Rio Grande do Sul

PORTO ALEGRE

Polícia encontra explosivos na casa do homem preso pelo feminicídio de Débora Moraes

Objetos foram encontrados durante mandado de busca e apreensão da investigação do assassinato da liderança do MAB

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Explisivos com capacidade lesiva, semelhante a uma “granada” de fabricação artesanal, foram acionados no local pelo BOPE e Bombeiros - Foto: Polícia Civil/Divulgação

A Polícia Civil encontrou dois artefatos explosivos caseiros na residência do homem que está preso pelo feminicídio contra Débora Moraes, liderança do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) da capital gaúcha. Os objetos foram encontrados durante mandado de busca e apreensão no bairro Medianeira, nesta sexta-feira (30), por meio da 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre.

Por esse motivo, o local foi isolado e houve o acionamento do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e Bombeiros para a verificação dos objetos. Para a constatação preliminar de potencialidade explosiva, os dispositivos foram, de acordo com os procedimentos especializados do BOPE, acionados no local. Assim, confirmou-se que se tratava de dois artefatos explosivos caseiros, com capacidade lesiva, semelhante a uma “granada” de fabricação artesanal.

O homem é ex-marido da vítima e o mandado executado neste sexta se deu em decorrência da investigação de crime de feminicídio consumado ocorrido no dia 12 de setembro. Na ocasião, a vítima foi encontrada sem vida em sua residência, aparentemente por enforcamento. O suspeito foi preso em flagrante no local e permanece preso preventivamente desde então.

Ao G1 RS, a delegada Cristiane Ramos disse que o homem será interrogado em relação aos explosivos.

Relembre o caso de feminicídio


Débora Moraes era moradora da Vila dos Herdeiros, na região da Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre / Foto: Divulgação MAB RS

Débora Moraes era coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Segundo o movimento, que repudiou o crime e luta por justiça, ela era “incansável na luta pelos direitos dos atingidos pela barragem da Lomba do Sabão” e foi muito presente na primeira fase de reassentamento dos atingidos e na intermediação com os órgãos públicos responsáveis. Ela deixou uma filha de 6 anos. Há uns 8 anos, havia perdido outra filha com 9 anos em um acidente de trânsito.

Conforme a 1ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre, o homem preso em flagrante foi indiciado por feminicídio. Ele ligou para o Samu informando que a vítima tinha cometido suicídio, mas os socorristas chamaram a polícia que identificaram inconsistências na afirmação do suspeito.

Movimentos sociais realizaram protestos pedindo Justiça para Débora, em Porto Alegre o no Rio de Janeiro. No ato na capital gaúcha, uma comitiva de representantes, incluindo familiares de Débora, protocolou um documento junto à Procuradoria da Mulher da ALRS. O documento foi entregue à presidência da Casa, para que mais atitudes sejam tomadas a fim de evitar a onda de feminicídios no estado.

A carta contém a nota do MAB sobre o acontecido e denuncia a inexistência de secretarias especializadas no tema dos direitos das mulheres, nas atuais gestões do município de Porto Alegre e do estado. Nos últimos anos, de acordo com o relatório da Força-Tarefa de Combate aos Feminicídios do RS, o Rio Grande do Sul está entre os estados brasileiros onde mais foram consumados feminicídios. Foi o terceiro no ranking em 2019, com 97 casos, e o quarto em 2020, com 80 casos. Já em 2021, foram 97 mulheres assassinadas no estado e, neste ano, até 14 de junho, já foram registrados 50 casos.

De acordo com o Observatório Estadual de Segurança Pública, da Secretaria de Segurança Pública (SSP), até agosto, 75 mulheres foram vítimas de feminicídios no estado. Este é o maior número de casos de feminicídio de janeiro a agosto desde que a série passou a ser registrada, em 2012. A Lupa Feminista Contra o Feminicídio conta 76 feminicídios desde o início de 2022.

Edição: Marcelo Ferreira