RELIGIOSIDADE

Milhares de fiéis acompanham procissão de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre

A imagem da santa foi carregada por remadores num trajeto de cinco quilômetros na manhã deste 2 de fevereiro

Walmaro Paz

Brasil de Fato | Porto Alegre |

02 de fevereiro de 2024 às 18:27

A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes sai da Igreja do Rosário (antiga Igreja dos Negros) no Centro Histórico e é levada até a Igreja dos Navegantes - Foto: Jorge Leão

Milhares de pessoas acompanharam, na manhã desta sexta-feira (2), a maior festa religiosa da capital gaúcha, a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes. Esta devoção que foi trazida pelos colonizadores açorianos foi abraçada pelos moradores de Porto Alegre, desde os de origem indígena, os afrodescendentes, enfim em toda a população trabalhadora.

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Políticos e autoridades compareceram ao evento, entre eles o prefeito Sebastião Melo (MDB), as deputadas federais Maria do Rosário (PT/RS) e Reginete Bispo (PT/RS) e o deputado estadual Adão Pretto (PT).

As cores utilizadas pelos fiéis mais devotos são o azul e o branco, as mesmas do orixá Iemanjá, celebrado no mesmo dia pelas religiões de matriz africana / Foto: Jorge Leão

A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes é carregada por remadores num trajeto de cinco quilômetros, que são seguidos por milhares de devotos anualmente. Ela sai da Igreja do Rosário (antiga Igreja dos Negros) no Centro Histórico e é levada até a Igreja dos Navegantes, junto ao acesso da Ponte do Guaíba. Lá foi celebrada uma missa ao ar livre pelo arcebispo Dom Jaime Spengler, acompanhado de outros bispos e sacerdotes.

Simultaneamente, outra procissão por água, em barcos de pescadores, saia da Ponta do Gasômetro em direção à Ilha da Pintada, também com grande acompanhamento de fiéis. As cores utilizadas pelos fiéis mais devotos são o azul e o branco, as mesmas do orixá Iemanjá, celebrado no mesmo dia pelas religiões de matriz africana.

O ex-governador Olívio Dutra acompanha o evento todos os anos / Foto: Jorge Leão

A grande fé popular se expressa nos depoimentos dos caminhantes. A começar pelo ex-governador Olívio Dutra, que diz sempre ter sido devoto e ter participado do evento. Ele destaca a expressão não só da religiosidade do povo, "mas da integração do povo das diferentes crenças, religiões e que tem na Nossa Senhora dos Navegantes, Iemanjá e outras divindades expressões de uma relação do ser humano com um mundo que possa ser sonhado de igualdade, fraternidade e divisão da renda e da riqueza e lutar por isso no plano real da vida".

Olívio lembrou ainda que a festa se dá nos espaços públicos onde as pessoas transitam todos os dias para o trabalho e para a casa em conduções sempre com dificuldade. "Peguei um ônibus superlotado. Mas o povo veio muito contente como sardinha em lata naquele ônibus. Aliás, não é muito diferente do que eles sofrem com o transporte coletivo. Então, vindo aqui, prestar homenagem a Nossa Senhora dos Navegantes tenho certeza que eles se reenergizam para a luta cotidiana e também tem uma relação comunitária, isto é fundamental para o povo não ser joguete, não perder a sua identidade, as suas raízes. Os povos originários, as pessoas vindas como escravos para cá séculos atrás e os seus descendentes. Uma relação muito rica propiciada pela romaria de Nossa Senhora dos Navegantes", comenta.

Pindaré é morador da zona Sul de Porto Alegre / Foto: Jorge Leão

Morador da zona Sul de Capital, André Luiz Pindaré conta que há 12 anos participa da procissão. "Venho em agradecimento devido à saúde de familiares, cumprir promessas por gratidão, pela minha vida, pelas minhas conquistas e também por amor a esta grande senhora, Nossa Senhora dos Navegantes, que é aquela mãe que nos acolhe nos momentos de angústia, tristeza e que sempre traz aquele acalento. Em cada procissão que a gente vai se sente acolhido como num colo de mãe", conta.

Ferreira fez promessa pela saúde do filho / Foto: Jorge Leão

Luiz Alberto Ferreira, que mora na Lomba do Pinheiro, um bairro da zona Leste da cidade, conta que acompanha a procissão desde que seu filho ficou muito doente. "Fiz uma promessa e meu filho ficou curado. Desde então nossa família acompanha a procissão todos os anos", afirma.

Jesus era atleta do Grêmio Náutico União e desde jovem acompanha a santa / Foto: Jorge Leão

Já com uma certa idade, Jesus Nercy de Souza, de Porto Alegre, disse que acompanha a procissão desde criança. "Aos 14 anos eu tive a felicidade de ser atleta do Grêmio Náutico União, clube de regatas onde eu treinava. A santa é uma crença que a gente tem e eu posso dizer que ela me ajudou e muito em algumas coisas e por isso continuo com esta devoção, com o sentimento de que ela sempre me ajudou e está me ajudando", conta.

A fé do povo é criativa / Foto: Jorge Leão

Milhares caminharam sob o sol / Foto: Jorge Leão

O dia 2 de fevereiro, em que são feitas homenagens à Nossa Senhora dos Navegantes e à Iemanjá, é feriado em Porto Alegre e em mais 36 cidades do Rio Grande do Sul. Nesses municípios, a maioria das repartições de serviços públicos estão fechadas. Na segunda-feira (5), as atividades serão retomadas normalmente.

Cidades do RS onde houve celebração

Amaral Ferrador, Barra Ribeiro, Barra Funda, Cachoeirinha, Camaquã, Campinas do Sul, Canoas, Capivari do Sul, Charqueadas, Dona Francisca, Eldorado do Sul, Guaíba, Jaguarão, Manoel Viana, Muçum, Nova Santa Rita, Palmares do Sul, Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Porto Alegre, Porto Lucena, Porto Xavier, Rio Grande, Rio Pardo, Rodeio Bonito, Ronda Alta, Salto do Jacuí, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte, São Lourenço do Sul, Sobradinho, Tapes, Torres, Tramandaí, Triunfo e Vicente Dutra.

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Procissão de Navegantes 2024 em Porto Alegre / Foto: Jorge Leão