Rio Grande do Sul

Educação na pandemia

Diretores e vice-diretores de escolas do RS têm salários praticamente zerados

Contracheques de dezembro vieram com descontos referentes ao mês de outubro; Professores suspeitam de retaliação

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Escolas do estado estiveram fechadas por segurança sanitária, mas mantiveram diversas formas de atendimento às famílias - Reprodução

O contracheque do mês de dezembro de diversos diretores e vice-diretores de algumas escolas do estado do Rio Grande Do Sul vieram com descontos que retiraram a maior parte de seus salários. Os descontos são retroativos, referentes ao mês de outubro, com a justificativa de que seriam devido a faltas não justificadas.

Em contato com a redação do Brasil de Fato RS, a professora Neiva Inês Lazzarotto, que atualmente é vice-diretora do Colégio Emílio Massot, da Capital, informou que seu contracheque foi um dos que veio com um desconto que praticamente zerou seu salário. Segundo a professora, a suspeita é que tenha sido uma tentativa de intimidação e retaliação do governo gaúcho aos diretores de escolas que estiveram à frente do processo de lutas do último período, quando as escolas precisaram se mobilizar para atender a comunidade no regime híbrido de atendimento (à distância e presencial), em meio a falta de ajuda do governo e tentativas do governo de retomar as aulas presenciais. Também foi neste período que as entidades que representam os trabalhadores da educação no estado tiveram como lema a palavra de ordem "Escolas Fechadas, Vidas Preservadas". Mesmo sem receber os estudantes, as equipes educacionais realizaram entregas de cestas básicas e de atividades impressas, bem como acompanhamento online dos estudantes que estavam no ensino à distância.

Segundo a professora: "Após recebermos os contracheques com descontos, alguns colegas entraram em contato com a 1° Coordenaria Regional de Educação (CRE). Foi informado que o acontecido foi um erro e que nosso salário será pago em uma folha suplementar. Mas é muito estranho que esse erro tenha acontecido somente com certas direções. Na minha escola, por exemplo, apenas eu, que sou a vice, fui descontada, minha diretora não foi".

A professora chama atenção ainda para o fato deste "erro" ter descontado justamente o mês de outubro. A desconfiança se justifica pois, neste mês, diversos diretores perceberam pessoas fotografando a entrada das escolas do estado: "Disseram que as escolas estavam fechadas, fomos chamados pela CRE. Naquela ocasião, o jurídico da Coordenadoria apresentou uma ata com as fotos, questionando o motivo delas estarem fechadas se havia sido determinada a reabertura", relata Neiva.

Ainda sobre esta ocasião, a professora conta que foram cerca de 30 direções de escolas convocadas, que fizeram a defesa de que as escolas não estavam fechadas e que o atendimento estava de plantão, porém com as portas fechadas, por segurança sanitária: "Nós estávamos na escola, minha Diretora inclusive, viu o fotógrafo pelas câmeras de segurança da escola. Ele nem chegou a ir até o portão, senão ele teria visto que a escola estava funcionando. Nenhuma família ficou sem atendimento". Para comprovar a atividade nas escolas durante a pandemia, os professores podem apresentar as listas com contatos de pais e estudantes, bem como as conversas, atividades e avaliações feitas durante o período. Segundo a professora, para as pessoas que foram até as escolas fotografar as entradas, bastaria terem tocado a campainha ou batido nos portões, assim como vêm fazendo as famílias e estudantes, para comprovar que havia atividade ali, o que não foi feito.


Contracheque de vice-diretora de escola, que teve desconto referente a 31 dias de faltas não justificadas no mês de outubro, sendo que a professora esteve todos esses dias trabalhando na escola / Reprodução

A opinião da professora é que esse desconto se trata de um assédio moral do governo contra os diretores, como forma de intimidação. Na sua escola, por exemplo, relata, foram feitos plantões quase todos os dias, mantendo o atendimento às famílias que estavam com os estudantes em regime de ensino à distância: "Achamos que eles possam ter selecionado alguns para servir de caso exemplar. Este novo coordenador que assumiu a CRE está tentando neutralizar as direções que apresentam resistência. Entrei em contato com um colega de uma região em que ele já foi coordenador, fui informada que ele tem uma visão empresarial da educação, que não visita às escolas, mas que determina ordens para serem cumpridas".

O atual coordenador da 1° CRE é Alaor Baptista Chagas, que até setembro comandava a 25° CRE, com sede na cidade de Soledade. 


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Edição: Katia Marko