bruna, Reginete… podem representar esta agenda.

Decidimos que vamos ocupar os espaços de poder porque não há direito à vida para nossa gente fora da democracia, fora da disputa sobre o Estado. De 2013 até aqui, aprendemos muito nesta jornada. Testemunhamos os impactos deste período histórico: de morte e fome, especialmente aos nossos.

Aprendemos a importância de reconhecer o papel das ferramentas de organização e a necessidade de fortalecer para defender a democracia e os direitos do nosso povo.

Porto Alegre é um dos palcos centrais desta história, dos 20 centavos à primeira bancada negra da Câmara Municipal. Somos produto da resistência viva e popular que pulsa na nossa cidade!

Mas, não somos nós esta resistência, essa resistência é muita gente! São muitos rostos, muitas trajetórias, muitas gerações, muitos compromissos por Porto Alegre. Derrotar Melo e interromper o período nefasto de 20 anos deste projeto neoliberal de leilão da cidade associado ao descaso com a vida das pessoas deve ser a nossa prioridade.

Portanto, acredito que nada é maior que estarmos juntas e juntos, priorizando um programa fundamentalmente antirracista, antimachista, inclusivo, sustentável, democrático e popular. 

Atrás da nuvem polêmica dos nomes, a unidade caminha rápido. 

Ajustar o método e permitir que todo mundo possa se enxergar é nossa tarefa agora. Primando pela política vamos unidas, unidos desenhar o formato de construir de maneira participativa e democrática com a cidade e para a cidade. 

Mas não temos tempo a perder, nossa Porto Alegre precisa do melhor de cada uma e de cada um de nós,  acima de qualquer pequena diferença, o momento nos exige uma dedicação unitária e organizada de luta!

* Laura Sito é jornalista, presidenta do Partido dos Trabalhadores de Porto Alegre, deputada estadual mais jovem e a primeira mulher negra deputada da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato RS.


Edição: Marcelo Ferreira