Rio Grande do Sul

RADAR DO ENSINO

Sindicato identifica carência de mais de mil trabalhadores em escolas públicas estaduais no RS

Falta de funcionários e professores, problemas estruturais, redução do EJA: pesquisa do Cpers aponta ‘crise na educação’

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Trabalhadores da educação realizaram dia de paralisação e ato estadual no dia 4 de abril exigindo valorização e respeito - Foto: Maí Yandata/Cpers Sindicato

O Cpers Sindicato concluiu uma pesquisa realizada com escolas públicas estaduais gaúchas e divulgou os resultados alertando para a “crise na educação” com a falta de educadores e educadoras para atender às demandas básicas. Segundo dados obtidos pelo “Radar Situação das Escolas Estaduais”, entre os dias 21 de fevereiro e 22 de março, o sindicato identificou a carência de mais de mil servidores.

:: Trabalhadoras e trabalhadores de escolas paralisam atividades e protestam por valorização salarial ::

A pesquisa recebeu um total de 442 respostas, que abrangem 306 instituições de ensino de 145 municípios. Conforme aponta o sindicato, a maior carência é a de funcionárias e funcionários de escola. Ao todo, faltam 487 dessas servidores, entre merendeiras, manutenção, administrativo e limpeza, seguido por 271 especialistas. As escolas também carecem de 363 professores, aponta a pesquisa.

Na última quinta-feira (4), o Cpers promoveu um protesto em frente ao Palácio Piratini cobrando por valorização de funcionários de escola e aposentados. Na ocasião, diversas servidoras relataram sua situação e sobrecarga e desvalorização. É o caso da merendeira Rosane Maria Colvero, de Pejuçara, que revelou precisar da ajuda das colegas para dar conta do trabalho.

“A minha escola é a única estadual da cidade com três turnos e, atualmente, estou sozinha na função. Há praticamente um ano, a outra colega foi diagnosticada com câncer e a partir daí as gurias da limpeza começaram a me ajudar. Estamos bastante cansadas e com dores e as doenças vão aparecendo em função do estresse. Os funcionários contratados que foram chamados desistiram devido ao baixo salário, já que amargamos uma defasagem de 10 anos. Então, essa é a situação que a gente está e esse é o nosso governador, que simplesmente ignora toda essa situação”, desabafou.

Problemas estuturais e redução do EJA

Além disso, 180 escolas do Rio Grande do Sul apresentam problemas estruturais que afetam a segurança e o bem-estar de toda a comunidade escolar. Os números revelam que 92 escolas enfrentam problemas elétricos, 48 lidam com problemas hidráulicos, enquanto 35 e 92 sofrem com a deterioração de muros e telhados, respectivamente. Já 36 instituições de ensino relataram obras atrasadas, enquanto 34 enfrentam obras inacabadas.

A EEEF Joaquim Pedro Salgado Filho, localizada em Erechim e que atende 103 estudantes, do 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde, é exemplo da situação levantada na pesquisa. Entre os problemas apresentados pela escola está muro caindo, sala com goteiras, pátio em péssimo estado, multisseriação e fechamento de turmas.

Conforme conta a direção da escola, o muro da escola aguarda reparos há quatro anos e apresenta risco a toda a comunidade escolar. A escola não tem pátio com condições adequadas para atividades de Educação Física e nem cobertura da quadra. Até 2023, a escola tinha quatro salas que chovia dentro, que foram consertadas com recursos da comunidade escolar e parceiros. Agora resta só a sala de recursos humanos, que ainda tem goteiras.

O fechamento de turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) também é outra preocupação do Cpers. Nove turmas foram encerradas entre as escolas que responderam à pesquisa. Os dados mostram ainda que 69 escolas enfrentam a realidade de bibliotecas inexistentes ou fechadas, enquanto 62 não possuem laboratórios de informática ou estão fechados. Além do mais, 22 escolas sofrem com a falta de insumos básicos, como limpeza, higiene e manutenção, enquanto 31 lidam com merenda insuficiente ou inadequada para o número de estudantes.

“Educação maltratada, sucateada”

Em nota, o sindicato informa que tem feito alertas ao governo sobre a situação há anos. Pontua que tem demandado do governo Leite “a imediata abertura de uma mesa de negociação para discutir salário justo e adequado, reconhecendo a importância vital desses profissionais no ambiente escolar e na formação de milhares de estudantes, além da urgente melhoria na estrutura das instituições de ensino”.

Ao Brasil de Fato RS, o 1° vice-presidente do Cpers, Alex Saratt, fez duras críticas ao governo Leite, que considera “uma verdadeira praga para a educação pública gaúcha”. Ele pontua que todos os dados da pesquisa “mostram que a educação vem sendo maltratada, sucateada”.

“Nós temos um problema salarial severo entre a categoria, especialmente para funcionários e aposentados, mas também encontramos um alto índice de desistência das escolas, evasão escolar, como mostrou o Censo, e na parte funcional seguem faltando professores e funcionários. Nós precisamos de concurso com mais vagas, que seja realizado com celeridade e que atraia os jovens educadores com salários e carreira decente, além de condições de trabalho adequadas, coisa que hoje não é verificado na rede estadual”, disse o dirigente.

A redação contatou a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para comentar os números apresentados na pesquisa do Cpers e as críticas do sindicato, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para a manifestação da pasta.


Edição: Marcelo Ferreira