Rio Grande do Sul

SÉRIE 8 DE MARÇO

Ser mulher, mãe, petroleira e sindicalista

Miriam Ribeiro Cabreira é trabalhadora da Refinaria de Canoas e diretora do Sindicato dos Petroleiros do RS

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Nesta última entrevista do Especial do 8 de Março, Miriam fala sobre a presença da mulher na Petrobras e no sindicalismo e a importância da resistência - Foto: Fabiana Reinholz

Em um ambiente ainda marcado pela forte presença masculina, as mulheres vêm conquistando espaço. Contudo, representam ainda 16,2% do total de funcionários da Petrobras, dona do sétimo maior mercado de consumos de derivados do mundo. Apesar de reivindicar um espaço maior da participação feminina, a engenheira mecânica Miriam Ribeiro Cabreira, funcionária concursada da estatal desde 2007, observa que não adianta ter mulher no comando quando elas rezam a cartilha da privatização e opressão. “Não adianta nada tu ser mulher, chegar lá, e implementar o projeto do Bolsonaro. Algumas estão na direção e dizem na nossa cara que têm 38 anos de empresa, e que tem que vender mesmo, e que nós temos que ser vendidos junto.”

Nesta última entrevista do Especial do 8 de Março do Brasil de Fato RS, Miriam, que trabalha na Refinaria de Canoas (Refap), uma das primeiras refinarias a admitir mulher na operação, afirma que foi através de sua entrada no sindicalismo que começou a ter uma formação política. “Quando tu te conscientizas começa a ver outras coisas”.

Nessa entrevista, ela conta um pouco da sua história, sobre a presença da mulher na empresa estatal e no sindicalismo, sobre a greve de 20 dias e a importância de manter a resistência. “Precisamos cada vez mais da nossa consciência. Consciência do feminismo em si. Temos que demonstrar que estamos na luta e que vamos resistir, que nos mínimos espaços que conquistamos não vamos retroceder.”

Brasil de Fato RS - Como tu chegastes à Petrobras?

Miriam Cabreira - Cheguei na Petrobras até por acaso. Fiz o concurso em 2005 e entrei em 2007. Na época estava estudando para o vestibular, abriu o concurso e eu fiz. Quando nem estava esperando mais, fui chamada. Eu já cursava licenciatura em Física na UFRGS. Foi um período em que teve ampliação em praticamente todas as refinarias da Petrobras. Entrei em 21 de março de 2007. Completei 13 anos de empresa.

Sou técnica de operação. Eu trabalho em uma das etapas do processo de refino que se chama de craqueamento catalítico, que é uma etapa de conversão. Convertemos uma fração do petróleo de menor valor agregado para produtos de maior valor agregado, como gasolina e o gás de cozinha GLP. Essa é minha função lá.

BdF RS - Como é ser mulher dentro de um ambiente como da Petrobras, que é majoritariamente masculino?

Miriam - Nossa categoria tem cerca de 16% de mulheres no país. A Refap foi uma das primeiras refinarias em que teve mulher na operação. As primeiras mulheres entraram por volta de 1987. Elas foram as que desbravaram e que mais tiveram dificuldades. Quando entramos, a minha turma, já era outra relação diferente da delas, mas ainda assim bastante difícil, porque é um trabalho que exige fisicamente, controlar uma planta de processo exige fisicamente. Mas como tudo na vida, se tiver as ferramentas apropriadas, homem faz, mulher também faz.

Hoje temos uma boa representação de mulheres na operação. Nos últimos concursos entrou uma proporção bem considerável de mulheres. Isso que é o bom de ser uma empresa pública. Se tu passas no concurso, ninguém vai dizer que tu não podes entrar por ser mulher.

Por exemplo, o Polo Petroquímico tem muito menos mulher na operação, e em áreas similares, porque as gestões consideram um transtorno. A empregada, quando engravida ou está no período de amamentação, tem que ser afastada da área industrial. Mas acontece que a mulher também traz benefícios, com a sua visão diferenciada. Somos plenamente capazes de fazer os mesmos trabalhos. Essa gestão que tem que ser feita devido essa necessidade de afastamento, muitas vezes, é até pior no caso dos homens, que lesionam joelhos, tornozelos, no futebol, por exemplo. Então, não contratar mulheres está mais associado com preconceito do que com dificuldades de gestão. Abrir mão de ter mulheres nessas atividades pode significar perder uma excelente profissional por simplesmente ter algum tipo de preconceito.


"Isso que é o bom de ser uma empresa pública. Se tu passas no concurso, ninguém vai dizer que tu não podes entrar por ser mulher" / Foto: Fabiana Reinholz

BdF RS - O que tu citarias como uma outra visão, uma forma diferente da mulher atuar nessas áreas?

Miriam - Nós temos toda uma criação diferente. Até hoje eu não sei se é provado cientificamente que a mulher é mais detalhista. Mas, por exemplo, vamos falar do caso da minha área. A operação é dividida em dois tipos principais, a operação de área, onde atuamos na área, e a operação de painel. E o painel é uma coisa que exige bastante detalhe, alguns cuidados, ser mais preventivo. A mulher tem essa característica de ser mais preventiva nas suas atuações. Se é por causa da criação, não sabemos.

BdF RS - Como é o ambiente de trabalho, principalmente em relação às piadas? Percebes diferença desde que entrou na empresa?

Miriam - Isso sempre tem, em qualquer ambiente, inclusive no sindicalismo. Na verdade, são aquelas piadinhas que são intrínsecas na sociedade. E a gente toda vez tem que estar se dando conta, poxa isso é machista, ou isso é racista, que às vezes também tem.

Na operação temos que trabalhar muito em equipe porque a vida de um depende do outro, temos que ter esse espírito de equipe, de coletividade para nos protegermos. Eu tenho que estar confiante que se alguma coisa acontecer comigo, alguém vai lá na minha área me resgatar ou eu vou ter que ir lá na área resgatar alguém. É uma área de trabalho muito diferente do que a gente está acostumada, porque realmente o trabalho tem que ser em equipe. O trabalho é em turno ininterrupto então, se eu começo uma atividade e não termino, outro termina, ou eu termino o que alguém começou. Temos que ter muita confiança no que está sendo feito por causa dos riscos que estão envolvidos.

Não percebo diferença no ambiente desde que entrei, eu acho que essa diferença foi mais vivida por aquelas que me antecederam. Lidamos muito também com pessoal terceirizado, que faz parada de manutenção, às vezes, temos um pouco mais de dificuldade. Porque eles trabalham em várias refinarias, não têm esse percentual de mulheres que tem na nossa refinaria, e aí o contato é um pouco mais difícil. Às vezes temos que nos impor, e sempre tem aquelas questões do machismo cotidiano: “tu falas uma coisa e o cara não escuta, o teu colega fala exatamente o que tu falaste, o cara escuta”, isso acontece. São dificuldades que eu acho que todas as mulheres enfrentam no mercado de trabalho e que a gente vem trabalhando nessa conscientização.


"Às vezes temos que nos impor, e sempre tem aquelas questões do machismo cotidiano" / Foto: Fabiana Reinholz

BdF RS - E há mulheres engenheiras, em cargos de chefia?

Miriam - Andou dando uma mudada nisso recentemente. Eu não sei te dizer a proporção hoje de engenheiras. No geral em engenharia química, por exemplo, tem bastante mulheres, tem bastante engenheiro químico nas refinarias, na Petrobras, mas as demais engenharias, engenharia mecânica, tem um percentual baixo de mulher no próprio curso. Eu sou engenheira mecânica inclusive, não na Petrobras, mas a minha formação é em engenharia mecânica. Como nestes cursos têm menos mulheres, em consequência têm menos mulheres na área da engenharia da empresa. Temos mulheres inclusive na alta gestão, mas não adianta nada ser mulher, chegar lá, e implementar o projeto do Bolsonaro.

BdF RS - Como que tu chegaste no sindicato?

Miriam - Eu entrei na empresa em 2007. Em 2008 teve eleição no Sindicato, na ocasião votei na oposição da gestão que estava no comando. Um ano depois me arrependi, por desconhecimento, não conhecia nada, não tinha formação política, não tinha noção de categoria, tinha 21, 22 anos. Eu pensei, “não adianta eu só ficar reclamando que eu não gosto, se eu quero mudar eu tenho que fazer a minha parte”. O Maia (presidente do Sindipetro-RS) estava montando uma chapa e eu aceitei participar da direção, mesmo sendo um período complicado para mim. Isso foi em 2011, estava grávida, e depois ainda resolvi trocar de curso, saí da licenciatura em Física e fui para a Engenharia Mecânica, fiz tudo naquele ano.

Em 2011 eu fazia licenciatura em Física, gostava e ainda gosto de Física, mas na época se falava no apagão da Engenharia, tinha construção de plataforma no Brasil, ampliação de refinaria, a Petrobras diversificava. Imaginava que teria oportunidades de concurso na Petrobras, etc. Então eu troquei de curso e entrei no Sindicato, no entanto, em 2018, quando eu me formei, já era outro cenário, completamente diferente. Em 2014/2015 com a Lava-jato começaram a destruir a indústria nacional.

Eu continuei no Sindicato, porque depois que a gente entra, começa a ter um processo de formação política, tu te conscientizas e vês outras coisas. Quando eu entrei era porque eu não concordava e achava que não adiantava só não concordar, tinha que fazer alguma coisa. E depois, o próprio processo de formação, acho que natural de quando a gente toma consciência de classe, quando a gente toma consciência política, da importância da gente buscar fazer a diferença.

BdF RS - E como é para ti, dentro desse processo do sindicalismo? Porque, de certa forma, também é um ambiente masculino, e machista muitas vezes. Como é que tu te colocas? Algumas vezes tens que assumir uma postura meio masculinizada para conseguir se impor nesses meios?

Miriam - No sindicalismo, depende da esfera. Aqui no nosso Sindicato é mais tranquilo, o pessoal é progressista nesse sentido, inclusive eles insistiram, correram atrás para eu participar porque queriam ter mulheres na direção. Mas em outras esferas já muda, já presenciei muitas situações absurdas na esfera sindical. Aqui no Sindipetro-RS queremos inclusive que na próxima eleição tenhamos mais mulheres para a gente poder vencer essas barreiras.

Pra mim, o mais difícil de ser mulher sindicalista é o acúmulo de tarefas. Tu enfrentar o ambiente é uma coisa, agora, tu sendo mulher, tu tens que te dividir em mil... E mulher tem esse negócio de não querer deixar a peteca cair em lugar nenhum. Como te falei, eu entrei em 2011 grávida, e minha filha está hoje com 8 anos. Eu sempre tendo que me dividir, porque eu estudava, ainda estudo, faço Engenharia da Segurança do Trabalho no momento. Sempre estudando, sempre trabalhando e no movimento sindical. Em determinado momento, o movimento sindical ficou mais de lado, me dediquei à faculdade, em outro momento a faculdade ficou mais de lado, dediquei-me ao movimento sindical, mas a minha filha nunca pode ficar de lado, minha família nunca pode ficar de lado.

Às vezes, como nesse período de greve, é o WhatsApp o dia inteiro, passou o dia inteiro fora, chega em casa e ainda tem demanda pelo WhatsApp. Porque para dirigente sindical a demanda é 24 horas, para a gente se desligar, para a gente poder deixar o telefone desligado, tem que ter alguém no plantão. Como a nossa categoria trabalha 24 horas, 365 dias por ano, sempre tem alguma demanda.

Hoje, antes de vir para o Sindicato, tive que colocar a roupa para lavar, fiz um monte de coisas, e quando voltar vai ter um monte de coisas me esperando. Uma coisa que me dei conta, mulher tem uma demanda mental muito elevada porque tudo a gente tem que pensar. Mesmo quando a gente divide as tarefas domésticas, a parte do planejamento sempre fica conosco, e essa carga mental é pesada.


"O mais difícil de ser mulher sindicalista é o acúmulo de tarefas" / Foto: Fabiana Reinholz

BdF RS - Vocês passaram por uma forte greve nacional, queria que tu nos falasse um pouco desse movimento e de toda essa situação que estamos vivendo de privatização da Petrobras, venda de refinarias...

Miriam - O processo que a gente está vendo na Petrobras não é diferente de outras categorias. Mas é claro que a Petrobras tem um papel especial, tem um foco especial. Acho que a própria Lava-jato demonstra isso, a sua condução e o seu papel. Eu brinco assim, várias empresas estavam envolvidas na Lava-jato, mas só uma teve o nome massacrado todas as noites no Jornal Nacional. E por que isso? Por uma questão estratégica. A Petrobras descobriu o petróleo do Pré-sal, que é a grande fronteira petrolífera que foi descoberta no mundo, e desenvolveu a tecnologia para explorá-lo. A Petrobras é a dona do sétimo maior mercado consumidor de derivados do mundo. Mesmo que não tenhamos o monopólio, a Petrobras é a empresa que abastece o Brasil, ela tem produção de petróleo, tem refinarias e tem mercado.

Qual é a empresa que não quer ter isso? Qualquer empresa, privada inclusive, quer ter isso. Mas para tirar a Petrobras da exploração do Pré-sal tu precisas enfraquecê-la. E esse processo vem sendo feito desde a Lava-jato, mais aprofundado com o golpe de 2016. Tanto que, em seguida que a Dilma saiu, eles aprovaram aquele projeto de lei que tirava a obrigatoriedade da Petrobras ser operadora no Pré-sal, e a partir daí vem o processo de desmonte para vender as refinarias, vender seus ativos, enfraquecer a Petrobras e com isso abrir o mercado, abrir o sétimo maior mercado consumidor do mundo.

A estratégia de plano de fundo é essa. Para fazer isso, os governos, na época o Temer e agora o Bolsonaro, utilizam diversas artimanhas, inclusive tentar enfraquecer a categoria. Temos uma categoria que luta pelos direitos, mas luta pela Petrobras, porque sabe que a Petrobras é o carro-chefe para a classe trabalhadora brasileira. Como eu estava falando, em 2011, com a construção de plataformas, ampliação de refinarias, desenvolvimento de tecnologia no Brasil, a Petrobras era locomotiva, gerava emprego para petroleiro, para metalúrgico, professor, geólogo. Cadê esses empregos?

A gente sabe que a Petrobras é importante para a classe trabalhadora, não só para nós petroleiros. Olha o caso da Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) no Paraná, que está sendo fechada, 396 trabalhadores próprios, mais cerca de 600 trabalhadores terceirizados, sendo demitidos, além de fechar uma fábrica importante para o Brasil. Além desse plano de fundo, a categoria já vinha indignada, porque a gente vem de um processo de retirada de direitos. Veio um ataque forte para cima da categoria no acordo coletivo no ano passado, foi uma disputa difícil que envolveu o Judiciário, entraram outros atores na nossa disputa. Vieram tantos processos de desgaste que culminou nesse 1º de fevereiro. No dia 14 de janeiro foi divulgado o fechamento da fábrica no Paraná e as mil demissões, mais o acúmulo de todo esse processo, a categoria decidiu pela greve.

Acabamos crescendo nessa greve, porque cada dia que passava, tanto a empresa, quanto o próprio Judiciário, iam inflamando os trabalhadores pela conduta que estavam tendo, com a aplicação de multas. Em dezembro, tentamos fazer uma greve, não conseguimos porque já foi declarada abusiva antes de começar. Tudo isso vem elevando o descontentamento. É uma questão de sobrevivência, a empresa está sendo vendida, a insegurança é muito grande. Além disso, a retirada de direitos é constante.

Acabou sendo uma grande greve, uma greve forte, uma greve que mobilizou 21 mil trabalhadores em todo o Brasil. Os desdobramentos dela ainda não acabaram, porque suspendemos o movimento, fomos para mediação no TST, está tudo muito turbulento ainda, estamos avaliando os resultados dessa mediação. Mas com certeza foi uma das grandes greves que a gente fez, em defesa dos empregos. Acho que isso foi o que mais motivou o pessoal, os nossos colegas serem demitidos sumariamente. A empresa chegar e dizer “estou fechando, em 30, 60, 90 dias vocês estão todos demitidos”. Sendo que eram 396 trabalhadores próprios, com um acordo coletivo que diz que não pode ser simplesmente demitido, no mínimo, tinha que ter uma negociação sobre as demissões.

Lógico que a gente não queria nenhuma demissão, nem dos próprios, nem dos terceirizados. Do ponto de vista estratégico da Petrobras, que ela não fechasse aquela fábrica, uma fábrica importante para o país, importante na geração de empregos, para fornecimento de ureia. Agora o Brasil vai ser totalmente dependente da importação de ureia, o “celeiro” do mundo, como gostam de dizer. O Brasil é o celeiro do mundo, dependente da importação de ureia, principal fertilizante que se usa nas plantações, que estratégia de soberania é essa? A gente não entende.

A gestão da empresa implementando várias medidas unilaterais, demitindo funcionários, descumprindo o acordo coletivo, a categoria estava com a indignação “entalada na garganta”. Por isso, que essa greve foi tomando corpo, foi crescendo dia a dia, cada vez mais unidades iam entrando em greve.


"Acabou sendo uma grande greve, uma greve forte, uma greve que mobilizou 21 mil trabalhadores em todo o Brasil" / Foto: Fabiana Reinholz

BdF RS - A Refap também está na lista das empresas a serem vendidas...

Miriam – Sim, está na lista. Inclusive, no passado, já foi Refap S.A. Quando eu entrei foi na Refap S.A, ela era 70% Petrobras e 30% Repsol. Em 2008, quando teve aquele preço absurdo do petróleo, a Repsol queria hibernar a refinaria. Não queria investir na ampliação. De 2008 para 2014 foi feita uma ampliação para melhorar a qualidade de combustível. Não aumentou a produção, mas melhorou a qualidade do produto e a Repsol não queria fazer isso, não queria investir na refinaria para se adequar às novas necessidades do combustível limpo. Pela Repsol nós tínhamos fechado. Esse foi um dos motivos pelo qual a Petrobras recomprou aqueles 30% da Repsol em 2010, e em 2012 fomos incorporados novamente à Petrobras como uma unidade operacional.

Esse projeto que eles tentaram implementar em 2002, quando foi vendida, inicialmente a Refap ficou na gaveta e no primeiro momento foi reapresentado. Então, no governo Temer ainda eles quiseram vender o pacote região Sul que seria a Refap e os seus terminais e Repar e seus terminais. Não conseguiram por uma série de coisas, inclusive pela própria influência da greve dos caminhoneiros. Teve uma influência importante porque naquela época o Pedro Parente praticava reajuste diário do preço dos combustíveis, começou a ficar insustentável para os caminhoneiros. Embora aquele movimento tenha sido um movimento controverso, tiveram vários elementos ali, mas foi um elemento também importante para barrar a venda naquele momento.

Mudou o governo e eles resolveram tentar de outro jeito. Decidiram vender refinaria por refinaria, e agora, das 13 refinarias, oito estão à venda. Uma entrega total! O projeto é abrir o Pré-sal para a exploração estrangeira e abrir o sétimo maior mercado consumidor de derivados, esse é o projeto.

Essa venda de refinarias só vai trazer perdas, tanto para o Brasil, quanto para o Rio Grande do Sul, no caso da Refap. Nós sabemos, não tem como nenhuma outra empresa vir aqui e cobrar menos pelo combustível. Essa refinaria já está paga, qualquer empresa que comprar a refinaria, vai ter que reaver o valor que está pagando, isso se faz aumentando o preço. E sem contar que somos extremamente eficientes, o nosso custo de refino é um dos mais baixos do mundo.

Durante a greve, fizemos ações como a do preço justo do GLP, que foi muito bacana. Nossa categoria se envolveu muito, conseguiu se envolver com a comunidade, conversar e dizer que só a gente elevando as cargas das refinarias é que se pode cobrar menos. Estamos trabalhando com as cargas da refinaria abaixo da capacidade para poder viabilizar a importação de combustível. Foi uma ação muito legal, foi a primeira vez que fizemos. A nossa categoria participou diretamente em Canoas e Esteio, e ainda foi feito uma outra em Erechim, com o apoio dos movimentos sociais lá do município.


"Essa venda de refinarias só vai trazer perdas, tanto para o Brasil, quanto para o Rio Grande do Sul, no caso da Refap" / Foto: Fabiana Reinholz

BdF RS - Como tu avalias a luta e a importância das mulheres nesse contexto?

Miriam - As mulheres são uma das primeiras linhas de frente que o governo tenta atacar, porque mulher trabalhando demanda o Estado, tem que ter creche, por exemplo. Para eles, o mais cômodo seria que a mulher ficasse em casa fazendo trabalho doméstico que aí não demandaria o Estado. Isso falando apenas da questão da mulher no mercado de trabalho. Mas, o atual governo tem muitas outras pautas que atacam os direitos das mulheres. Precisamos cada vez mais da nossa consciência, consciência do feminismo em si. Temos que demonstrar que estamos na luta e que vamos resistir, que no mínimo nos espaços que conquistamos não vamos retroceder.

 

 

Edição: Marcelo Ferreira e Katia Marko