Rio Grande do Sul

Contra o racismo

‘Não nos calarão’: vereadores da bancada negra lideram ato contra ameaças de morte

Ato contra violência política foi marcado após e-mail com ameaças de morte direcionado a vereadoras

Sul 21 |
Vereadoras e vereador na Esquina Democrática na tarde desta sexta (10) - Foto: Luíza Castro/Sul21

Os vereados Matheus Gomes (PSOL), Karen Santos (PSOL), Daiana Santos (PCdoB), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Laura Sito (PT), que compõem a bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, participaram de um ato no início da tarde desta sexta-feira (10) chamando atenção para as ameaças que vêm sofrendo e pelo fim da violência política.

Na segunda-feira (6), Karen e Daiana foram ameaçadas de morte em um e-mail enviado aos cinco integrantes da bancada. O e-mail é supostamente assinado por um homem branco que moraria no Rio de Janeiro. Ele diz que vai “comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho e uma passagem só de ida para Porto Alegre”, onde mataria, na própria Câmara Municipal, as duas vereadoras e quem mais estivesse com elas. No dia seguinte, as duas, Laura e Matheus estiveram na delegacia de crimes cibernéticos de Porto Alegre para denunciar as ameaças de morte recebidas.

Nesta sexta, representantes da bancada negra participaram do ato ao lado de representantes de seus partidos e de movimentos sociais.

“É simbólico que nós estejamos precisando fazer essa denúncia na semana mundial de defesa dos direitos humanos”, disse Laura Sito. “Eles querem nos aniquilar, nos interromper da política. É isso que estava escrito naquele e-mail direcionado especialmente às companheiras Daiana e Karen, mas a toda a bancada negra. Eles querem nos silenciar, mas não combinamos de não morrer, de não ficarmos quietos”, disse Laura Sito.

Em sua fala, Karen Santos pontuou que o e-mail com as ameaças foi explicitamente racista, mas que a bancada negra e as comunidades periféricas de Porto Alegre sofrem os reflexos de um projeto econômico racista que governaria a cidade.

“Tem uma corrente de pensamento que cotidianamente diz que tudo que a gente debate na Câmara de Vereadores é mimimi, é vitimismo, que o racismo não existe. Nesse sentido, o e-mail que nós recebemos tem um conteúdo explicitamente racista e, para nós, que estamos no dia a dia lá tentando explicar por A mais B que o racismo existe, é um baita dum gol contra. Porque eu prefiro muito mais o racismo explícito, que mostra a sua cara, do que esses que cotidianamente retiram direitos das nossas comunidades, nos agridem violentamente nos nossos protestos e se sentem muito confortáveis de subir naquela tribuna e dizer que não são racistas. Isso é uma discussão que nós estamos fazendo ao longo desse governo, o racismo não é simbólico, não se limita a essa representatividade que está colocada aqui hoje, ele é um projeto econômico”, diz.

Já Daiana Santos pontuou que, além de racista, o ataque sofrido teve um componente de homofobia. “Essa foi uma violência racista, mas também lesbofóbica e LGBTfóbica. Porque eles não suportam ver corpos da diversidade, a pluralidade, ocupando esses lugares. Isso precisa estar aqui levantado e falo isso sentindo na pele essa violência, num País onde matam, todos os dias, de morte muito violenta, LGBTs, pessoas que decidem não agir diante da família, da pátria e de deus. Que Exu abra o caminho, família é a gente que escolhe e a pátria nós vamos construir”, disse.

Bruna Rodrigues destacou que as ameaças sofridas são um reflexo da violência política que a bancada negra vivencia rotineiramente na Câmara de Vereadores. “Mais um dia que a gente se encontra para falar de um ataque à nossa existência. Eu ficava aqui me perguntando o que nós fizemos de tão grave para que a gente tivesse que se defender ou lutar para sobreviver todo o tempo. Toda segunda, quarta e quinta, na Câmara de Vereadores, vocês podem acompanhar o massacre que acontece. Foi um e-mail que expressa de forma mais evidente essa raiva, o ódio que eles têm da nossa existência, mas isso acontece toda a segunda, quarta e quinta na Câmara”, disse. “Eu tenho certeza que nenhum dos vereadores ou das vereadoras brancos da Câmara têm medo de não criar os filhos. Eu tenho que reafirmar todo dia para a minha filha que eu vou voltar para a casa”.

Os vereadores também se manifestaram por meio das redes sociais após o ato. “Não vamos negociar nossas liberdades democráticas. Nenhum ataque ou ameaça vai fazer com que nós deixemos de lutar em defesa da população negra e periférica de Porto Alegre e de lutar contra o racismo”, disse Matheus Gomes.

Na quarta-feira (8), a Mesa Diretora da Câmara manifestou, em nota, “repúdio e preocupação com as mensagens de ameaças e ofensas extremamente desrespeitosas e covardes dirigidas a parlamentares”. “Este Legislativo rejeita qualquer forma de intimidação ou manifestação de violência contra seus integrantes. Aqueles que atentarem contra a Casa do Povo serão submetidos ao rigor da lei e responsabilizados por seus atos. Todas as providências foram tomadas no sentido de garantir e ampliar a segurança de todos que frequentam o Palácio Aloísio Filho, sede da Câmara Municipal de Porto Alegre”, diz a nota.

Edição: Sul 21