Rio Grande do Sul

AGRICULTURA

Ainda é cedo para afirmar que o estado terá supersafra, avalia coordenador da Fetraf-RS

Douglas Cenci destaca que serão necessárias várias safras boas para recuperar os prejuízos com as secas dos últimos anos

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Estimativa da Conab prevê aumento de 48% na safra gaúcha de grãos; Emater/RS estima safra 50% maior - Agência Brasil

Embora os órgãos oficiais façam uma estimativa de uma safra excelente para o Rio Grande do Sul em 2023/2024, o coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS), Douglas Cenci, entende ser cedo para se fazer previsões e estimativas.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê um aumento de 48% da safra gaúcha com a produção de 40,82 milhões de toneladas de grãos; já a Emater/ASCAR (serviço oficial de extensão rural do estado) anunciou que a safra deve ser quase 50% maior do que a passada, com a previsão de colher mais de 36 milhões de toneladas, ante as 24,2 milhões de toneladas colhidas em 2023.

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Para Cenci, que além de liderança do setor é agricultor em Aratiba, município da região Norte do RS, a situação ainda não está definida. "As lavouras de soja estão na fase de formação de grão, algumas em floração, haja vista que por conta das chuvas atrasou o plantio. A região da Serra está com a cultura do milho em desenvolvimento, então a safra ainda não tem uma produção determinada. Temos várias regiões do estado que neste momento enfrentam problema de estresse hídrico, falta chuva há mais de 20 dias e se este cenário persistir, pode comprometer inclusive o andamento desta perspectiva.”


Coordenador-geral da Fetraf-RS, Douglas Cenci, analisa previsões da safra 2023/2024 / Foto: Divulgação/UFFS

Cenci explica que vários agricultores tiveram problemas na produção de milho, "por conta das doenças que foram fora do comum este ano por causa do excesso de chuvas e também por incidência da cigarrinha, bem como em algumas lavouras tiveram problemas de germinação”. No entanto ele espera que a safra possa ser maior do que foi nos anos anteriores, “porque foram safras desastrosas no Rio Grande do Sul”, afirmou.

De acordo com o coordenador da Fetraf-RS, o estado teve, em algumas regiões, quatro safras frustradas por conta da estiagem. “Em todo o estado do Rio Grande do Sul foram, pelo menos, três”, detalha.

Boa safra não vai compensar prejuízos recentes

Cenci afirma que a margem de lucro do agricultor numa boa safra ainda é muito pequena. Por isso, para recuperar o prejuízo da frustração das safras anteriores é necessário "mais do que uma colheita boa". Ele destaca que considerando o acúmulo de três ou quatro safras frustradas, o processo de descapitalização e endividamento tem consequências muito fortes.

Lembrou ainda que há um acúmulo de juros e multas para os que pegaram financiamento. “Eu diria que uma boa safra agora ajuda o agricultor se recuperar, mas não dá conta de compensar todas as perdas que nós tivemos no passado. Precisamos algumas safras boas pela frente ainda para conseguir normalizar a situação”, avalia.

Cenci falou ainda dos auxílios dos governos estadual e federal. “Eu diria que não há nenhum movimento dos governos federal e estadual que pudesse minimizar as perdas que os agricultores tiveram. Foram apenas gestos, mas não compensam as perdas.”

Ele ressaltou também os problemas que vêm ocorrendo com as mudanças climáticas. “O impacto das mudanças climáticas prejudica cada vez mais a agricultura e isto faz com que tenhamos que repensar a maneira de produzir”, concluiu.

Estimativas oficiais

O Rio Grande do Sul deve produzir 40,82 milhões de toneladas de grãos na safra 2023/24. Isso representa um aumento de 48% em relação ao ciclo passado, quando o estado produziu 27,58 milhões de toneladas. Já a área destinada ao plantio está prevista em 10,3 milhões de hectares, 1,7% a mais do que a safra 2022/23. As estimativas são da Conab, que apresentou na manhã desta quinta-feira (8) o seu 5º Levantamento da Safra de Grãos.

Todas as principais culturas apresentam aumento de produção no estado, conforma o levantamento. Para o arroz, está prevista uma safra de 7,6 milhões de toneladas, uma alta de 10,5% em relação ao ciclo anterior, quando foram colhidas 6,9 milhões de toneladas. Em relação ao feijão, a Conab estima alta de 4,8% na produção, com 74,1 mil toneladas. Na safra passada, foram produzidas 70,7 mil toneladas do grão.

Já as produções de milho e soja devem ter um aumento de 44,2% e 68,1%, respectivamente. Na safra 2022/23, o estado colheu 3,7 milhões de toneladas de milho e 13 milhões de toneladas de soja. Na safra atual, a previsão é que os agricultores produzam 5,4 milhões de toneladas de milho e 21,9 milhões de toneladas de soja.

“A estimativa de excelente safra gaúcha está compensando a baixa prevista na safra brasileira de grãos, principalmente na soja, que tem uma estimativa de quebra de 3,4% no país”, afirma o presidente da Conab, Edegar Pretto.

Segundo dados da Emater, a safra 2023/2024 deve ser quase 50% maior do que a passada, com a previsão de colher mais de 36 milhões de toneladas, ante as 24,2 milhões de toneladas colhidas em 2023. A área cultivada chegou a 8,3 milhões de hectares, ou seja, 1,72% a mais do que a safra 2022/2023, de soja, arroz, milho e feijão 1ª safra.

"É um cenário de recuperação e como pontos favoráveis, além da expectativa positiva no campo, o produtor tem os preços dos insumos mais baixos. Porém a remuneração está abaixo também. É bem difícil ter o cenário ideal que seria produção e remuneração em alta e custos dos insumos em baixa", afirma o assistente da Emater/RS, o engenheiro agrônomo Alencar Rugeri.

A soja, principal cultura do estado, tem expectativa de recuperação com crescimento de 73% em produção, resultando em uma colheita de 22,4 milhões de toneladas, depois de amargar uma quebra de mais de 30% no último ciclo. Em área, o acréscimo é de 1,3%, totalizando 6,7 milhões de hectares, com produtividade média de 3.327 kg/ha.

O milho, que foi o grão mais intensamente atingido pela estiagem da safra passada, deve atingir uma produção de 6 milhões de toneladas, ou seja, 53,24% acima do produzido do período anterior, que foi de 3,9 milhões de toneladas. Isso deve ser obtido com a boa produtividade projetada, de 53,15% acima da safra anterior, que foi de 4.841 kg/ha, chegando a 7.414 kg/ha nesta safra. A área plantada ficou em 817,5 mil hectares, 0,7% menor do que na safra anterior. Parte das áreas que foram semeadas com milho já foram colhidas, chegando a 21% da área cultivada.


Edição: Marcelo Ferreira